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sábado, 16 de fevereiro de 2019

Crónica de Maus Costumes 119



Juventude, Irreverência e Uma Dose de Loucura

                Em conversa cá de casa, recordava os tempos de juventude, já início de vida adulta e laboral, a propósito de exporem as minhas idiossincrasias. Costumo dizer que já fui bem pior, ainda que os traços distintivos permaneçam e amadureçam, vincando-se de outro modo, fruto do tempo.
                A irreverência da juventude associada à santa ingenuidade de acreditar piamente que sempre tudo corre bem é agora, à distância de duas décadas, verdadeiramente assustador. O que mudou? Sou mãe e a consciência e noção dos perigos agudizam-se sobremaneira.
                Não adianta, porque os filhos farão o seu trajeto como nós fizemos o nosso, sem pedir permissão e omitindo-nos pormenores que só nos agastariam e tirariam o sono e, como tal, é bem melhor permanecer na ignorância. A consciência é terrível!
                A minha parceira de fado já pagou a sua parte, uma vez que um dos filhos já é um jovem adulto e sabe bem como é difícil.
                Apesar da leveza que a tenra idade aportava, a responsabilidade nunca deixou de estar  presente. As metas a atingir e que tinham de ser cumpridas para não sobrecarregar os progenitores eram presença constante, porém, sobrava tempo para tudo! Na juventude, o tempo sobeja e parece sempre largo. A velhice é algo muito distante e a morte só acontece aos outros… Há uma sofreguidão de vida e de experiência que, com critério de seleção, como convém, tudo quer abarcar. Em mim, a sede de vida persiste, mas o tempo, essa unidade de medida tão castradora já não é assim tão longínqua. Subitamente, apercebemo-nos de que talvez metade do trajeto esteja feito e que tudo passou tão rapidamente! Olha-se para o que ainda se quer fazer e fica-se com a ideia de que o tempo pode não ser suficiente. Gastamos as nossas energias em tarefas de que muitas vezes não gostamos, que nos sugam as emoções e que depois não deixam disposição emocional para se cumprir com o que verdadeiramente nos apraz fazer. O tempo que é já tão pouco e tão continuamente desperdiçado!…
 Empurra-se tudo com a barriga e o que é de facto premente fica sempre para depois.
                Às vezes, sou acusada de má gestão do tempo, de priorizar coisas que deveriam ficar para mais tarde. São ainda resquícios de uma juventude que não morreu por completo e uma forma, talvez infrutífera, de mostrar à vida que ainda tenho uma palavra a dizer e que se me apetecer alterar a ordem das coisas, mesmo que transtorne a realidade sempre alinhadinha e arranjadinha, sou bem capaz de o fazer. Neste momento, seria bem mais avisado estar a corrigir mais uns trabalhos, mas como detentora de livre-arbítrio (bem menos do que o que gostaria) decidi que seria bem mais importante a escrita destas linhas que, em abono da verdade, não terão importância nenhuma. De qualquer forma, apeteceu-me e eu ainda mando alguma coisa!
                Desconfio que é a mesma dose de loucura que me meteu, juntamente com a amiga, num carro alugado por outro turista continental, que desconhecíamos, para descobrir S. Jorge. O pobre, quando se deu conta, foi despojado do volante e ia sentado no banco de trás, porque a regra era sempre que uma conduzisse, a parceira de alegrias ia no lugar do morto. Sem lugar para discussões. Ficamos todos a ganhar: ele com a companhia de miúdas divertidas e nós que passeamos pela ilha sem desembolsar um tostão. No final, jantar e um bom resto de férias! Evidentemente que o indivíduo não era nenhum Mike Tyson (felizmente!) e parecia gente de bem, mas… O que dizer? Ingenuidade de quem ainda desconhece o cinismo da vida… Porém, sem riscos, a existência também é bem menos atrativa…



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