Simplesmente mãe
Sou
mãe e como a maioria das mães amo profundamente, incomensuravelmente e
irremediavelmente os meus filhos. Porém, a minha individualidade não se esgota
neles, muito pelo contrário, impõe-se para além deles.
Assim,
não sou o tipo de mulher que gostaria de ficar em casa para tratar das crias. Enquanto
são muito pequenos, até à idade dos três anos, admito que sim, que poderia dar
jeito, pelo menos um horário mais reduzido, mas a partir do momento em que eles
entram na escola, começam a ganhar a sua autonomia e a reconhecer-se também no
outro, não me deixaria seduzir por levá-los à escola e regressar serenamente a
casa, onde prepararia tudo muito bem para os receber de volta.
Preciso
mais do que isso. A minha individualidade enquanto mulher é sagrada. Deste
modo, necessito do meu trabalho, da minha escrita, da minha corrida, dos meus
amigos e do meu espaço sagrado a sós, refugiada comigo mesma, para manutenção
do meu estado de sanidade mental. Se não tivesse tudo isto, não poderia ser
feliz e uma mãe infeliz não faz ninguém feliz.
É
assim que me protejo, quando sou invadida por um daqueles pensamentos invasivos
que nos deixam cheias de culpa pelo acompanhamento que não se conseguiu dar,
pela vida demasiado agitada e corrida e que não permitiu ter o melhor
acompanhamento na seleção da roupa ou do recado que ficou por assinar ou de
algo que era suposto enviar e se esqueceu. Aprendi a desvalorizar, a saber que
sou quase perfeita, mas que ainda não atingi a perfeição, a deixar que os
filhos se tornem um pouco mais autónomos e se responsabilizem pelas suas
coisas. Nem sempre corre bem? Evidentemente que não. É um processo de
aprendizagem em que estamos todos envolvidos e aprende-se com os erros e não
com as proezas.
No
entanto, sou a mãe que ao deitar lhes confessa ao ouvido o amor que lhes tem. Sou
a mãe que eles exigem que os vá deitar e aconchegar e a quem gritam, se me
finjo de esquecida, “o meu beijo de boa-noite?!” Sou a mãe a quem o Rodrigo
pergunta se algum dia fosse preso se o iria visitar à cadeia… A mesma mãe que
olha para ele com orgulho, por ver que aos onze, ainda que dúvidas ao alcance
da sua tenra idade, já revela inquietação existencial. A essa pergunta, a mãe
responde que ficaria dilacerada se tivesse que o ir visitar à prisão, mas que provavelmente
o faria, porque o amor desta mãe é inesgotável. A mesma mãe que se interroga se
amaria um filho psicopata, incapaz, por defeito biológico, de sentir amor ou
compaixão, quando tudo o que quer é criar os filhos no e para o amor.
Uma mãe
que ama incondicionalmente os filhos, apesar de todos os gritos que os senhores
psicólogos insistem que não se devem dar, das mil e uma ameaças e ao cabo de
tanto nervo, lá sai uma que é efetivamente cumprida e desliga-se a televisão ou
confisca-se o tablet insuportável, sempre com o volume no máximo!
Uma
mãe que sendo imperfeita é absolutamente perfeita à medida dos filhos que tem!
Nina
M.
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