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sábado, 13 de outubro de 2018

Crónica de Maus Costumes 102


 Simplesmente mãe

Sou mãe e como a maioria das mães amo profundamente, incomensuravelmente e irremediavelmente os meus filhos. Porém, a minha individualidade não se esgota neles, muito pelo contrário, impõe-se para além deles.
Assim, não sou o tipo de mulher que gostaria de ficar em casa para tratar das crias. Enquanto são muito pequenos, até à idade dos três anos, admito que sim, que poderia dar jeito, pelo menos um horário mais reduzido, mas a partir do momento em que eles entram na escola, começam a ganhar a sua autonomia e a reconhecer-se também no outro, não me deixaria seduzir por levá-los à escola e regressar serenamente a casa, onde prepararia tudo muito bem para os receber de volta.
Preciso mais do que isso. A minha individualidade enquanto mulher é sagrada. Deste modo, necessito do meu trabalho, da minha escrita, da minha corrida, dos meus amigos e do meu espaço sagrado a sós, refugiada comigo mesma, para manutenção do meu estado de sanidade mental. Se não tivesse tudo isto, não poderia ser feliz e uma mãe infeliz não faz ninguém feliz.
É assim que me protejo, quando sou invadida por um daqueles pensamentos invasivos que nos deixam cheias de culpa pelo acompanhamento que não se conseguiu dar, pela vida demasiado agitada e corrida e que não permitiu ter o melhor acompanhamento na seleção da roupa ou do recado que ficou por assinar ou de algo que era suposto enviar e se esqueceu. Aprendi a desvalorizar, a saber que sou quase perfeita, mas que ainda não atingi a perfeição, a deixar que os filhos se tornem um pouco mais autónomos e se responsabilizem pelas suas coisas. Nem sempre corre bem? Evidentemente que não. É um processo de aprendizagem em que estamos todos envolvidos e aprende-se com os erros e não com as proezas.
No entanto, sou a mãe que ao deitar lhes confessa ao ouvido o amor que lhes tem. Sou a mãe que eles exigem que os vá deitar e aconchegar e a quem gritam, se me finjo de esquecida, “o meu beijo de boa-noite?!” Sou a mãe a quem o Rodrigo pergunta se algum dia fosse preso se o iria visitar à cadeia… A mesma mãe que olha para ele com orgulho, por ver que aos onze, ainda que dúvidas ao alcance da sua tenra idade, já revela inquietação existencial. A essa pergunta, a mãe responde que ficaria dilacerada se tivesse que o ir visitar à prisão, mas que provavelmente o faria, porque o amor desta mãe é inesgotável. A mesma mãe que se interroga se amaria um filho psicopata, incapaz, por defeito biológico, de sentir amor ou compaixão, quando tudo o que quer é criar os filhos no e para o amor.
Uma mãe que ama incondicionalmente os filhos, apesar de todos os gritos que os senhores psicólogos insistem que não se devem dar, das mil e uma ameaças e ao cabo de tanto nervo, lá sai uma que é efetivamente cumprida e desliga-se a televisão ou confisca-se o tablet insuportável, sempre com o volume no máximo!
Uma mãe que sendo imperfeita é absolutamente perfeita à medida dos filhos que tem!
Nina M.

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