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sábado, 21 de junho de 2025

Crónica de Maus Costumes 426

 

Mesquinhez e egos

               Todo o local de trabalho onde seja necessário lidar com pessoas, especialmente, muitas pessoas, pode tornar-se hostil para muitos, principalmente, para os mais sensíveis.

               Viver bem com o outro, no local de trabalho, implica uma grande capacidade de empatia, a faculdade de olhar o horizonte, bem mais longínquo do que o umbigo de cada um e a humildade de saber que não será nem melhor nem mais fundamental do que o outro, que cada um cumpre o seu papel e que a cooperação é sempre melhor do que a competição. Esta só deverá existir no desporto e com tino, porque até aí, demasiadas vezes, a coisa corre para o torto…

               Acontece que, no mundo laboral, a ganância é muita e para se ganhar dinheiro é preciso produzir muito. Quanto mais um funcionário produzir, mais lucra a empresa e, portanto, instigar a competição entre os funcionários, com incentivos remuneratórios para o mais produtivo, logo, mais útil, é uma estratégia benéfica para a empresa, mas pode ser péssima para os funcionários, dependendo da índole de cada um. Se houver discernimento e sentido de reconhecimento do trabalho e da competência alheia, talvez, a coabitação possa ser pacífica, mas se não existir e as pessoas forem de rancores, o ambiente fica contaminado, mesmo havendo uma polida capa de verniz, mas que estala ao mínimo sobressalto. Há os que se consideram sempre injustiçados e os que invejam sistematicamente a sorte alheia, mesmo que a recompensa não seja por aí além… Talvez fosse, teoricamente, mais interessante e mais justo se houvesse um reconhecimento equitativo de um todo, isto é, no caso de serem atingidos determinados objetivos, todos poderem beneficiar de um prémio… A questão está na raça humana, porque mesmo desta forma, iria haver aquele que não se iria empenhar tanto e, no final, receberia o mesmo… Começaria a ser olhado de viés pelos outros que, tendo alcançado o objetivo, considerariam injusta a gratificação do calão. De modo que as relações interpessoais, no trabalho, vivem inquinadas. Creio que ninguém encontrou, ainda, a solução para resolver a questão e eu também não a tenho. Creio que focar-se mais em si e no seu trabalho sem olhar o vizinho, poderá ajudar. Quando estas tensões persistem, podem dar origem a comportamentos menos aceitáveis, por falta de lealdade para com os pares. Quantas histórias não se ouvem de coisas que as pessoas são capazes de fazer para ultrapassar os outros, não olhando a meios para alcançarem os seus fins. Não vale tudo, na vida. Não pode valer tudo e os que usam de mesquinhez para atingir os outros, até podem alcançar os seus objetivos, mas um coração tão enegrecido nunca conhecerá a paz, porque esta habita apenas nas almas despojadas. Quem nada deseja, nada perde e, portanto, sempre alcança. E viver nesta tranquilidade e com esta despreocupação é um dos maiores bens que se pode alcançar, porque atualmente, uma boa saúde mental não é apenas desejo, é privilégio.

               Que os deuses me continuem a bafejar com pouca libido para questões mesquinhas e me encham de paixão para o que vale a pena. Assim, pode ser que me continuem a surgir versos enquanto caminho, lavo pratos ou passo a ferro. Continuem a bafejar-me com o sopro da sorte, que me retira da aborrecida realidade e do mundo cruel para me permitir a emoção, sem perturbação, perante a beleza das coisas inúteis.

Bom domingo, sem mesquinhez.

 

Nina M.

 

 

 

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