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sábado, 10 de maio de 2025

Crónica de Maus Costumes 420

 

Educar para a paz

               Detenho-me a pensar sobre o mundo que deixaremos aos nossos filhos. A escalada dos conflitos violentos entre nações e a carnificina a que se assiste não pode deixar ninguém indiferente. Que mundo lhes deixaremos e para que mundo os preparamos ?

            É preciso educar para a paz. Educar para a cooperação em vez da competição, num mundo cada vez mais opressivo e sem valores. Discordo por completo de quem entende que a competição num grupo pode trazer benefícios. Não há competição saudável, mesmo quando se apregoa o inverso. A competição inspira a vontade de vencer o adversário. Vencer o adversário significa ser-se e ver-se como o mais forte, sentir-se superior. A ideia de superioridade em relação ao seu semelhante é perniciosa. Portanto, no meu ponto de vista, a única competição válida e frutífera é aquela que fazemos somente connosco. A exigência que nos impomos de sermos melhores no dia seguinte do que aquilo que fomos no dia anterior. Nesse sentido, sempre fui desprovida de ambição. Nunca pretendi nem quero fazer ou sentir-me melhor do que alguém. A única competição em que participo é comigo mesma e o meu trajeto. Os outros não são e nunca foram para aqui convocados. Viver assim traz uma paz de espírito imensa.

            A vontade de querer ser, forçosamente, o primeiro sem se reconhecer os méritos alheios geram invejas e vaidades ocas. É necessário compreender que cada ser tem as suas singularidades apreciáveis e que se cada um for capaz de as colocar ao serviço de um coletivo, a comunidade avança equilibrada e bem-estruturada. Sabê-lo não é querer tornar todos iguais ou impedir o crescimento individual. Pelo contrário, estimular esse crescimento, mas que cada um saiba que todos somos responsáveis por todos. Não se pode olhar uma criança faminta, um velhinho abandonado, as vítimas que perecem numa guerra, como acontecimentos distantes que nos são alheios. Se cada um assumisse o compromisso para com o outro, o mundo seria mais equitativo e cordial. Se encarássemos a cooperação como um dever e uma obrigação moral quer na pequenas quer nas grandes coisas,  seríamos, talvez, mais felizes…

            Talvez por isto me seja penoso ver meninos demasiadamente competitivos. Essa competição fá-los querer ser melhores e evoluir, dirão alguns. Pode ser, mas assenta no princípio errado. A motivação para ser melhor deve ser intrínseca, a competição consigo mesmo e não com o outro, porque isso não é vontade de melhorar, trata-se, apenas, da satisfação do seu ego e de vaidade vã.

O mesmo acontece com os pais que parecem exigir aos filhos aquilo que eles mesmos não foram capazes de fazer : atingir a excelência em todas as áreas, obrigando-os a uma competição destruidora, submetendo-os a uma pressão insidiosa e contraproducente. Estes pais ensinam os filhos que o seu valor enquanto ser humano depende da quantidade de cincos ou de dezoitos que a pauta apresente. Já poucos perguntam se o filho é capaz de ser gentil, de ser educado e de ser disponível para os seus colegas. Se é capaz de trabalhar e de colaborar em grupo, se é honesto nas suas apreciações, se apresenta competências socioemocionais… Ignoram estas virtudes, trocando-as pelo número que possa encher o ego (mais dos pais do que dos filhos) na pauta, sendo capazes das maiores artimanhas para alcançarem o pleno.

Seria bom que os filhos tivessem a liberdade para falhar, que não sentissem a obrigatoriedade de serem excelentes a tudo, porque ninguém atinge a excelência todos os dias, nem os maiores génios e se formos capazes de nos olhar no espelho sem máscaras, perceberemos que por detrás de uma pequena vitória haverá imensas derrotas. A nossa vida é feita de fracassos, de tropeços, de quedas e de alguma superação. Reerguer exige força e coragem, ferramenta que se aprende na derrota. É na dificuldade e na sua aceitação que o homem se faz. Quando surge, porventura, uma conquista, será um pequeno prazer, corolário de muitas frustrações.

É bom que os pequenos tenham espaço para as suas lutas e superações, que cresçam com saúde mental e seria bom que compreendessem que aprendem mais com a cooperação do que com a competição, para o respeito do outro sem a crença da superioridade. Eduquemos e eduquemo-nos para a paz.

Nina M.

 

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