Educar para a paz
Detenho-me a
pensar sobre o mundo que deixaremos aos nossos filhos. A escalada dos conflitos
violentos entre nações e a carnificina a que se assiste não pode deixar ninguém
indiferente. Que mundo lhes deixaremos e para que mundo os preparamos ?
É
preciso educar para a paz. Educar para a cooperação em vez da competição, num
mundo cada vez mais opressivo e sem valores. Discordo por completo de quem
entende que a competição num grupo pode trazer benefícios. Não há competição
saudável, mesmo quando se apregoa o inverso. A competição inspira a vontade de
vencer o adversário. Vencer o adversário significa ser-se e ver-se como o mais
forte, sentir-se superior. A ideia de superioridade em relação ao seu
semelhante é perniciosa. Portanto, no meu ponto de vista, a única competição
válida e frutífera é aquela que fazemos somente connosco. A exigência que nos
impomos de sermos melhores no dia seguinte do que aquilo que fomos no dia
anterior. Nesse sentido, sempre fui desprovida de ambição. Nunca pretendi nem
quero fazer ou sentir-me melhor do que alguém. A única competição em que
participo é comigo mesma e o meu trajeto. Os outros não são e nunca foram para
aqui convocados. Viver assim traz uma paz de espírito imensa.
A
vontade de querer ser, forçosamente, o primeiro sem se reconhecer os méritos
alheios geram invejas e vaidades ocas. É necessário compreender que cada ser
tem as suas singularidades apreciáveis e que se cada um for capaz de as colocar
ao serviço de um coletivo, a comunidade avança equilibrada e bem-estruturada. Sabê-lo
não é querer tornar todos iguais ou impedir o crescimento individual. Pelo contrário,
estimular esse crescimento, mas que cada um saiba que todos somos responsáveis
por todos. Não se pode olhar uma criança faminta, um velhinho abandonado, as
vítimas que perecem numa guerra, como acontecimentos distantes que nos são
alheios. Se cada um assumisse o compromisso para com o outro, o mundo seria
mais equitativo e cordial. Se encarássemos a cooperação como um dever e uma
obrigação moral quer na pequenas quer nas grandes coisas, seríamos, talvez, mais felizes…
Talvez
por isto me seja penoso ver meninos demasiadamente competitivos. Essa
competição fá-los querer ser melhores e evoluir, dirão alguns. Pode ser, mas
assenta no princípio errado. A motivação para ser melhor deve ser intrínseca, a
competição consigo mesmo e não com o outro, porque isso não é vontade de
melhorar, trata-se, apenas, da satisfação do seu ego e de vaidade vã.
O mesmo acontece
com os pais que parecem exigir aos filhos aquilo que eles mesmos não foram
capazes de fazer : atingir a excelência em todas as áreas, obrigando-os a
uma competição destruidora, submetendo-os a uma pressão insidiosa e
contraproducente. Estes pais ensinam os filhos que o seu valor enquanto ser
humano depende da quantidade de cincos ou de dezoitos que a pauta apresente. Já
poucos perguntam se o filho é capaz de ser gentil, de ser educado e de ser disponível
para os seus colegas. Se é capaz de trabalhar e de colaborar em grupo, se é
honesto nas suas apreciações, se apresenta competências socioemocionais…
Ignoram estas virtudes, trocando-as pelo número que possa encher o ego (mais dos
pais do que dos filhos) na pauta, sendo capazes das maiores artimanhas para alcançarem
o pleno.
Seria bom que os
filhos tivessem a liberdade para falhar, que não sentissem a obrigatoriedade de
serem excelentes a tudo, porque ninguém atinge a excelência todos os dias, nem
os maiores génios e se formos capazes de nos olhar no espelho sem máscaras,
perceberemos que por detrás de uma pequena vitória haverá imensas derrotas. A
nossa vida é feita de fracassos, de tropeços, de quedas e de alguma superação.
Reerguer exige força e coragem, ferramenta que se aprende na derrota. É na
dificuldade e na sua aceitação que o homem se faz. Quando surge, porventura, uma
conquista, será um pequeno prazer, corolário de muitas frustrações.
É bom que os
pequenos tenham espaço para as suas lutas e superações, que cresçam com saúde
mental e seria bom que compreendessem que aprendem mais com a cooperação do que
com a competição, para o respeito do outro sem a crença da superioridade. Eduquemos
e eduquemo-nos para a paz.
Nina M.
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