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sábado, 7 de dezembro de 2024

Crónica de Maus Costumes 398

 

Escritas e leituras

               Se me tivessem dito, quando inaugurei esta rubrica semanal, em setembro de  2016, que a iria sustentar por muito tempo (está a duas semanas de fazer um número redondo, novamente), talvez, não acreditasse e, no entanto, cá está ela, não sei por quanto tempo mais…

            Os meus filhos eram ainda pequenitos e também eles foram acompanhando a vida da rubrica. À medida que vão crescendo, são eles mesmos que me vão lembrando, se porventura lhes parecer que há algo a modificar a rotina de sábado à noite, que tenho de escrever a crónica. Certo é que estou vinculada ao texto semanal que já faz parte da minha rotina e também da rotina de alguns, pressuponho. Sei que há gente que toma o pequeno-almoço acompanhado da crónica, outros são leitores de horas tardias, assim que ela aparece disponível no mural, outros serão leitores esporádicos, outros mais ou menos regulares e outros, possivelmente, ao verem tanto texto, pulam, porque não há paciência para tal. Farão bem …

            Interrogo-me, às vezes, o que me levará ao cumprimento inequívoco da rubrica sem a ela estar vinculada por qualquer contrato ou benefício monetário. Há a questão do compromisso, obviamente. Se me dizem que me leem ao domingo de manhã, enquanto tomam o pequeno-almoço, tendo-se já tornado numa espécie de ritual, de certa forma responsabilizam-me, porque se cria uma espécie de compromisso tácito entre quem escreve e o leitor. Portanto, a recompensa do meu trabalho (que é o reconhecimento que um ou outro me vai fazendo chegar diretamente ou por interposta pessoa) é também o veneno que alimenta a engrenagem e que faz com que cumpra semanalmente o afazer, com maior ou menor vontade, mas sempre com gosto.

            Esta relação entre mim e quem lê cria vínculo e este, a obrigatoriedade de respeitar quem reserva uma parte do seu tempo para ler meia-dúzia de linhas mal-amanhadas. Ora, não posso deixar de pensar que os escritores a sério ou outras figuras públicas estão sujeitos a uma certa pressão, dado o compromisso com o público. Dou por mim a interrogar-me como o Luís Osório desenterra material para tanto postal do dia. Não é ter apenas assunto, porque a sua rubrica segue uma espécie de linha editorial, ou seja, nalguns casos dá-nos a conhecer anónimos, que pela sua história de vida, o Luís decide destacar ou figuras conhecidas do grande público e que o Luís decide agraciar, porque a maioria das rúbricas mostram o lado bom das pessoas. Há, nos postais do Luís Osório, algo de que gosto: a capacidade de mostrar heróis como nós, isto é, de destacar as virtudes e, por vezes, também defeitos comuns a tantos seres humanos, de mostrar que antes de se vencer, tantas vezes se falha e que, muitas vezes, os verdadeiros heróis são os desconhecidos que nos vai apresentando, nas histórias que nos vai narrando. Mostra a vida como é, feita de muitas dificuldades e de perseverança para as conseguir ultrapassar. Um dia destes, pergunto-lhe onde arranja tanta matéria para escrever, porque o Luís Osório tem a humildade suficiente e o respeito necessário pelo seu público para com ele interagir.

Consigo imaginar a preocupação que será ficar sem ideias para mais um romance ou medo da repetição, que deve existir… Só não vale vender a alma em prol de um público, isto é, deixar de fazer as coisas com verdade para semear fãs.

            De mim, bem… Esperai a cronicazita semanal enquanto houver paciência, vontade e imaginação para a poder apresentar, nem que seja para não dizer grande coisa, como é o caso da de hoje, mas também… Nem sempre se acerta.

 

Nina M.

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