Escritas e leituras
Se me tivessem dito, quando inaugurei
esta rubrica semanal, em setembro de 2016,
que a iria sustentar por muito tempo (está a duas semanas de fazer um número
redondo, novamente), talvez, não acreditasse e, no entanto, cá está ela, não
sei por quanto tempo mais…
Os meus
filhos eram ainda pequenitos e também eles foram acompanhando a vida da
rubrica. À medida que vão crescendo, são eles mesmos que me vão lembrando, se
porventura lhes parecer que há algo a modificar a rotina de sábado à noite, que
tenho de escrever a crónica. Certo é que estou vinculada ao texto semanal que
já faz parte da minha rotina e também da rotina de alguns, pressuponho. Sei que
há gente que toma o pequeno-almoço acompanhado da crónica, outros são leitores
de horas tardias, assim que ela aparece disponível no mural, outros serão
leitores esporádicos, outros mais ou menos regulares e outros, possivelmente,
ao verem tanto texto, pulam, porque não há paciência para tal. Farão bem …
Interrogo-me,
às vezes, o que me levará ao cumprimento inequívoco da rubrica sem a ela estar
vinculada por qualquer contrato ou benefício monetário. Há a questão do
compromisso, obviamente. Se me dizem que me leem ao domingo de manhã, enquanto
tomam o pequeno-almoço, tendo-se já tornado numa espécie de ritual, de certa
forma responsabilizam-me, porque se cria uma espécie de compromisso tácito
entre quem escreve e o leitor. Portanto, a recompensa do meu trabalho (que é o
reconhecimento que um ou outro me vai fazendo chegar diretamente ou por interposta
pessoa) é também o veneno que alimenta a engrenagem e que faz com que cumpra
semanalmente o afazer, com maior ou menor vontade, mas sempre com gosto.
Esta relação
entre mim e quem lê cria vínculo e este, a obrigatoriedade de respeitar quem reserva
uma parte do seu tempo para ler meia-dúzia de linhas mal-amanhadas. Ora, não
posso deixar de pensar que os escritores a sério ou outras figuras públicas
estão sujeitos a uma certa pressão, dado o compromisso com o público. Dou por
mim a interrogar-me como o Luís Osório desenterra material para tanto postal do
dia. Não é ter apenas assunto, porque a sua rubrica segue uma espécie de linha
editorial, ou seja, nalguns casos dá-nos a conhecer anónimos, que pela sua
história de vida, o Luís decide destacar ou figuras conhecidas do grande
público e que o Luís decide agraciar, porque a maioria das rúbricas mostram o
lado bom das pessoas. Há, nos postais do Luís Osório, algo de que gosto: a
capacidade de mostrar heróis como nós, isto é, de destacar as virtudes e, por
vezes, também defeitos comuns a tantos seres humanos, de mostrar que antes de
se vencer, tantas vezes se falha e que, muitas vezes, os verdadeiros heróis são
os desconhecidos que nos vai apresentando, nas histórias que nos vai narrando. Mostra
a vida como é, feita de muitas dificuldades e de perseverança para as conseguir
ultrapassar. Um dia destes, pergunto-lhe onde arranja tanta matéria para
escrever, porque o Luís Osório tem a humildade suficiente e o respeito necessário
pelo seu público para com ele interagir.
Consigo imaginar a preocupação que será
ficar sem ideias para mais um romance ou medo da repetição, que deve existir…
Só não vale vender a alma em prol de um público, isto é, deixar de fazer as coisas
com verdade para semear fãs.
De mim, bem…
Esperai a cronicazita semanal enquanto houver paciência, vontade e imaginação
para a poder apresentar, nem que seja para não dizer grande coisa, como é o
caso da de hoje, mas também… Nem sempre se acerta.
Nina M.
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