Desejos natalícios
Cá está o número redondo pouco antes
do Natal, pelo que se impõe uma crónica natalícia. Há quem não goste da época, quem
apenas fale da hipocrisia que a época carrega consigo, porque de um momento
para o outro, as pessoas ficam gentis e boazinhas e desejam o melhor aos outros…
Há quem fale do consumismo exagerado e desnecessário, mas isso é comum ao ano
todo e não só ao Natal. Há quem fale da Boa Nova que o Deus-menino trouxe ao
mundo e é esta mensagem de amor que deve prevalecer, independentemente da
crença ou do ateísmo de cada um, porque o amor é bem demasiado precioso para
ser dispensado.
Simbolicamente,
o Natal pode significar o renascimento de cada um, se assim o desejarmos.
Aproveitamos a boleia do final de ano e dos tradicionais desejos e novas
intenções e assumimos o compromisso para connosco de nos tornarmos melhores
pessoas, de nos comprometermos com essa ideia tão simples e tão difícil de pôr
em prática. Talvez assim as batatas com o bacalhau e as rabanadas possam até
saber melhor.
Eu gosto do Natal. Muito. É a festa
de que mais gosto, precisamente, porque é a festa da família e da alegria.
Pouco aprecio as iguarias gastronómicas. A maioria delas não as como e há muito
desperdício alimentar que se deveria evitar, até porque o Natal não é sobre
excesso, é sobre partilha. À medida que se cresce, vai-se atribuindo novos
sentidos à época. A curiosidade ansiosa da infância cede o lugar à calma da
maturidade. A alegria não tem origem nos possíveis presentes que se poderá
receber, como quando se é criança, mas no encontro com os que amamos. De modo
que quando os filhos insistem em querer saber o que a mãe gostaria de ter no Natal,
encolho os ombros, e respondo saúde para mim e para os meus. Depois de alguma
insistência e de verificarem que a mãe está cada vez mais velha e esquisita,
porque não se apaixona por presentes e diz que nada lhe faz falta e que a roupa
ou calçado vale mais que se compre nos saldos de janeiro, logo de seguida, em
caso de necessidade, eles recorrem à única coisa que sabem que a mãe nunca diz
ter em demasia: livros. De modo que lá andaram a fazer uma lista de possíveis
aquisições para as coleções literárias da mãe, enquanto abanam a cabeça com um
certo desgosto. Eles ainda são demasiado jovens para compreender, ainda que o
mais velho já vá dizendo que o que gosta no Natal é de estarmos todos em casa
da avó, na conversa e de ver o avô a pôr a garrafa de vinho do Porto a tocar. Quando
chegar à minha idade, estará como eu.
Esta época não deixa, contudo, de ser
ambivalente: de alegria para muitos e de tristeza para outros tantos. Não há
grande alegria para quem passa o Natal só ou para quem perdeu um ente querido muito
recentemente ou para quem tem familiares ou amigos próximos no hospital ou para
quem vive a angústia de uma doença grave. Para esses, particularmente, desejo
que o Natal possa, efetivamente, significar renascimento, que lhes traga a notícia
que lhes permita reacender a luz da esperança, essa luz pequenina, que não pode
deixar de brilhar, porque viver uma vida desesperançada não é viver, mas
sobreviver. Assim, se puder manifestar um desejo natalício é este: Que sejais
brindados com muita saúde e esperança!
Feliz Natal!
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