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sábado, 21 de dezembro de 2024

Crónica de Maus Costumes 400

 

Desejos natalícios

               Cá está o número redondo pouco antes do Natal, pelo que se impõe uma crónica natalícia. Há quem não goste da época, quem apenas fale da hipocrisia que a época carrega consigo, porque de um momento para o outro, as pessoas ficam gentis e boazinhas e desejam o melhor aos outros… Há quem fale do consumismo exagerado e desnecessário, mas isso é comum ao ano todo e não só ao Natal. Há quem fale da Boa Nova que o Deus-menino trouxe ao mundo e é esta mensagem de amor que deve prevalecer, independentemente da crença ou do ateísmo de cada um, porque o amor é bem demasiado precioso para ser dispensado.

            Simbolicamente, o Natal pode significar o renascimento de cada um, se assim o desejarmos. Aproveitamos a boleia do final de ano e dos tradicionais desejos e novas intenções e assumimos o compromisso para connosco de nos tornarmos melhores pessoas, de nos comprometermos com essa ideia tão simples e tão difícil de pôr em prática. Talvez assim as batatas com o bacalhau e as rabanadas possam até saber melhor.

Eu gosto do Natal. Muito. É a festa de que mais gosto, precisamente, porque é a festa da família e da alegria. Pouco aprecio as iguarias gastronómicas. A maioria delas não as como e há muito desperdício alimentar que se deveria evitar, até porque o Natal não é sobre excesso, é sobre partilha. À medida que se cresce, vai-se atribuindo novos sentidos à época. A curiosidade ansiosa da infância cede o lugar à calma da maturidade. A alegria não tem origem nos possíveis presentes que se poderá receber, como quando se é criança, mas no encontro com os que amamos. De modo que quando os filhos insistem em querer saber o que a mãe gostaria de ter no Natal, encolho os ombros, e respondo saúde para mim e para os meus. Depois de alguma insistência e de verificarem que a mãe está cada vez mais velha e esquisita, porque não se apaixona por presentes e diz que nada lhe faz falta e que a roupa ou calçado vale mais que se compre nos saldos de janeiro, logo de seguida, em caso de necessidade, eles recorrem à única coisa que sabem que a mãe nunca diz ter em demasia: livros. De modo que lá andaram a fazer uma lista de possíveis aquisições para as coleções literárias da mãe, enquanto abanam a cabeça com um certo desgosto. Eles ainda são demasiado jovens para compreender, ainda que o mais velho já vá dizendo que o que gosta no Natal é de estarmos todos em casa da avó, na conversa e de ver o avô a pôr a garrafa de vinho do Porto a tocar. Quando chegar à minha idade, estará como eu.

Esta época não deixa, contudo, de ser ambivalente: de alegria para muitos e de tristeza para outros tantos. Não há grande alegria para quem passa o Natal só ou para quem perdeu um ente querido muito recentemente ou para quem tem familiares ou amigos próximos no hospital ou para quem vive a angústia de uma doença grave. Para esses, particularmente, desejo que o Natal possa, efetivamente, significar renascimento, que lhes traga a notícia que lhes permita reacender a luz da esperança, essa luz pequenina, que não pode deixar de brilhar, porque viver uma vida desesperançada não é viver, mas sobreviver. Assim, se puder manifestar um desejo natalício é este: Que sejais brindados com muita saúde e esperança!

Feliz Natal!

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