Memórias musicais
Esta semana, não trago à cena nenhuma
mulher que se tenha destacado na sociedade nem falarei dos incidentes da Cova
da Moura, dos problemas sociais que afetam o bairro desde sempre, da
criminalidade a ele associada, da morte infeliz do habitante, do homicídio
perpetrado pelo agente, que acredito ter sido fruto de uma reação precipitada,
no meio de acontecimentos que elevam terrivelmente os níveis de ansiedade. Há
horas do Diabo e aquela foi uma delas…
Lamento pesarosamente os ferimentos
do motorista do autocarro, que apenas fazia o seu trabalho, e ficará com marcas
para a vida. Lamento a situação em que se encontra o agente, porque há erros
que saem caros, mesmo que possam existir circunstâncias atenuantes… O inquérito
apurará os factos. Com ou sem negligência, a sua carreira termina aqui. Lamento
a morte de um ser humano, lamento a destruição e os danos causados a terceiros
que ficam sem as suas viaturas e com prejuízos tremendos… Sabe Deus da vida de
cada um, lamento pelos habitantes do bairro, por aquelas pessoas honestas e
trabalhadoras que se veem a braços com esta violência e apenas querem paz.
Indigno-me com o aproveitamento político que alguns abutres tentam retirar de
toda esta infelicidade, sem pudor e com uma desfaçatez torpe… Mas não quero
falar sobre isto…
Morreu Marco Paulo, um ícone da
música ligeira portuguesa. Confesso nunca ter sido propriamente uma fã, mas
também confesso que sei muitas das suas letras. O cantor era idolatrado por muitos
portugueses e sabia ser grato por todo o carinho com que o tratavam. Lutou
variadas vezes contra o cancro. Saiu vencedor nas anteriores, mas desta vez, o
mal foi mais forte. Ao que parece, terá partido em paz, ao lado dos que amava.
O artista traz-me memórias de
infância que explicam o motivo de saber de cor muitos trechos das suas letras,
associadas a recordações felizes. Ouvir Marco Paulo significava passeata em
família. Havia o carro onde a canalha se misturava. Neste caso, eu passava para
o carro da minha madrinha e fazia a viagem com os meus primos… Eis que o pai
deles, já era da praxe, sacava da cassete do marco Paulo e aquilo era música
até enjoar… era a “Anita”, o “Ninguém, ninguém”, “os dois amores…” Quando
acabava o lado B, era ejetar e pimba: lado A novamente!
E a viagem lá se ia fazendo com o pai
dos rapazes a gabar a voz do Marco, a dizer que era o melhor cantor português e
nós a desdenhar um pouco daquilo e a achar que era música para velhos… O
problema era que no carro do meu pai não era melhor… Ou levávamos com o Fado do
Frei Hermano da Câmara ou com a banda musical do Marco de Canaveses, onde o meu
pai tinha sido músico… Certo é que não me lembro das letras do frei Hermano da
Câmara… Ao contar isto aos meus filhos, a propósito da notícia do cantor, o
Rodrigo sai-se com esta: “e olha que a banda não é assim tão má, porque eu
também ouvi essa cassete toda… O avô punha-nos no carro a ouvir a banda, quando
éramos pequenos!”
O meu filho com três anitos sabia as
músicas do Padre Borga, porque a tia punha-lhe também a cassete e ele cantava
aquilo tudo! Certa altura, na rua de Santa Catarina, ele cantava como se não
houvesse amanhã! Sorte a dele que é afinado… Se saísse à mãe estaria desgraçado…
Não me lembrei, na altura, de lhe colocar um chapeuzinho, porque os transeuntes
riam-se à brava com ele!
Certo é que o Marco Paulo fará parte
das memórias de muitos. Li um texto de Rui Couceiro, o editor da Lello e também
escritor, autor do “Morro da Pena Ventosa”. Narrava a experiência de ter ido a
um concerto do artista no Coliseu e o quanto se divertiu. Bem, eu nunca fui a
um concerto do Marco, mas dizem os que foram que energia não lhe faltava e nem
entrega ao seu público.
Goste-se ou não do estilo, certo é
que Marco Paulo inscreveu o seu nome no panorama musical português e, na
verdade, tinha uma voz inconfundível.
Descanse em Paz!
Nina M.
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