Cheiro a férias e a maresia…
Aproximam-se
as férias. Com elas, chega o cheiro do verão, da maresia, do sol quente, da
relva molhada depois da rega, do ar tépido de fim de tarde que inspira a rua.
No verão,
gosto do café matinal em silêncio, no exterior, na mesa sob o alpendre. Também se
almoça e janta nesse espaço, se o tempo permitir… Gosto de uma caminhada
matinal e também noturna para aligeirar o jantar, acompanhada pelo coaxar das
rãs ou o canto das cigarras… A título de curiosidade, este inseto não produz o
som com a boca. Trata-se de um ritual de acasalamento e o ruído é produzido
pelo esfregar das asas no próprio corpo, na tentativa de atrair a fêmea, que é
bastante mais discreta e menos barulhenta. Atividade que fazem sob o luar
quente do verão.
Há quem prefira a nostalgia que o
outono convoca, ao trazer as primeiras chuvas, mas eu sou solar e aprecio
acordar com um céu límpido e absolutamente azul, que traz a boa disposição e a
energia. Obviamente, não são só virtudes… O verão também traz a festas de rua,
os DJ’s insanos que massacram a população até 04h00 da manhã para gáudio dos
mais jovens e irritação dos mais velhos, os ensaios de bombos que massacram os
ouvidos e todas as oportunidades para aglomerar povo nas ruas, sem sentido nem
virtude… As cidades copiam umas pelas outras e todas têm a sua “noite branca”
(para mim poderia ser preta, seria igual…), “feira medieval”, mesmo que não
haja castelo, enfim, interessa é arranjar motivo para a festa que o povo gosta …
Pão e circo, sentenciou o poeta romano Juvenal e com razão… No entanto, só para
ter o prazer de não sentir frio, mesmo estando de pele ao léu, de ter os pés
sempre quentes, de sentir o ar morno pela manhã, de poder mergulhar no oceano e
pousar os pés na areia, de pensar como uma cerveja bem fresca pode saber tão
bem, vale a pena aguentar algum ruído…
O verão convida à alegria… Os miúdos traçam
planos e observá-los é recuar à minha infância e a Mindelo, aos amigos da
praia, aos saltos nas dunas, à exploração dos rochedos, às longas caminhadas junto
à água para preencher as horas e finalmente poder ir ao mar (naquele tempo, a temperatura
da água não me desencorajava), com sorte um geladito e a habitual melancia ou
melão, o pão bijou cozido em forno de lenha e que a mãe comprava aos trinta… A
praia era a melhor vitamina para abrir o apetite e o cheiro matinal a maresia,
por força do iodo, ainda me agarra…
O verão combina com descontração e
abrandamento, com leituras, com recuperação de forças e vontades, por vezes,
com ciclos que se fecham para que outros se abram…
Chegou o verão e chegaram as férias…
Chegou o tempo de descanso e de pousio da rubrica “Crónica de Maus Costumes”.
Chegou o mês da desintoxicação e da quebra da rotina para todos. Aproveitai
muito e, se tudo correr bem, encontrar-nos-emos em setembro. Boas férias!
Nina M.
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