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sábado, 13 de julho de 2024

Crónica de Maus Costumes 382

 

Colocações e desesperos

            Os professores são uma classe estranha… Apesar de saberem que os resultados dos concursos não saíam antes do final de julho, andavam absolutamente angustiados, agoniados, de meter dó! Todos os dias nas redes sociais as publicações caíam que nem chuva para lamentarem a ausência das famigeradas listas de colocação e, sarcasticamente, zurziam no ministério e no ministro contra a falta de respeito para com a classe! Conseguiram enervar um santo e todos aqueles que, tal como eu, aguardam pacientemente, sem pressas e sem angústias, porque sabem que “enquanto o pau vai e vem folgam as costas”, como diz o aforismo. Enquanto as malfadadas não saem, também nada de mal acontece…

            Bem… Surpreendentemente, antes de dia 15 de julho e com direito a tratamento VIP, os professores receberam a informação por mensagem escrita de que tinham ficado colocados na escola X, Y ou Z. Ela não chegou para todos ao mesmo tempo, mas chegou… Só pecava por indicar o código em vez do nome da escola… Obrigava a consultar a lista de códigos da escola, valha-me Deus! Ainda não vi nenhum professor a louvar o gesto e ficar-lhes-ia bem…

            Logicamente, aconteceu de tudo: gente feliz com lágrimas e gente triste com lágrimas também… Houve mais felizes do que tristes, ditou-me a perceção…

            Calhou-me em sorte efetivar. Ficar com a escola que dista exatamente 900 metros de casa, onde estudei, onde já lecionei, onde estuda a filha, mas obriga-me a deixar aquela em que estou colocada há nove anos, aquela que sinto já como a minha casa, aquela onde já muito dei de mim aos alunos, à estrutura, à casa, bem ou mal, mas sempre com a minha ética profissional… Ainda não me mentalizei de que tenho de ir esvaziar o cacifo…

- Dona Cristina, guarde lá o 28 mais umas temporadas, por favor… Até setembro… A ver… Um cacifo tão bom… No mesmo plano do olhar e que não me obriga a vergar as costas…

            É com muita tristeza que saio. E depois, nem a filha quer a mãe na sua escola e a mãe também nunca quis estar na mesma escola dos filhos… É melhor para todos os intervenientes…

De qualquer forma, não quero que seja uma crónica triste. É uma crónica de despedida, é certo, mas sobretudo de gratidão. Agradeço aos órgãos de gestão que sempre me receberam bem, que sempre mostraram confiança no meu trabalho, que sempre souberam compreender as falhas quando existiram. Espero que não tenham sido em demasia, mas terão sido, certamente, mais do que as que eu queria. Ainda me rio sozinha quando me lembro do episódio em que enlouqueci, sem querer, o Rocha… Desculpa, mais uma vez, Joaquim… Na pandemia, porque li um documento na diagonal e não retive corretamente a informação, tratei de mandar os miúdos para casa para terem as aulas de preparação para o exame e, afinal, tinham de ficar na sala. E o Joaquim tentou alertar-me que o Brandão ia à sala, mas eu sem perceber patavina… A questionar-me sobre o motivo pelo qual o Brandão iria à sala, se não percebia nada de Matemática! O Rocha não devia estar bom!... A canalha tinha era que ir depressa para casa, depois da minha aula, para assistir à aula on-line! Ainda choro a rir… Imagino o que o Rocha lhe apeteceu fazer… Juro que foi sem querer e muito bem-intencionada, Joaquim… Também admito de imediato quando falho e pedi desculpa, assim que me apercebi do erro… Certamente, outras falhas terão acontecido… Não porque quisesse, mas porque sou humana e absolutamente falível… Uma palavra de agradecimento pela cordialidade, acolhimento, empatia e disponibilidade da senhora diretora, Ernestina Sousa. Uma líder incansável. Paula carvalho, aquele sorriso largo e a frase de boa disposição com que sempre me recebe, quando bato e entreabro a porta, com a cabeça a espreitar para saber se posso interromper, quando preciso…

Aos colegas que sempre me acompanharam e aos que foram chegando, uns mais outros menos, como é de esperar numa grande organização, grata pela boa companhia, pela boa disposição, pelas gargalhadas e para alguns, muito, muito grata pelo carinho com que me tratam e pelas boas conversas. Para todas as minhas coordenadoras, incluindo as que já saíram e, sobretudo, para a atual, Hiolanda Esteves, obrigada pela amizade, obrigada pela confiança, obrigada pelo reconhecimento e pela valorização do meu trabalho e das minhas competências. Fiz o meu melhor para ajudar na coordenação do Departamento e sei que não desiludi. Abraço apertado aos elementos deste departamento. Um especial para todos os professores que tinham a seu cargo secundário, com quem formava equipa de trabalho e que grupo de excelência!

Aos funcionários, os nossos braços direitos e esquerdos, os que estão sempre disponíveis para nos ajudar, a minha gratidão… Senhor Júlio! Nunca esquecerei a forma inusitada como descobri quem era o chefe dos funcionários, o senhor Júlio, mas não vou contar aqui! O desenrasca tudo da escola!

Por fim, a todos os alunos com quem me cruzei, mas em especial os que terminaram este ano o décimo segundo e que começaram a caminhada comigo, no sétimo, um abraço apertado e votos de sucesso. De vós, já me tinha despedido.

À Mário Fonseca, para onde se vai trabalhar com alegria, uma palavra de gratidão por estes nove anos de crescimento profissional, de inspiração e de motivação. Que possa ser um até breve…

Bem-haja!

 

Nina M.

 

P.S. Para os que lá agora ficaram e pensam sair, se porventura tal relato vos chegar aos olhos, não acreditem em tudo o que leem nas redes sociais! Quem avisa amigo é!

 

 

 

 

           

 

 

 

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