Colocações e desesperos
Os professores são uma classe
estranha… Apesar de saberem que os resultados dos concursos não saíam antes do
final de julho, andavam absolutamente angustiados, agoniados, de meter dó!
Todos os dias nas redes sociais as publicações caíam que nem chuva para
lamentarem a ausência das famigeradas listas de colocação e, sarcasticamente,
zurziam no ministério e no ministro contra a falta de respeito para com a
classe! Conseguiram enervar um santo e todos aqueles que, tal como eu, aguardam
pacientemente, sem pressas e sem angústias, porque sabem que “enquanto o pau
vai e vem folgam as costas”, como diz o aforismo. Enquanto as malfadadas não
saem, também nada de mal acontece…
Bem…
Surpreendentemente, antes de dia 15 de julho e com direito a tratamento VIP, os
professores receberam a informação por mensagem escrita de que tinham ficado
colocados na escola X, Y ou Z. Ela não chegou para todos ao mesmo tempo, mas
chegou… Só pecava por indicar o código em vez do nome da escola… Obrigava a
consultar a lista de códigos da escola, valha-me Deus! Ainda não vi nenhum
professor a louvar o gesto e ficar-lhes-ia bem…
Logicamente,
aconteceu de tudo: gente feliz com lágrimas e gente triste com lágrimas também…
Houve mais felizes do que tristes, ditou-me a perceção…
Calhou-me em
sorte efetivar. Ficar com a escola que dista exatamente 900 metros de casa, onde
estudei, onde já lecionei, onde estuda a filha, mas obriga-me a deixar aquela
em que estou colocada há nove anos, aquela que sinto já como a minha casa,
aquela onde já muito dei de mim aos alunos, à estrutura, à casa, bem ou mal,
mas sempre com a minha ética profissional… Ainda não me mentalizei de que tenho
de ir esvaziar o cacifo…
- Dona Cristina, guarde lá o 28 mais umas temporadas, por
favor… Até setembro… A ver… Um cacifo tão bom… No mesmo plano do olhar e que
não me obriga a vergar as costas…
É com muita
tristeza que saio. E depois, nem a filha quer a mãe na sua escola e a mãe também
nunca quis estar na mesma escola dos filhos… É melhor para todos os
intervenientes…
De qualquer forma, não quero que seja
uma crónica triste. É uma crónica de despedida, é certo, mas sobretudo de
gratidão. Agradeço aos órgãos de gestão que sempre me receberam bem, que sempre
mostraram confiança no meu trabalho, que sempre souberam compreender as falhas
quando existiram. Espero que não tenham sido em demasia, mas terão sido,
certamente, mais do que as que eu queria. Ainda me rio sozinha quando me lembro
do episódio em que enlouqueci, sem querer, o Rocha… Desculpa, mais uma vez, Joaquim…
Na pandemia, porque li um documento na diagonal e não retive corretamente a
informação, tratei de mandar os miúdos para casa para terem as aulas de
preparação para o exame e, afinal, tinham de ficar na sala. E o Joaquim tentou
alertar-me que o Brandão ia à sala, mas eu sem perceber patavina… A
questionar-me sobre o motivo pelo qual o Brandão iria à sala, se não percebia
nada de Matemática! O Rocha não devia estar bom!... A canalha tinha era que ir
depressa para casa, depois da minha aula, para assistir à aula on-line! Ainda
choro a rir… Imagino o que o Rocha lhe apeteceu fazer… Juro que foi sem querer
e muito bem-intencionada, Joaquim… Também admito de imediato quando falho e
pedi desculpa, assim que me apercebi do erro… Certamente, outras falhas terão
acontecido… Não porque quisesse, mas porque sou humana e absolutamente falível…
Uma palavra de agradecimento pela cordialidade, acolhimento, empatia e
disponibilidade da senhora diretora, Ernestina Sousa. Uma líder incansável. Paula
carvalho, aquele sorriso largo e a frase de boa disposição com que sempre me
recebe, quando bato e entreabro a porta, com a cabeça a espreitar para saber se
posso interromper, quando preciso…
Aos colegas que sempre me
acompanharam e aos que foram chegando, uns mais outros menos, como é de esperar
numa grande organização, grata pela boa companhia, pela boa disposição, pelas
gargalhadas e para alguns, muito, muito grata pelo carinho com que me tratam e
pelas boas conversas. Para todas as minhas coordenadoras, incluindo as que já saíram
e, sobretudo, para a atual, Hiolanda Esteves, obrigada pela amizade, obrigada
pela confiança, obrigada pelo reconhecimento e pela valorização do meu trabalho
e das minhas competências. Fiz o meu melhor para ajudar na coordenação do Departamento
e sei que não desiludi. Abraço apertado aos elementos deste departamento. Um
especial para todos os professores que tinham a seu cargo secundário, com quem
formava equipa de trabalho e que grupo de excelência!
Aos funcionários, os nossos braços
direitos e esquerdos, os que estão sempre disponíveis para nos ajudar, a minha
gratidão… Senhor Júlio! Nunca esquecerei a forma inusitada como descobri quem
era o chefe dos funcionários, o senhor Júlio, mas não vou contar aqui! O
desenrasca tudo da escola!
Por fim, a todos os alunos com quem
me cruzei, mas em especial os que terminaram este ano o décimo segundo e que começaram
a caminhada comigo, no sétimo, um abraço apertado e votos de sucesso. De vós,
já me tinha despedido.
À Mário Fonseca, para onde se vai
trabalhar com alegria, uma palavra de gratidão por estes nove anos de crescimento
profissional, de inspiração e de motivação. Que possa ser um até breve…
Bem-haja!
Nina M.
P.S. Para os que lá agora ficaram e pensam
sair, se porventura tal relato vos chegar aos olhos, não acreditem em tudo o
que leem nas redes sociais! Quem avisa amigo é!
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