Seguidores

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Há dias silenciosos

Há dias silenciosos 
Feitos de palavras mudas
Ecoam apenas no íntimo
Os olhos desafiam
O sol baixo de inverno
E veem a primavera antecipada
Nos risos e vozes que povoam o ar
Soltam-se de esplanadas cheias
(Quase não me lembro de sentar numa esplanada de café uma tarde inteira)
Lembro-me da espreguiçadeira de casa
No silêncio do pátio tão apetecível
Quase renuncio ao passeio
Desejo a cadeira e a hipótese de um livro  por abrir
Sigo os passos e a vida diante de mim
O sol cada vez mais baixo e mais laranja
E vejo-o no seu nascimento por detrás do outeiro em luz rosácea e dourada da aurora
O espetáculo gratuito da natureza
A dar-se aos olhos da alma
Hoje, desaprendi de falar e teço silêncios
Urdo-lhes a teia e ouço obscuras
As pancadas sincopadas do tear
Da avó Matilde e o ziguezague da canastra
A mudez tem cheiros e sons longínquos
Às vezes levam-me com os meus mortos.



Sem comentários:

Enviar um comentário