Professores e eleições
Os grupos de professores começam, por
esta altura, a ser veículos usado por aqueles que integram máquinas
partidárias, numa campanha política desavergonhada e pouco inteligente.
Discutir ideias, políticas e projetos
para o país sem vestir camisolas seria, para além de interessante, um exercício
de cidadania, mas quando leio os argumentos, aquilo parece-me uma discussão infantil
e troca de galhardetes, do género: o meu pai é que é bom e o teu não presta.
Os partidários socialistas atiram com
o Passos Coelho, constantemente, e esquecem toda a conturbação vivida ainda
recentemente, jurando a pés juntos que nunca se esteve tão mal quanto no tempo
daquele senhor. Imediatamente, os laranjas ripostam que o Passos teve de limpar
a sujeira que outros deixaram e que quem chamou a troika e assinou o memorando
com as condições a aplicar foi o famigerado e pouco honesto Sócrates. Os outros
replicam que Passos quis ir e foi além da troika, desnecessariamente. Os partidários
laranja esclarecem que foram os socialistas que congelaram as carreiras e nunca
mais as quiseram desbloquear e os socialistas lembram que o Rui Rio roeu a
corda, mediante a ameaça do senhor Costa se demitir. Ora, cá para mim, se o Rio
fosse adivinho, mais valia ter votado de uma vez a favor da recuperação do
tempo de serviço dos professores, afinal de contas, o senhor Costa sempre se demitiu!
Bem… galhardete por galhardete,
também se poderia acrescentar que os que ainda governam apresentaram ufanos a proposta
de Orçamento do Estado para 2024. Como saldo orçamental para 2023, mostram um
superavit de 0.8% PIB e para 2024, um superavit de 0.2%. Resta só dizer, no
entanto, que os serviços públicos pioraram sobremaneira e que há insatisfação
em todos os setores: desde a educação, passando pela saúde, agora, as forças de
segurança e o que ainda virá…
Dá-me vontade de rir, porque todas as
afirmações proferidas quer de um lado quer do outro são verdadeiras. Sócrates
arruinou o país entre 2005 e 2011, depois das asneiradas de Santana Lopes. Em
seis anos de governação, enterrou o país. De seguida, veio o Passos Coelho,
entre 2011 e 2015. Quatro anos duríssimos. Nunca tantos professores ficaram sem
trabalho. Nesses anos fiquei pela primeira vez, ao fim de dezasseis anos de
serviço, com horários incompletos. O Crato e a sua equipa lembraram-se de criar
as famigeradas BCE (Bolsas de contratação de escola), uma medida discricionária
e que permitia casacos feitos à medida. Se durante o Governo socrático, a Maria
de Lurdes tornou a vida dos professores um inferno, o Crato deu-lhe guarida e
continuidade. Depois, o Passos ainda haveria de ganhar as eleições, mas na
impossibilidade de conseguir formar Governo, o senhor Costa passou-lhe a perna.
Nada que não esteja previsto, mas não deixa de ser uma jogada pouco bonita, abrindo
um precedente. Desde então, temos oito anos de ação governativa dos socialistas
e todo o setor público está uma lástima. Caso para dizer, ainda bem que são
socialistas, se fossem liberais como seria!... Bem, certo é que os correligionários
que vestem as camisolas a sério não dispensam publicar o programa eleitoral da
maior força de oposição, salientando as intenções do partido relativamente aos
professores. Afirma-se essencial a
alteração do modelo de colocação de docentes, de modo a ter em consideração os
fatores residência e avaliação, a redefinição do perfil do professor e
construção de um referencial para a avaliação de desempenho. Ora bem… Por um
lado, os professores fartam-se de reclamar por ficarem longe de casa, pelo
outro, não foi esta mesma tentativa de alterar a colocação de professores,
fazendo dela uma municipalização encapotada qque esteve na origem das últimas
greves dos professores?! A recuperação do tempo de serviço veio mais tarde, a
reboque e nunca mais foi retirada da equação. Já agora, também apresentam a
proposta de recuperação do tempo de serviço em cinco anos, à razão de 20% em
cada um deles e também a dedução das despesas em IRS para professores
deslocados, a mais de 70 km da sua residência.
A verdade é que a vontade de passar a
colocação de professores para a alçada das autarquias é vontade comum a ambos
os partidos, mas como gera grande desconforto na classe, nenhum deles o afirma
perentoriamente.
O linguajar dos programas eleitorais
é terrível, pela sua dimensão genérica e pouco clara. A construção do
referencial para avaliação de professores parece-me boa ideia, numa tentativa
de se reduzirem atuações díspares, mas é preciso vê-lo para aferir a sua
adequação. A minha
escola criou um documento semelhante e que ajuda os coordenadores no seu
trabalho, garantindo uma maior uniformidade avaliativa. Quanto ao
uso da avaliação na colocação de professores, tem muito que se lhe diga, se as
quotas se mantiverem, o princípio da injustiça manter-se-á. Porém, não vejo
como fazer com o fator residência. Terão de arranjar um sistema de colocação
minimamente justo e que não crie a suspeição de se poder escolher o candidato A
em detrimento do B, apenas pela cor dos olhos. Se não houver essa perceção
clara, qualquer proposta será rejeitada. O modelo atual ainda é o menos mau e o
que garante imparcialidade. A realidade é que não há lugares para todos
próximos de casa e, dentro de pouco tempo, sobejarão lugares em todo o lado,
porque já quase ninguém quer ser professor. Assistir a esta troca de
galhardetes é como assistir às guerras de alecrim e de manjerona. No que aos
professores diz respeito, nenhum dos partidos costuma ouvir atentamente as
reivindicações para tentar, juntamente com a classe, um entendimento que
satisfaça ambas as partes. Nenhum deles respeita verdadeiramente a classe.
Portanto, quanto a isto, estamos conversados.
Espero que para escolherem o próximo
Governo tenham uma visão ampla e não se foquem apenas no seu quintal. Eu gostaria
de ver ideias concretas em relação a outras matérias, mas os programas padecem
sempre do mesmo mal: são demasiado vagos. Normalmente, o objetivo é sempre meritório,
mas o caminho concreto para lá se chegar, fica sempre no segredo dos deuses,
para não haver comprometimento. Convirá lembrar que não são os únicos partidos
existentes no país, mas que é preciso haver condições para formar Governo.
Por fim, votem em consciência e em
quem quiserem. A classe dispensa campanhas eleitorais feitas pelos próprios
colegas. Eu dispenso. Lerei os programas vagos e decidirei o que entender.
Nina M.
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