Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré
Vejo pouca televisão. Se estiver só
por casa, só raramente a ligo e quando o faço, normalmente, é para ir em busca
de um programa específico, que normalmente até já passou e eu recupero.
Ontem, fui recuperar o terceiro e
último episódio da temporada 1, não sei se haverá uma segunda, sobre o
Hezbollah. De seguida, calhou de ver O Programa Cujo Nome Estamos Legalmente
Impedidos de Dizer, com a participação do Ricardo Araújo Pereira, o Pedro
Mexia e o João Miguel Tavares, moderados pelo Carlos Vaz Marques. Tenho de ver se
me lembro que é à sexta, porque gosto de ouvir os três marretas sobre os temas
que marcam a atualidade.
A pré-campanha eleitoral já está ao
rubro. Sempre desejamos que se discutam ideias concretas e definidas para o
país e se deixem de politiques a bem da democracia, mas não vejo jeitos de tal
acontecer. Voltaremos aos ataques pessoais e tentativas de sabotagem da imagem
do adversário, de parte a parte, ainda que para atingir o Pedro Nuno Santos não
seja necessário muito, a sua prestação, enquanto ministro das infraestruturas
fala por si e a imagem não é boa. Detestei que o PS tivesse posto à frente do
partido tal figura, mas ainda hoje, ouvi na TSF um socialista entrevistado, a
propósito do congresso, a dizer que não faltavam figuras ímpares no partido
socialista para se apresentarem como candidatos a Presidentes da República,
pois não têm sabido arranjar consensos nessa matéria. O senhor foi citando os
nomes que lhe mereciam respeito: Santos Silva (detesto a sua arrogância e a sua
vaidade bacoca, nunca terá o meu voto), o Carlos César, o açoriano que a dada
altura quase transformou a Assembleia numa empresa familiar, o António Costa, o
agora ex-primeiro-ministro demissionário e António Vitorino. Ora, de tantas
figuras mencionadas, só o António Costa, apesar de tudo, mas sobretudo o
António Vitorino me parece, efetivamente, um bom candidato.
Já agora, faço um parênteses para
prestar um agradecimento aos jornalistas da TSF, Diário de Notícias, jornal de
Notícias, entre outros, que vivem momentos aflitivos, inacreditáveis e inadmissíveis.
Enfrentam a ameaça de um despedimento coletivo e há quem não esteja a receber
salário, mas continue a trabalhar, a fazer-nos chegar a informação. A TSF, que se
impôs como uma rádio de referência na informação e que é feita dos seus
trabalhadores, merece mais, tal como os outros órgãos de comunicação. Manifesto
a minha solidariedade para com aqueles que nada fizeram para se encontrarem
nestas dificuldades, que colocam perguntas a quem tem a responsabilidade de
gestão, mas não obtêm as respostas pretendidas. Em particular, envio um
beijinho à Rute Fonseca. Desculpem-me o pequeno tergiversar, mas não podia deixar
de mencionar aqueles que, para além de informar, acabam por ter um papel
preponderante na regulação da democracia.
Retomando o assunto, a política
portuguesa está sedenta de figuras de referência. Sempre que assisto à
Circulatura do Quadrado, lamento a ausência do Pacheco Pereira e do Lobo
Xavier no hemiciclo. São rostos credíveis, com sentido de estado, com a postura
desejável. Parece-me que aqueles que mais poderiam dar à política fogem dela a
sete pés e eu devo confessar que esses meandros são, demasiadas vezes, um
lodaçal e há quem não goste de usar galochas.
Depois de ver o terceiro episódio
sobre o Hezbollah, se a crença nos políticos é débil, não ficou melhor. Ficou
provado que esse “Partido de Deus” (é o que significa o nome) não passa de uma associação
criminosa. Não são “apenas” fanáticos religiosos, o que por si só já é mau o
suficiente. O Hezbollah é uma associação de criminosos que trafica drogas,
armas e efetua lavagem de dinheiro, num esquema internacional, com tentáculos
espalhados pelos diversos continentes. O DEA (departamento policial americano
responsável pela investigação de crimes relacionados com o tráfico de droga)
foi quem fez a investigação que durou oito anos. Chegaram a prender cabecilhas
importantes, por exemplo, um tal de Fayad, traficante de armas. O responsável
por fazer chegar as armas à Síria. O povo libanês vive iludido e os pais sonham
em gerar filhos para morrerem mártires e não percebem que, a troco do apoio
monetário do Irão ao Hezbollah, são os seus filhos que são enviados para o
terreno de combate. Foram eles que estiveram ao lado dos soldados de Bashar
Al-Assad. Agora, não combatiam o infiel, não eram a resistência, matavam irmãos
árabes. O número de baixas foi terrível para estes jovens que integraram o
Hezbollah, mas o número de iranianos mortos foi residual. Espantem-se ou não…
Há ligações do Hezbollah a Putin. Certo é que a investigação estava a correr
bem, estava tudo preparado para a desmontar e prender o cabecilha responsável
pela lavagem de dinheiro em Paris, quando a mais alta política se intrometeu. A
ideia era derrotar a célula terrorista através da falência económica, mas o DEA
começou a incomodar em demasia. Em 2016, a França, por intermédio de François
Hollande, assinava cerca de trinta acordos com o Presidente iraniano, acordos
comerciais e o acordo sobre o nuclear iraniano. Também Obama, juntamente com Biden,
seu vice-presidente, saudaram o acordo nuclear alcançado com o Irão. A
comunidade internacional rejubilou. Certo é que não há coincidências e enquanto
a comunidade internacional saudava os referidos acordos, a investigação foi abortada,
de um momento para o outro. Os investigadores foram transferidos para outras
funções. Os prisioneiros que iriam responder pelos seus crimes (Fayad foi preso
em Praga para poder ser extraditado e julgado nos Estados Unidos) foram soltos
e outros nunca chegaram a ser presos. Os Estados Unidos da América e a França
preferiram o acordo do nuclear e, no caso da França, também as relações
comerciais, a acabar com a célula terrorista.
O Hezbollah e o seu séquito de
mortandade continuam a espalhar impunemente o terror. São eles que controlam o
Líbano, tal como o Hamas controla a Palestina e ambos são marionetas do jagunço
iraniano. A mim, causa-me repugnância, extremo nojo e um descrédito total na
que deveria ser a mais digna das atividades humanas: a política.
Cá pelo burgo, a coisa não se
adivinha fácil, mas quase aposto, assim, sem quaisquer sondagens nos resultados
do próximo dia dez março. Continuaremos a ter um partido socialista vencedor,
mas sem maioria, com acordos à esquerda, porque para que a oposição laranja
pudesse ser Governo em coligação, teria de conseguir capitalizar muitos votos
ao centro, para não precisar do senhor Ventura, esse papagaio populista e
oportunista, mas não me parece que tal aconteça. Continuaremos um eterno país
periférico e com um distanciamento assinalável da Europa, continuaremos a sua
colónia de férias e pobres, como sempre fomos. Quem nasceu para lagartixa nunca
chega a jacaré, já dizia o outro…
Nina M.
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