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sábado, 6 de janeiro de 2024

Crónica de Maus Costumes 355

 

Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré

               Vejo pouca televisão. Se estiver só por casa, só raramente a ligo e quando o faço, normalmente, é para ir em busca de um programa específico, que normalmente até já passou e eu recupero.

Ontem, fui recuperar o terceiro e último episódio da temporada 1, não sei se haverá uma segunda, sobre o Hezbollah. De seguida, calhou de ver O Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer, com a participação do Ricardo Araújo Pereira, o Pedro Mexia e o João Miguel Tavares, moderados pelo Carlos Vaz Marques. Tenho de ver se me lembro que é à sexta, porque gosto de ouvir os três marretas sobre os temas que marcam a atualidade.

A pré-campanha eleitoral já está ao rubro. Sempre desejamos que se discutam ideias concretas e definidas para o país e se deixem de politiques a bem da democracia, mas não vejo jeitos de tal acontecer. Voltaremos aos ataques pessoais e tentativas de sabotagem da imagem do adversário, de parte a parte, ainda que para atingir o Pedro Nuno Santos não seja necessário muito, a sua prestação, enquanto ministro das infraestruturas fala por si e a imagem não é boa. Detestei que o PS tivesse posto à frente do partido tal figura, mas ainda hoje, ouvi na TSF um socialista entrevistado, a propósito do congresso, a dizer que não faltavam figuras ímpares no partido socialista para se apresentarem como candidatos a Presidentes da República, pois não têm sabido arranjar consensos nessa matéria. O senhor foi citando os nomes que lhe mereciam respeito: Santos Silva (detesto a sua arrogância e a sua vaidade bacoca, nunca terá o meu voto), o Carlos César, o açoriano que a dada altura quase transformou a Assembleia numa empresa familiar, o António Costa, o agora ex-primeiro-ministro demissionário e António Vitorino. Ora, de tantas figuras mencionadas, só o António Costa, apesar de tudo, mas sobretudo o António Vitorino me parece, efetivamente, um bom candidato.

Já agora, faço um parênteses para prestar um agradecimento aos jornalistas da TSF, Diário de Notícias, jornal de Notícias, entre outros, que vivem momentos aflitivos, inacreditáveis e inadmissíveis. Enfrentam a ameaça de um despedimento coletivo e há quem não esteja a receber salário, mas continue a trabalhar, a fazer-nos chegar a informação. A TSF, que se impôs como uma rádio de referência na informação e que é feita dos seus trabalhadores, merece mais, tal como os outros órgãos de comunicação. Manifesto a minha solidariedade para com aqueles que nada fizeram para se encontrarem nestas dificuldades, que colocam perguntas a quem tem a responsabilidade de gestão, mas não obtêm as respostas pretendidas. Em particular, envio um beijinho à Rute Fonseca. Desculpem-me o pequeno tergiversar, mas não podia deixar de mencionar aqueles que, para além de informar, acabam por ter um papel preponderante na regulação da democracia.

Retomando o assunto, a política portuguesa está sedenta de figuras de referência. Sempre que assisto à Circulatura do Quadrado, lamento a ausência do Pacheco Pereira e do Lobo Xavier no hemiciclo. São rostos credíveis, com sentido de estado, com a postura desejável. Parece-me que aqueles que mais poderiam dar à política fogem dela a sete pés e eu devo confessar que esses meandros são, demasiadas vezes, um lodaçal e há quem não goste de usar galochas.

Depois de ver o terceiro episódio sobre o Hezbollah, se a crença nos políticos é débil, não ficou melhor. Ficou provado que esse “Partido de Deus” (é o que significa o nome) não passa de uma associação criminosa. Não são “apenas” fanáticos religiosos, o que por si só já é mau o suficiente. O Hezbollah é uma associação de criminosos que trafica drogas, armas e efetua lavagem de dinheiro, num esquema internacional, com tentáculos espalhados pelos diversos continentes. O DEA (departamento policial americano responsável pela investigação de crimes relacionados com o tráfico de droga) foi quem fez a investigação que durou oito anos. Chegaram a prender cabecilhas importantes, por exemplo, um tal de Fayad, traficante de armas. O responsável por fazer chegar as armas à Síria. O povo libanês vive iludido e os pais sonham em gerar filhos para morrerem mártires e não percebem que, a troco do apoio monetário do Irão ao Hezbollah, são os seus filhos que são enviados para o terreno de combate. Foram eles que estiveram ao lado dos soldados de Bashar Al-Assad. Agora, não combatiam o infiel, não eram a resistência, matavam irmãos árabes. O número de baixas foi terrível para estes jovens que integraram o Hezbollah, mas o número de iranianos mortos foi residual. Espantem-se ou não… Há ligações do Hezbollah a Putin. Certo é que a investigação estava a correr bem, estava tudo preparado para a desmontar e prender o cabecilha responsável pela lavagem de dinheiro em Paris, quando a mais alta política se intrometeu. A ideia era derrotar a célula terrorista através da falência económica, mas o DEA começou a incomodar em demasia. Em 2016, a França, por intermédio de François Hollande, assinava cerca de trinta acordos com o Presidente iraniano, acordos comerciais e o acordo sobre o nuclear iraniano. Também Obama, juntamente com Biden, seu vice-presidente, saudaram o acordo nuclear alcançado com o Irão. A comunidade internacional rejubilou. Certo é que não há coincidências e enquanto a comunidade internacional saudava os referidos acordos, a investigação foi abortada, de um momento para o outro. Os investigadores foram transferidos para outras funções. Os prisioneiros que iriam responder pelos seus crimes (Fayad foi preso em Praga para poder ser extraditado e julgado nos Estados Unidos) foram soltos e outros nunca chegaram a ser presos. Os Estados Unidos da América e a França preferiram o acordo do nuclear e, no caso da França, também as relações comerciais, a acabar com a célula terrorista.

O Hezbollah e o seu séquito de mortandade continuam a espalhar impunemente o terror. São eles que controlam o Líbano, tal como o Hamas controla a Palestina e ambos são marionetas do jagunço iraniano. A mim, causa-me repugnância, extremo nojo e um descrédito total na que deveria ser a mais digna das atividades humanas: a política.

Cá pelo burgo, a coisa não se adivinha fácil, mas quase aposto, assim, sem quaisquer sondagens nos resultados do próximo dia dez março. Continuaremos a ter um partido socialista vencedor, mas sem maioria, com acordos à esquerda, porque para que a oposição laranja pudesse ser Governo em coligação, teria de conseguir capitalizar muitos votos ao centro, para não precisar do senhor Ventura, esse papagaio populista e oportunista, mas não me parece que tal aconteça. Continuaremos um eterno país periférico e com um distanciamento assinalável da Europa, continuaremos a sua colónia de férias e pobres, como sempre fomos. Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré, já dizia o outro…

 

Nina M.

 

 

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