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sábado, 2 de setembro de 2023

Crónica de Maus Costumes 337

 

« C’est la rentrée »

            Setembro. Mais um ano letivo prestes a iniciar, porém, o iniciar das rotinas não é só para alunos, pais e professores. De uma forma geral, a sociedade volta ao ativo. Reinicia também a temporada política e começam os tradicionais discursos e encontros com jovens, assim como a festa do Avante. O final de agosto e início de setembro é sempre marcado por esta euforia que anuncia novos tempos e novas ações.

No final da primeira semana, já ninguém se lembra e tudo continua semelhante ao que sempre foi. Neste aspeto, destaco a coerência do senhor ministro da educação, que terminou o ano letivo de costas voltadas para os professores, acusando-os de irresponsabilidade e começa como terminou. Numa entrevista, subliminarmente, fez duas coisas: propaganda mentirosa, como o colega Paulo Guinote já explicou e bem, no programa 360 e, mais uma vez, de mansinho, atirou achas para a fogueira, queimando mais a imagem dos professores junto da opinião pública. A propaganda diz respeito à colocação de professores, que está longe de satisfazer as necessidades reais das escolas de algumas regiões. Este ano, os professores entrados para o quadro ainda não serão colocados aonde fazem falta. Evidentemente, foi a cenoura que o ministério lhes atirou e que este ano os professores morderam, no próximo, logo se verá. Os que ficarem onde pretendem, pois muito bem, terão as suas vidinhas minimamente resolvidas, os que forem atirados para onde não querem ir ou se resignam ou rescindem contrato. Conheço gente que afirma rescindir, no caso de ficar longe da família. O senhor ministro continua sem perceber que os professores não auferem salário que lhes permita viver em Lisboa ou no Algarve, até porque uma grande maioria já tem família constituída. Pagar duas casas não é fácil, principalmente, ao preço que se encontram nalgumas regiões do país. Toda a gente já percebeu como conseguiria reduzir substancialmente o problema, exceto o senhor que tem a responsabilidade da tutela. Desta forma, o assunto não está resolvido e o senhor ministro parece viver numa realidade virtual criada por ele e para ele. Depois, a questão das greves agendadas já para o arranque do ano letivo, que se adivinha conturbado, e da missiva de João Costa a sugerir que os professores devem pensar nos seus alunos… Pois com certeza e os docentes fazem-no constantemente, mas podemos devolver-lhe a responsabilidade. Sabe, senhor ministro, o senhor deve ser o primeiro a pensar nos alunos e, para isso, deve dialogar e resolver a contenda com os seus professores, que por acaso também são pais e também têm filhos na escola pública. O senhor e o seu Governo têm-nos sonegado tempo de serviço efetivamente trabalhado. Facto. Queremos recuperá-lo e é da mais elementar justiça, até porque neste país há professores que já o recuperaram integralmente (e bem). Temos tido paciência de Job ao longo dos anos, mas a vasilha enche e a paciência esgota-se. Assim, no caso das greves, a responsabilidade é inteiramente sua, porque o senhor não ouve. Uma negociação implica cedências de parte a parte, mas o ministério não cede nada no que seria essencial. Tem apenas engonhado, para usar uma expressão nortenha, para ver se vence pelo cansaço. Joguinhos políticos de muito mau gosto e de pouca retidão.

Perante este cenário, caros colegas, não sei que vos diga, para além de vos desejar um bom ano letivo e resistência para aguentar o que por aí virá, porque o desgaste vai sendo muito.

A todos os colegas que passaram pelo Agrupamento onde leciono e rumaram a outras paragens, faço votos de muito sucesso pessoal e profissional. Os que permanecem, em breve, encontrar-nos-emos no sítio do costume, naquela que é a nossa segunda casa, a escola, para trabalhar em prol dos alunos, independentemente das greves que possam ou não ser realizadas. Aos que chegam pela primeira vez, dizer-lhes que serão bem recebidos, como é apanágio da casa.

Até já!

 

Nina M.

 

 

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