Revolta e
indignação
Trago
dois assuntos para a agenda de hoje: Ronaldo e professores.
Relativamente
ao Ronaldo, dizer que anseio pelo fim da novela que a comunicação social, redes
sociais e a própria família criam em torno do homem. Para ele, apenas uma
palavra: obrigada, pelo tanto que deu à seleção e, sobretudo, pelo coração que
põe quando traz as quinas ao peito. Aos que o destratam sem tino, sem
consciência e sem razão sugiro que se remetam ao silêncio. Ronaldo não é nem
nunca foi o meu ídolo. Só tive um e esse partiu há duas semanas. Porém, sei
reconhecer no Cristiano a grandeza futebolística que tem, fruto do seu esforço,
da sua dedicação e da sua superação. Sei, sobretudo, ser reconhecida pelo facto
de levar o nome de Portugal ao mundo e de defender acerrimamente as cores do
seu país. Cristiano é um jogador gigante em fim de carreira, mas continua
humano, cheio de virtudes e de defeitos também. Não me interessa se é mais ou
menos arrogante, se falhou aqui ou ali, como todos nós. Quem foi sempre
esclarecido e nunca errou atire a primeira pedra, já dizia Cristo, ou então
aqueles que tanto o criticam que digam o contributo maior que deram ao seu
país. Cristiano conquistou o mundo e agora, do alto dos seus trinta e sete
anos, o corpo não responde com a mesma agilidade e rapidez, não porque ele não
se empenhe seriamente, mas porque o rendimento já não pode ser o que foi. Está
a ser muito penoso para ele aceitá-lo e digerir. É difícil compreender que quem
se esforça e se exige tanto tenha problemas em aceitar o que a quem está de
fora parece óbvio?!
Respeito
por quem já trouxe tantas alegrias desportivas ao país e empatia para que ele
possa aceitar a nova realidade. Ser-se compreensivo e respeitador para com ele
não significa ser condescendente, penso que nem ele o quereria quando caísse em
si. Se Ronaldo não tem capacidade física para fazer os noventa minutos, não faz
ou não joga. Certo. Nunca comprometer o coletivo em nome do individual, mas
respeitar quem deu tanto implica não se regozijar com o seu mau momento,
implica não ser cruel nem maldoso e nem é uma questão de generosidade, mas de
caráter. Assim o entendo.
Por
isto, Ronaldo, mesmo não gostando quando, de alguma forma, hostilizas o meu
clube, desejei muito que pudesses ser o herói do jogo, uma última vez. Não foi
possível. Nem sempre é possível. Sabes um segredo… Os melhores heróis trazem
sempre consigo algum lastro de derrota. Terás de o superar, porque o céu já o
alcançaste, independentemente de tudo.
Fecho
este separador e passo abruptamente para os professores e a sua luta. Não posso
deixar de fazer, também por aqui, o apelo à união dos professores, em primeiro
lugar e, depois, aos sindicatos. Perante mais um ataque soez à classe, pede a
razão que nos batamos pela defesa da classe, mas também da escola pública, tão
de si depauperada pelas sucessivas governações.
Não! Os professores não querem ver a sua
liberdade de escolha posta em causa em nome da gestão de recursos humanos. Não!
Os professores não querem estar sujeitos à vontade e perfis maleáveis e manhosos
e que permitem a adulteração da escolha de um profissional. Não! Os professores
não querem ver sonegado o direito de se aproximar da sua área de residência,
porque ao contrário do que o senhor ministro diz, muitos de nós não moram onde
trabalham, porque já têm uma vida feita e habitação própria noutro lugar. O
professor poderá, eventualmente, viver onde trabalha se lhe forem dadas
condições para tal. Não! Os professores não querem andar de escola para escola
entre concelhos ou até no mesmo, na sua própria viatura e com combustível pago
do seu bolso, porque ou as escolas distam mais de cinco quilómetros ou ninguém
lhes paga o gasóleo e o desgaste. Não! Os professores não querem ficar à espera
numa lista interminável, quando são muito bons, mas as quotas dizem que não o
podem ser. Não! Os professores não querem perder a sua liberdade de pensar, de
se pronunciar e de agir, ao abrigo de uma coerção camuflada de poderem vir a
ficar sem o seu lugar se forem uma voz dissonante. Não! Os professores não
querem ser marionetas nas mãos dos que até ao momento só nos desgovernam. E
não! Os professores não querem lutas fofinhas e inócuas, serviçais, à espera da
esmolinha! Os professores querem, porque merecem, todo o respeito da sociedade
e este, meus amigos, não é feito de meras palmadinhas nas costas em tempos
difíceis, mas com ações concretas de dignificação da carreira. Um governo
ingrato que não reconhece nem tem interesse em proporcionar uma escola pública de
qualidade e que vive à custa do espírito de missão dos professores, porque o têm
e volta-se contra eles, não é de confiança. Não!
É
hora de dizer: Basta!
Às
associações sindicais apelo para que terminem com as “guerras de alecrim e de
manjerona”, que acabem com as suas guerrinhas de interesses, pois os tempos são
duros e de luta. Os professores estão mobilizados. Cavalguem essa mobilização
e, sobretudo, não nos falhem como tem vindo a acontecer. Não queremos acordos
razoáveis sempre com prejuízo para o nosso bolso. Queremos uma escola que seja
merecedora do nosso empenho e da nossa motivação e que nos reconheça o esforço.
Não se fazem reformas contra as pessoas! Fazem-se reformas pelas pessoas e elas
são os professores e os seus alunos!
Aos
encarregados de educação dizer-lhes que nós, professores, também somos pais com
filhos nas escolas públicas e que têm também os seus professores em greve. De seguida,
alertá-los para duas realidades que parecem não querer compreender: dentro de
pouco tempo, a falta de professores será avassaladora e da forma que tratam a
classe, a desvalorizam e achincalham, poucos serão os jovens que virão para o
ensino; depois, para colmatar essa falha arranjarão alguém com algum
conhecimento superficial sobre os assuntos para ensinar os vossos filhos…
Voltamos à década de oitenta em que havia profissionais no ensino de bradar aos
céus! Apesar de, como em todos os ofícios alguns de nós serem melhores do que
outros, acreditem que nunca a educação teve profissionais tão bem preparados e
começa a perdê-los, sem retorno. A mim, se me quiserem reformar e deixarem
trazer para casa o ordenado intacto, eu bato com a porta.
Gosto
de ser professora e não tenho pejo em dizer que sou muito boa profissional
dentro de uma sala de aula. Gosto de sentir os meus olhos brilharem e o meu
sangue ferver quando lhes falo do revolucionário Garrett, do sarcasmo e
inteligência do Eça, do príncipe Camões, daquele que o queria suplantar, o
Fernando e as suas Pessoas e do nosso génio último, o nosso Nobel que tanto nos
orgulha. É isso que faço com gosto e sei que os meus alunos farão a justiça de
o reconhecer. Cansada! Não dos nossos jovens cada vez mais difíceis de motivar,
mas de sucessivos Governos que querem fazer da escola pública o esgoto nacional
e dos seus professores, capachos sem voz ativa!
Acordem,
colegas!
“É a
hora!
Valete,
fratres.”
Nina
M.
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