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sábado, 3 de dezembro de 2022

Crónica de Maus Costumes 302

 

Quem tem filhos tem cadilhos

As pessoas que mais amamos são as que têm o condão de tornar o dia claro ou de o fazer de nevoeiro e de chuva intensa. São as que nos dão as maiores alegrias e, paradoxalmente, as que nos causam os maiores padecimentos e preocupações. Às vezes, conseguem ambos num curto espaço de tempo.

As pessoas que uma mãe mais ama são os filhos. Acima dela mesma e, por cansada que esteja, não há esforço que não desenvolva para os ver no caminho certo, que pode ser o que eles escolherem, mas pelo qual devem trabalhar. Quando se tem filhos que não assumem as suas responsabilidades como devem ser assumidas, esse comportamento deve ser acompanhado de perda de direitos, mas de forma positiva e construtiva. Um equilíbrio difícil de se conseguir quando eles são obstinados na teimosia.

A necessidade de autonomia e de bons resultados não se compadece do ritmo de cada um, no mundo quantitativo e competitivo em que vivemos. Os que se inquietam com essas pressas e esses ritmos terão de se adaptar ao mundo em que vivem, mesmo que ele contrarie os valores que se andou a aprender. Se ao jovem foi ensinado que a cooperação é mais interessante do que a competição ou, pior ainda, se a preferência pelo desligamento e abandono da competição é um traço de personalidade, está o miúdo e estão os pais envolvidos em sarilhos. O jovem, porque não entende o motivo de ter de ser assim e a cenoura do sucesso profissional com que se lhes acena é ainda um futuro demasiado longínquo e os pais porque sabem a realidade em que se mexem e sabem que a vida atropela os mais incautos.

A colisão entre estas duas forças opostas gera desconforto para todos, até porque as expetativas de uns não são coincidentes com as dos outros. Fazer com que o jovem compreenda que não basta a positiva para entrar na Universidade, mas que tem de estudar seriamente, se o quiser fazer, é trabalho hercúleo.

O controlo e o aperto parental no que diz respeito à imposição de estudar, a partir de determinada idade, são dificílimos. Então, para os que até têm ambições, mas estas exigem trabalho que não se gosta de fazer, é uma cruz! Um dossiê a ser gerido com cautela e negociado, sempre à espera que a maturidade dê o sinal de sua graça ou então que o medo da perda de certos privilégios possa espoletar a ação.

Até lá, aconselho o remédio que eu tomo: quilos de paciência a ingerir pela manhã, com reforço a meio da tarde, e um acompanhamento próximo, o que para quem detesta o controlo se revela uma medicação indigesta, mas necessária e, ainda assim, às vezes, ineficaz.

Para além disto, resta acender a velinha para Santo Efrén, que propõe a seguinte oração:

Senhor e Mestre de minha vida,

Afasta de mim o espírito de preguiça,

De abatimento, de domínio, de loquacidade,

E concede a mim, teu servo,

um espírito de integridade,

de humildade, de paciência e de amor.

Sim, Senhor e Rei,

Concede ver os meus pecados

E não julgar os meus irmãos

 Há que aproveitar e pedir por nós, pelos filhos e, já agora, pelos alunos, que padecem do mesmo mal. Ainda estive para retirar a loquacidade da equação, mas adulteraria o original. No entanto, faço o reparo de que se esta não for no sentido pejorativo da verborreia vazia, pode e deve ser estimulada. Se for para os fala-barato que não deixam ninguém descansar às oito da manhã, com tanto paleio para nada dizer, então, que a abandonem para sempre! Porém, Santo Efrén, que seriam os escritores sem ela?!

Diz o povo que quem não pede Deus não ouve… Peçamos.

 

Nina M.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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