Quem tem filhos tem cadilhos
As
pessoas que mais amamos são as que têm o condão de tornar o dia claro ou de o
fazer de nevoeiro e de chuva intensa. São as que nos dão as maiores alegrias e,
paradoxalmente, as que nos causam os maiores padecimentos e preocupações. Às
vezes, conseguem ambos num curto espaço de tempo.
As
pessoas que uma mãe mais ama são os filhos. Acima dela mesma e, por cansada que
esteja, não há esforço que não desenvolva para os ver no caminho certo, que
pode ser o que eles escolherem, mas pelo qual devem trabalhar. Quando se tem
filhos que não assumem as suas responsabilidades como devem ser assumidas, esse
comportamento deve ser acompanhado de perda de direitos, mas de forma positiva
e construtiva. Um equilíbrio difícil de se conseguir quando eles são obstinados
na teimosia.
A
necessidade de autonomia e de bons resultados não se compadece do ritmo de cada
um, no mundo quantitativo e competitivo em que vivemos. Os que se inquietam com
essas pressas e esses ritmos terão de se adaptar ao mundo em que vivem, mesmo
que ele contrarie os valores que se andou a aprender. Se ao jovem foi ensinado
que a cooperação é mais interessante do que a competição ou, pior ainda, se a
preferência pelo desligamento e abandono da competição é um traço de
personalidade, está o miúdo e estão os pais envolvidos em sarilhos. O jovem,
porque não entende o motivo de ter de ser assim e a cenoura do sucesso
profissional com que se lhes acena é ainda um futuro demasiado longínquo e os
pais porque sabem a realidade em que se mexem e sabem que a vida atropela os
mais incautos.
A
colisão entre estas duas forças opostas gera desconforto para todos, até porque
as expetativas de uns não são coincidentes com as dos outros. Fazer com que o
jovem compreenda que não basta a positiva para entrar na Universidade, mas que
tem de estudar seriamente, se o quiser fazer, é trabalho hercúleo.
O
controlo e o aperto parental no que diz respeito à imposição de estudar, a
partir de determinada idade, são dificílimos. Então, para os que até têm
ambições, mas estas exigem trabalho que não se gosta de fazer, é uma cruz! Um
dossiê a ser gerido com cautela e negociado, sempre à espera que a maturidade
dê o sinal de sua graça ou então que o medo da perda de certos privilégios
possa espoletar a ação.
Até
lá, aconselho o remédio que eu tomo: quilos de paciência a ingerir pela manhã,
com reforço a meio da tarde, e um acompanhamento próximo, o que para quem
detesta o controlo se revela uma medicação indigesta, mas necessária e, ainda assim,
às vezes, ineficaz.
Para
além disto, resta acender a velinha para Santo Efrén, que propõe a seguinte oração:
Senhor e Mestre de minha vida,
Afasta de mim o espírito de preguiça,
De abatimento, de domínio, de loquacidade,
E concede a mim, teu servo,
um espírito de integridade,
de humildade, de paciência e de amor.
Sim, Senhor e Rei,
Concede ver os meus pecados
E não julgar os meus irmãos
Há que aproveitar e pedir por nós, pelos filhos e, já agora, pelos alunos, que padecem do mesmo mal. Ainda estive para retirar a loquacidade da equação, mas adulteraria o original. No entanto, faço o reparo de que se esta não for no sentido pejorativo da verborreia vazia, pode e deve ser estimulada. Se for para os fala-barato que não deixam ninguém descansar às oito da manhã, com tanto paleio para nada dizer, então, que a abandonem para sempre! Porém, Santo Efrén, que seriam os escritores sem ela?!
Diz
o povo que quem não pede Deus não ouve… Peçamos.
Nina
M.
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