La rentrée
Setembro. Tempo de regresso ao
trabalho e, como o prometido é devido, à habitual rubrica.
Começo por desejar um bom ano letivo
a toda a comunidade educativa. Professor que é professor funciona por ano
letivo e não civil. Para nós, o ano começa agora e não em janeiro! Começa mal,
como já vem sendo apanágio desde alguns anos a esta parte! Ora as colocações se
atrasam (voltou a acontecer para os contratados, que se veem com a casa às costas
de um dia para o outro, sem saber o que fazer à vida… Muitos têm filhos
pequenos e uma família para gerir e a falta de respeito para com eles é atroz!
Sei do que falo, porque passei o mesmo durante vinte anos!) ora o ano letivo
abre sem professores suficientes para suprir as necessidades das escolas ora há
problemas com os concursos… Este ano, a cereja no topo do bolo e que foi sendo
preparada ao longo de agosto, é a abertura da profissão docente a qualquer
pessoa que tenha uma vaga noção sobre certa matéria. Voltamos aos anos oitenta,
assistimos a um retrocesso civilizacional, comprometemos a aprendizagem de
qualidade a que os cidadãos têm direito, para além de ser uma afronta a todos
os professores. Ao tomar esta opção, o Governo mostra que apenas pretende
resolver rapidamente o problema da falta de professores, sem atender à
qualidade, pelo que se deduz que a educação é um problema menor para o país.
Ninguém morre por falta de educação, mas pode-se morrer por falta de médicos e
adivinhe-se lá, não há bons médicos sem bons professores! Depois, parte-se do
princípio absurdo que basta o conhecimento sobre certas matérias para se ser
professor. Significa que afinal as Ciências da Educação não servem para nada e
que as cadeiras pedagógicas a que fomos submetidos na faculdade também não!
Seria bom que todos compreendessem que o facto de alguém saber resolver uns
exercícios de matemática, saber falar, ler e escrever em inglês, português ou
outra língua, não habilita ninguém para a docência. Há uns anos queriam submeter
os professores contratados, depois de terem passado pela universidade e pelo
estágio pedagógico, a uma prova que comprovasse o seu conhecimento. Significa
que havia uma desconfiança mesquinha relativamente às Instituições que preparam
os alunos e que os deixariam sair sem as competências necessárias! Com a
atualização dos cursos, no pós-bolonha, para se lecionar passou a ser
necessário o mestrado em ensino, pelo facto de a licenciatura ter passado para
três anos em vez dos cinco habituais, mas agora, como a carência de professores
em certas zonas do país é muita, vale tudo!
Os pais têm um papel importante e
não vejo movimentação por parte da CONFAP, por exemplo! Será que compreendem
que estas medidas comprometem a qualidade do ensino?!
Quanto ao senhor João Costa, o
verdadeiro ministro desde sempre, porque era o secretário no tempo do senhor
Tiago Brandão e era ele quem já pensava e pensa a política educativa, com esta
medida, envergonha os seus pares. Não se esqueça o senhor ministro de que é
professor! De linguística! Acha verdadeiramente possível que alguém, ainda que
fale e escreva corretamente Português, faça aprender a gramática da língua com
competência? Faça analisar e faça saber explicar as obras de leitura
obrigatória? Não brinquemos com coisas demasiado sérias, senhor ministro! O seu
magistério ficará manchado pelo retrocesso civilizacional a que submete a
educação deste país.
Já o tinha adivinhado e já tinha
escrito que seria esta a solução encontrada pelos futuros governos do país para
resolver a falta de professores e como gostaria de me ter enganado! Como teria
ficado feliz! Sinal de que ainda haveria uma réstia de esperança…
Para resolver o problema da falta de
professores, principalmente em Lisboa e Algarve, o que deveria ser feito era um
apoio pecuniário para alojamento. Um professor contratado, mesmo com horário
completo, não ganha para se manter nesses locais, principalmente, se tiver já
família formada. Criem-se residências para professores, por exemplo;
valorize-se a profissão através de uma real progressão na carreira, através do
reconhecimento social do papel do professor e de salários condignos! Este seria
o caminho para atrair jovens para o ensino, garantindo-lhes formação de
qualidade e de exigência! Siga-se também o exemplo da Finlândia, no que diz
respeito ao tratamento da sua classe docente e não apenas nos seus modelos educativos!
O ensino é tão bom e tão confiável, tal como os seus profissionais, que não há
colégios privados! Não há essa necessidade.
Haja
essa coragem, senhor ministro!
Haja
a coragem de levantarmos a voz contra este atentado, caros colegas! Haja nojo moral
e sentido de honra e de decência!
Nina
M.
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