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sábado, 3 de setembro de 2022

Crónica de Maus Costumes 289

 La rentrée

            Setembro. Tempo de regresso ao trabalho e, como o prometido é devido, à habitual rubrica.

            Começo por desejar um bom ano letivo a toda a comunidade educativa. Professor que é professor funciona por ano letivo e não civil. Para nós, o ano começa agora e não em janeiro! Começa mal, como já vem sendo apanágio desde alguns anos a esta parte! Ora as colocações se atrasam (voltou a acontecer para os contratados, que se veem com a casa às costas de um dia para o outro, sem saber o que fazer à vida… Muitos têm filhos pequenos e uma família para gerir e a falta de respeito para com eles é atroz! Sei do que falo, porque passei o mesmo durante vinte anos!) ora o ano letivo abre sem professores suficientes para suprir as necessidades das escolas ora há problemas com os concursos… Este ano, a cereja no topo do bolo e que foi sendo preparada ao longo de agosto, é a abertura da profissão docente a qualquer pessoa que tenha uma vaga noção sobre certa matéria. Voltamos aos anos oitenta, assistimos a um retrocesso civilizacional, comprometemos a aprendizagem de qualidade a que os cidadãos têm direito, para além de ser uma afronta a todos os professores. Ao tomar esta opção, o Governo mostra que apenas pretende resolver rapidamente o problema da falta de professores, sem atender à qualidade, pelo que se deduz que a educação é um problema menor para o país. Ninguém morre por falta de educação, mas pode-se morrer por falta de médicos e adivinhe-se lá, não há bons médicos sem bons professores! Depois, parte-se do princípio absurdo que basta o conhecimento sobre certas matérias para se ser professor. Significa que afinal as Ciências da Educação não servem para nada e que as cadeiras pedagógicas a que fomos submetidos na faculdade também não! Seria bom que todos compreendessem que o facto de alguém saber resolver uns exercícios de matemática, saber falar, ler e escrever em inglês, português ou outra língua, não habilita ninguém para a docência. Há uns anos queriam submeter os professores contratados, depois de terem passado pela universidade e pelo estágio pedagógico, a uma prova que comprovasse o seu conhecimento. Significa que havia uma desconfiança mesquinha relativamente às Instituições que preparam os alunos e que os deixariam sair sem as competências necessárias! Com a atualização dos cursos, no pós-bolonha, para se lecionar passou a ser necessário o mestrado em ensino, pelo facto de a licenciatura ter passado para três anos em vez dos cinco habituais, mas agora, como a carência de professores em certas zonas do país é muita, vale tudo!

            Os pais têm um papel importante e não vejo movimentação por parte da CONFAP, por exemplo! Será que compreendem que estas medidas comprometem a qualidade do ensino?!

            Quanto ao senhor João Costa, o verdadeiro ministro desde sempre, porque era o secretário no tempo do senhor Tiago Brandão e era ele quem já pensava e pensa a política educativa, com esta medida, envergonha os seus pares. Não se esqueça o senhor ministro de que é professor! De linguística! Acha verdadeiramente possível que alguém, ainda que fale e escreva corretamente Português, faça aprender a gramática da língua com competência? Faça analisar e faça saber explicar as obras de leitura obrigatória? Não brinquemos com coisas demasiado sérias, senhor ministro! O seu magistério ficará manchado pelo retrocesso civilizacional a que submete a educação deste país.

            Já o tinha adivinhado e já tinha escrito que seria esta a solução encontrada pelos futuros governos do país para resolver a falta de professores e como gostaria de me ter enganado! Como teria ficado feliz! Sinal de que ainda haveria uma réstia de esperança…

            Para resolver o problema da falta de professores, principalmente em Lisboa e Algarve, o que deveria ser feito era um apoio pecuniário para alojamento. Um professor contratado, mesmo com horário completo, não ganha para se manter nesses locais, principalmente, se tiver já família formada. Criem-se residências para professores, por exemplo; valorize-se a profissão através de uma real progressão na carreira, através do reconhecimento social do papel do professor e de salários condignos! Este seria o caminho para atrair jovens para o ensino, garantindo-lhes formação de qualidade e de exigência! Siga-se também o exemplo da Finlândia, no que diz respeito ao tratamento da sua classe docente e não apenas nos seus modelos educativos! O ensino é tão bom e tão confiável, tal como os seus profissionais, que não há colégios privados! Não há essa necessidade.

Haja essa coragem, senhor ministro!

Haja a coragem de levantarmos a voz contra este atentado, caros colegas! Haja nojo moral e sentido de honra e de decência!

 

Nina M.

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