A importância dos famosos “rankings” das escolas
Ontem e hoje, o assunto das redes
sociais, mais uma vez, como todos os anos, desde que foram inventados, são os
famosos “rankings” que ordenam as escolas do país pelos resultados dos seus
alunos nos exames nacionais, nas mais variadas disciplinas.
A partir desta ordenação, infere-se,
numa análise pouco cuidada e pouco credível, apesar da objetividade dos
resultados, quais as melhores escolas do país e quais as piores. Trata-se de
uma depuração deturpada, porque insiste em comparar realidades incomparáveis.
Desde logo mistura a escola pública com colégios privados, que como toda a
gente de bom senso reconhece, tem alunos com perfis diferenciados. Os privados
são procurados por famílias com condições económicas e sociais distintas, que
conseguem proporcionar um acompanhamento escolar diferente aos seus filhos.
Muitos dos alunos que frequentam o ensino privado procuram, ainda assim, a
ajuda de explicadores externos (muitos deles trabalham na escola pública e são
pessoas competentes) para colmatar uma ou outra dificuldade que possam ter. Não
vejo qualquer mal naqueles que têm possibilidades económicas em escolher um
privado do seu agrado e propiciar todo o auxílio de que o filho possa
necessitar. Se o podem pagar têm toda a legitimidade para o fazer. Erradas são
as análises subsequentes e considerar-se a escola x melhor do que a y, porque a
média obtida pelos alunos nos exames realizados é mais elevada. Só poderemos
estabelecer esse tipo de comparação quando as condições forem as mesmas e a
verdade é que não são. A escola deixou de ser um elevador social há algum
tempo. A maioria dos meninos que frequenta o privado pertence, no mínimo, a uma
classe média alta e quando de lá sair a ela continua a pertencer. Estas
escolas, na generalidade, escolhem os alunos e não são inclusivas. Com
jeitinho, os seus professores não precisam de conhecer o Decreto-lei 54. Estas
escolas não precisam de fornecer a única refeição quente do dia ao aluno, o
suplemento alimentar para que as crianças possam tomar pequeno-almoço, nem
solicitar a intervenção da CPCJ, não precisam de lhes incutir hábitos de
higiene nem de garantir que, pelo menos, na escola, os meninos tomam banho.
Estas escolas também não têm que lidar com os alunos que não querem estudar e
que prefeririam estar a trabalhar. Obviamente, nem todos os alunos da escola
pública têm este perfil. A escola pública alberga todos, porque é uma escola
pensada para todos: do mais miserável ao mais burguês, do menos capacitado ao
mais capacitado e, com a realidade que tem, cumpre o melhor que pode com os
escassos meios que lhe são dados. Há muito se faz omeletes sem ovos na escola
pública, com os esforço de toda a comunidade educativa, passando pela direção,
pelos auxiliares (muitos deles autênticos tutores de certos alunos e merecem
todo o reconhecimento) e, naturalmente, pelos professores. Comparar resultados
de exames em universos tão distintos é uma falácia! Seria como comparar um
atleta de alta competição em determinado desporto a um atleta amador. Gosto de
fazer as minhas corridinhas, mas não preciso de testar para saber que se fosse
correr com a Aurora Cunha, Rosa Mota ou Fernanda Ribeiro não seria capaz de
aguentar o ritmo delas. Estabelecer comparações entre escolas sem atender à
realidade económica e social dos seus discentes é ser apenas tonto. A melhor
garantia de sucesso de um aluno continua a ser o meio social de onde provém e a
sua família. É contra a desigualdade social que a escola pública se bate. Todos
os dias se trabalha para que os alunos que a frequentam venham a ter melhor
qualidade de vida do que as gerações anteriores. Pelos vistos, a escola pública
está a perder a luta. Certo é que estes “rankings” servem apenas para estigmatizar
as escolas que aparecem nos últimos lugares, como se não estivessem a cumprir
bem o seu papel, à luz da ideia de que a competição e a meritocracia favorecem
a aprendizagem. Ora acontece que a realidade de um menino a quem são
proporcionadas viagens, explicações, instituto para o inglês, prática
desportiva, para além de um acompanhamento familiar próximo é diferente daquele
que abre o frigorífico e que o encontra vazio. Os primeiros partem seguramente
em vantagem. Obviamente, não têm culpa disso, que saibam aproveitar a
oportunidade, porque não fazem mais do que a sua obrigação. Grandes são os que
conseguiram superar as adversidades injustas que a vida lhes colocou com o seu
esforço. Esses têm, efetivamente, muito mérito. É essa a ideia constante que
passo aos meus filhos. Eles frequentam a escola pública tal como a mãe, que é
produto da escola pública, mas tanto eles, como eu, partimos com vantagem em
relação a muitos. É bom lembrar-lhes isto. É bom que saibam que o sucesso não é
inteiramente deles, mas também por um feliz acaso de nascimento e de criação.
Já nasceram num meio que lhes inspira expetativas elevadas e têm condições para
as realizar. Se falharem, peçam justificações a eles mesmos. Mesmo dentro da
escola pública encontramos estas desigualdades, logo o que deve ser feito é
conseguir proporcionar os meios de apoio aos mais desfavorecidos, para tentar
equilibrar ou, pelo menos, minimizar as diferenças. Sirvam os “rankings” para
se investir no ensino público, para que possa ser um efetivo ascensor social.
Tudo o resto são vaidades, egos
inflamados e pouco tino.
Nina M.
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