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sábado, 28 de maio de 2022

Crónica de Maus Costumes 278

  Festejos e civismo

                Os festejos do Futebol Clube do Porto continuam e, hoje, abre-se a Câmara e a sua varanda ao clube e às gentes da cidade e de fora que queiram celebrar o campeonato com o plantel da equipa. Espera-se que corra tudo pelo melhor e que não haja quaisquer incidentes. Com esse intuito foi mobilizado um forte contingente policial. Nos países e lugares civilizados, as pessoas devem poder sair à rua para manifestar a sua alegria em segurança, com a sua família.

            Devido ao homicídio que ocorreu na Alameda, no passado fim de semana, foram tomadas fortes medidas preventivas, a bem da população. Lastimo, como a generalidade dos portugueses, os funestos e dispensáveis acontecimentos. É, no entanto, necessário salvaguardar-se a correção dos factos e o bom nome do Futebol Clube do Porto que, em rigor, nada teve a ver com o sucedido. O crime deplorável é fruto de querelas particulares entre pessoas que, por acaso, são adeptas do mesmo clube, mas nem o móbil do crime está associado ao futebol. A pega entre ambas a personagens já vem de longe. Ao que parece, desentenderam-se também em Lisboa, no jogo em que a equipa se sagrou campeã e o homicida aproveitou o ajuntamento e a euforia da festa, onde não houve qualquer outro desacato, para matar violentamente aquele que era motivo de seu ódio visceral, por motivos de orgulho ferido e de macheza estúpida, como se pode ouvir pelos áudios que circulam na Internet. Um crime daquela natureza (não aconselho que vejam as imagens, mas posso afirmar que nem o porco na matança é vítima de tantos golpes) só se explica pela sede de vingança e pelo ódio. Um crime estúpido e cego perpetrado à frente de inúmeras testemunhas. O responsável será, obviamente, punido pelo desmando. Terá, provavelmente, o mesmo destino que o Pidá, agasalhado no estabelecimento prisional de Paços de Ferreira há muitos anos. Esperemos que o acontecimento não ganhe os mesmos contornos que o caso passado, em que as vítimas mortais foram várias, de ambos os lados, fazendo lembrar os gangues dos filmes americanos. Pelo que se sabe, já houve tiroteio no bairro de onde um deles é originário, que a vítima mortal tem irmãos presos e que aguardam a chegada de pai e filho para um ajuste de contas. Esperemos que haja discernimento, racionalidade e acomodação de desejos criminosos de vingança.

            Certo é que tal comportamento manchou a festa e quem o teve não dignificou sequer o clube, caso contrário, não teria aproveitado um momento de felicidade da equipa e dos adeptos para dar aso aos seus maus fígados. Infligiu o terror e o medo e, hoje, dia da festa oficial, havia gente com receio de ir aos Aliados festejar, por temer, subitamente, transformar-se num dano colateral de uma vingança mal calculada. Estamos perante um crime ao qual o clube é completamente alheio. O Futebol Clube do Porto repudiou, naturalmente, os acontecimentos, tendo endereçado as condolências à família.

            Os assassinos são elementos da claque Super Dragões, que está devidamente legalizada, com os seus membros identificados. Também o crime é alheio à claque e convém dizê-lo. Não foi praticado no seio da mesma nem propriamente no contexto de jogo. Devo acrescentar que considero as claques importantes para conferirem maior emotividade e alegria ao jogo. Sem elas, o ambiente seria insípido e os jogadores gostam de sentir o apoio dos adeptos. E são eles, os elementos da claque, que apoiam e cantam do início ao fim, com firme vontade. Atribuo, portanto, o devido valor às claques. No entanto, elas, como grupos de apoio legalizados, e os Super- Dragões até órgãos sociais têm, devem zelar pelo bom comportamento, dentro do que a lei permite a qualquer cidadão. No caso de haver incumprimento, essas pessoas teriam de ser severamente punidas. Assim se acabou com o holiganismo na Inglaterra, assim se acabaria com os comportamentos violentos dentro das claques. Este incidente foi fora do estádio, num contexto diferente e com diferentes motivações. Nem os assassinos teriam podido entrar com facas para o recinto desportivo, porém, quem age com esta violência, quem revela sangue-frio para retirar a vida a um ser humano, da forma mais hedionda possível, poderá agir com violência noutras circunstâncias. Talvez valha a pena investir mais na prevenção do que na reação.

A lei portuguesa tem de ser mais severa. Não compete ao clube nem ao líder dos Super Dragões (e não nutro qualquer simpatia nem admiração pelo Madureira) lidar com um caso que assume proporções destas. Um indivíduo que comete um crime desta natureza e que se comprove ter comportamentos desviantes não deveria poder ser membro de qualquer claque. Não são os clubes que o devem definir, mas tem de haver um quadro legal que o previna. Se eu, no âmbito da profissão que exerço, sou obrigada a apresentar um registo criminal limpo, por que razões não o exigem também a grupos associados legalizados desta natureza?

            Há uma reflexão que urge fazer e medidas que devem ser tomadas, a bem do futebol, dos próprios clubes e da boa cidadania. Espero que o bom senso volte a reinar e que qualquer possível desejo de vingança termine com a consciência de que nada devolverá a vida ao Igor. Descanse em paz.

 

Nina M.

                 

 

 

 

 

 

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