Festejos e civismo
Os festejos do Futebol Clube do Porto continuam e, hoje, abre-se a Câmara
e a sua varanda ao clube e às gentes da cidade e de fora que queiram celebrar o
campeonato com o plantel da equipa. Espera-se que corra tudo pelo melhor e que
não haja quaisquer incidentes. Com esse intuito foi mobilizado um forte
contingente policial. Nos países e lugares civilizados, as pessoas devem poder
sair à rua para manifestar a sua alegria em segurança, com a sua família.
Devido ao homicídio que ocorreu na
Alameda, no passado fim de semana, foram tomadas fortes medidas preventivas, a
bem da população. Lastimo, como a generalidade dos portugueses, os funestos e
dispensáveis acontecimentos. É, no entanto, necessário salvaguardar-se a
correção dos factos e o bom nome do Futebol Clube do Porto que, em rigor, nada
teve a ver com o sucedido. O crime deplorável é fruto de querelas particulares
entre pessoas que, por acaso, são adeptas do mesmo clube, mas nem o móbil do
crime está associado ao futebol. A pega entre ambas a personagens já vem de
longe. Ao que parece, desentenderam-se também em Lisboa, no jogo em que a
equipa se sagrou campeã e o homicida aproveitou o ajuntamento e a euforia da
festa, onde não houve qualquer outro desacato, para matar violentamente aquele
que era motivo de seu ódio visceral, por motivos de orgulho ferido e de macheza
estúpida, como se pode ouvir pelos áudios que circulam na Internet. Um crime
daquela natureza (não aconselho que vejam as imagens, mas posso afirmar que nem
o porco na matança é vítima de tantos golpes) só se explica pela sede de
vingança e pelo ódio. Um crime estúpido e cego perpetrado à frente de inúmeras
testemunhas. O responsável será, obviamente, punido pelo desmando. Terá,
provavelmente, o mesmo destino que o Pidá, agasalhado no estabelecimento
prisional de Paços de Ferreira há muitos anos. Esperemos que o acontecimento não
ganhe os mesmos contornos que o caso passado, em que as vítimas mortais foram
várias, de ambos os lados, fazendo lembrar os gangues dos filmes americanos. Pelo
que se sabe, já houve tiroteio no bairro de onde um deles é originário, que a
vítima mortal tem irmãos presos e que aguardam a chegada de pai e filho para um
ajuste de contas. Esperemos que haja discernimento, racionalidade e acomodação
de desejos criminosos de vingança.
Certo é que tal comportamento
manchou a festa e quem o teve não dignificou sequer o clube, caso contrário,
não teria aproveitado um momento de felicidade da equipa e dos adeptos para dar
aso aos seus maus fígados. Infligiu o terror e o medo e, hoje, dia da festa
oficial, havia gente com receio de ir aos Aliados festejar, por temer,
subitamente, transformar-se num dano colateral de uma vingança mal calculada.
Estamos perante um crime ao qual o clube é completamente alheio. O Futebol
Clube do Porto repudiou, naturalmente, os acontecimentos, tendo endereçado as
condolências à família.
Os assassinos são elementos da
claque Super Dragões, que está
devidamente legalizada, com os seus membros identificados. Também o crime é
alheio à claque e convém dizê-lo. Não foi praticado no seio da mesma nem
propriamente no contexto de jogo. Devo acrescentar que considero as claques
importantes para conferirem maior emotividade e alegria ao jogo. Sem elas, o
ambiente seria insípido e os jogadores gostam de sentir o apoio dos adeptos. E
são eles, os elementos da claque, que apoiam e cantam do início ao fim, com
firme vontade. Atribuo, portanto, o devido valor às claques. No entanto, elas,
como grupos de apoio legalizados, e os Super- Dragões até órgãos sociais têm,
devem zelar pelo bom comportamento, dentro do que a lei permite a qualquer
cidadão. No caso de haver incumprimento, essas pessoas teriam de ser
severamente punidas. Assim se acabou com o holiganismo na Inglaterra, assim se
acabaria com os comportamentos violentos dentro das claques. Este incidente foi
fora do estádio, num contexto diferente e com diferentes motivações. Nem os
assassinos teriam podido entrar com facas para o recinto desportivo, porém,
quem age com esta violência, quem revela sangue-frio para retirar a vida a um
ser humano, da forma mais hedionda possível, poderá agir com violência noutras
circunstâncias. Talvez valha a pena investir mais na prevenção do que na
reação.
A lei portuguesa tem
de ser mais severa. Não compete ao clube nem ao líder dos Super Dragões (e não
nutro qualquer simpatia nem admiração pelo Madureira) lidar com um caso que
assume proporções destas. Um indivíduo que comete um crime desta natureza e que
se comprove ter comportamentos desviantes não deveria poder ser membro de
qualquer claque. Não são os clubes que o devem definir, mas tem de haver um
quadro legal que o previna. Se eu, no âmbito da profissão que exerço, sou
obrigada a apresentar um registo criminal limpo, por que razões não o exigem
também a grupos associados legalizados desta natureza?
Há
uma reflexão que urge fazer e medidas que devem ser tomadas, a bem do futebol,
dos próprios clubes e da boa cidadania. Espero que o bom senso volte a reinar e
que qualquer possível desejo de vingança termine com a consciência de que nada
devolverá a vida ao Igor. Descanse em paz.
Nina M.
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