Saudações portistas
Digo logo ao que venho para avisar
os mais desprevenidos de que se não gostarem do título podem dispensar a
leitura do restante texto. Felicito o Futebol Clube do Porto, equipa técnica,
jogadores e todos os portistas, naturalmente. Soube bem, mas já acabou. Há que
pensar no próximo objetivo. Respeitosas saudações aos adversários, porque sem
eles, não seríamos campeões de coisa nenhuma. Ninguém joga contra si mesmo.
O Futebol Clube do Porto anda comigo
há anos, desde que me reconheço. Anda com todos nós, em casa, desde a infância,
afeição e paixão incutidas pelo pai. Um marcuense ou canavês, se preferirem,
que viveu no Porto, onde conheceu a esposa e veio parar a Paços de Ferreira,
terra da mulher. Entretanto, já tem mais anos de Paços do que do Marco, pelo
que será já mais pacense que outra coisa. O meu pai aprendeu também a gostar do
Paços, ainda no tempo em que se chamava Futebol Clube Vasco da Gama, pela mão
de um dos cunhados, o meu tio Agostinho, que nem cheguei a conhecer, por ter
morrido demasiado cedo. É sócio do Paços, mesmo que pela idade só vá ao estádio
em dias primaveris, mas o Futebol Clube do Porto é o primeiro amor.
Logicamente, hoje, o senhor Moreira ficou feliz.
Na minha infância, os jogos do Porto
eram acompanhados ao sábado à noite ou
ao domingo à tarde pela rádio. Era raro ver-se um jogo de futebol na televisão,
pelo que a paixão dedicada a um clube que nem se podia ver jogar não deixa de
ser curiosa. Noventa minutos de vozes corridas, velozes, a acompanhar os sprints dos jogadores. Creio mesmo que,
na maioria das vezes, os relatadores eram mais rápidos do que os próprios
atletas e conseguiam imprimir à partida a velocidade que ela não tinha. Por
isso, quando os jogos pela televisão se popularizaram ou quando se ia ao
estádio, perdia-se um pouco desse encantamento.
As
vozes eram-nos familiares, assim como o rosto do programa desportivo mais
emblemático de sempre: O Domingo
Desportivo. A Bola Branca também era
bastante aguardada. Gomes Amaro, a voz dos jogos do Porto, teve o privilégio de
gritar o golo de calcanhar de Madjer, em Viena e, no fim do grito extenso de
golo, vinha o infalível Samba: “que bonito é/ As bandeiras tremulando/A torcida
delirando/ Vendo a rede balançar…” Impossível esquecer estas memórias… Era por
intermédio desta voz que nos chegavam os nomes dos jogadores do Porto, a emoção
do jogo e as vitórias e também a tristeza, com as derrotas. Talvez por causa
disso, de tanto ouvir os golos do Gomes (o “bi-bota”) relatados pelo Gomes
Amaro, o tivesse escolhido para ídolo na infância. Invariavelmente, quando
brincávamos às grandes penalidades, em que transformávamos o velho sofá em
baliza, na minha vez de chutar, eu era o Gomes e os irmãos já sabiam que não
podiam escolher a figura, porque esse era meu… O que faz ser a miúda no meio de
rapazes… Se eles se recusavam a brincar às bonecas, eu tinha de me adaptar!
Desgraçado do Gomes… Não ficaria conhecido como “bi-bota” se tivesse marcado o
mesmo número de golos que eu…
Fiquei de coração partido quando ele
foi para o Sporting e lá terminou a sua carreira. O meu ídolo já não
representava os dragões, pelo que já não o podia escolher… Uma desolação…
Guardo ainda uma imagem do Zé Beto,
o guarda-redes, no estádio do Guimarães, creio que num jogo para a taça e
contra o Vizela, se a memória não me atraiçoa, sentado num calhau ao lado da
baliza, enquanto o jogo se fazia no meio campo da equipa adversária, como quem
se aborrecia com o jogo tépido. Lá fizemos os pais comprar umas bandeiras azuis
e brancas, bem bonitas, por sinal, tantas vezes ondeadas.
O Futebol Clube do Porto é parte
integrante das minhas felizes memórias. É passado, presente e será, certamente,
futuro.
Vamos ao leitão habitual, que este
ano pagam os portistas, com a mesma satisfação de sempre…
Nina M.
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