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sábado, 28 de maio de 2022

Crónica de Maus Costumes 277

 

Saudações portistas

            Digo logo ao que venho para avisar os mais desprevenidos de que se não gostarem do título podem dispensar a leitura do restante texto. Felicito o Futebol Clube do Porto, equipa técnica, jogadores e todos os portistas, naturalmente. Soube bem, mas já acabou. Há que pensar no próximo objetivo. Respeitosas saudações aos adversários, porque sem eles, não seríamos campeões de coisa nenhuma. Ninguém joga contra si mesmo.

            O Futebol Clube do Porto anda comigo há anos, desde que me reconheço. Anda com todos nós, em casa, desde a infância, afeição e paixão incutidas pelo pai. Um marcuense ou canavês, se preferirem, que viveu no Porto, onde conheceu a esposa e veio parar a Paços de Ferreira, terra da mulher. Entretanto, já tem mais anos de Paços do que do Marco, pelo que será já mais pacense que outra coisa. O meu pai aprendeu também a gostar do Paços, ainda no tempo em que se chamava Futebol Clube Vasco da Gama, pela mão de um dos cunhados, o meu tio Agostinho, que nem cheguei a conhecer, por ter morrido demasiado cedo. É sócio do Paços, mesmo que pela idade só vá ao estádio em dias primaveris, mas o Futebol Clube do Porto é o primeiro amor. Logicamente, hoje, o senhor Moreira ficou feliz.

            Na minha infância, os jogos do Porto eram acompanhados ao sábado à noite  ou ao domingo à tarde pela rádio. Era raro ver-se um jogo de futebol na televisão, pelo que a paixão dedicada a um clube que nem se podia ver jogar não deixa de ser curiosa. Noventa minutos de vozes corridas, velozes, a acompanhar os sprints dos jogadores. Creio mesmo que, na maioria das vezes, os relatadores eram mais rápidos do que os próprios atletas e conseguiam imprimir à partida a velocidade que ela não tinha. Por isso, quando os jogos pela televisão se popularizaram ou quando se ia ao estádio, perdia-se um pouco desse encantamento.

As vozes eram-nos familiares, assim como o rosto do programa desportivo mais emblemático de sempre: O Domingo Desportivo. A Bola Branca também era bastante aguardada. Gomes Amaro, a voz dos jogos do Porto, teve o privilégio de gritar o golo de calcanhar de Madjer, em Viena e, no fim do grito extenso de golo, vinha o infalível Samba: “que bonito é/ As bandeiras tremulando/A torcida delirando/ Vendo a rede balançar…” Impossível esquecer estas memórias… Era por intermédio desta voz que nos chegavam os nomes dos jogadores do Porto, a emoção do jogo e as vitórias e também a tristeza, com as derrotas. Talvez por causa disso, de tanto ouvir os golos do Gomes (o “bi-bota”) relatados pelo Gomes Amaro, o tivesse escolhido para ídolo na infância. Invariavelmente, quando brincávamos às grandes penalidades, em que transformávamos o velho sofá em baliza, na minha vez de chutar, eu era o Gomes e os irmãos já sabiam que não podiam escolher a figura, porque esse era meu… O que faz ser a miúda no meio de rapazes… Se eles se recusavam a brincar às bonecas, eu tinha de me adaptar! Desgraçado do Gomes… Não ficaria conhecido como “bi-bota” se tivesse marcado o mesmo número de golos que eu…

            Fiquei de coração partido quando ele foi para o Sporting e lá terminou a sua carreira. O meu ídolo já não representava os dragões, pelo que já não o podia escolher… Uma desolação…

            Guardo ainda uma imagem do Zé Beto, o guarda-redes, no estádio do Guimarães, creio que num jogo para a taça e contra o Vizela, se a memória não me atraiçoa, sentado num calhau ao lado da baliza, enquanto o jogo se fazia no meio campo da equipa adversária, como quem se aborrecia com o jogo tépido. Lá fizemos os pais comprar umas bandeiras azuis e brancas, bem bonitas, por sinal, tantas vezes ondeadas.

            O Futebol Clube do Porto é parte integrante das minhas felizes memórias. É passado, presente e será, certamente, futuro.

            Vamos ao leitão habitual, que este ano pagam os portistas, com a mesma satisfação de sempre…

 

Nina M.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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