Redes sociais : o espelho da desumanidade
Eu
deveria aprender a não abrir nem ler certos comentários, porque já sei que o
meu sangue vai ferver e a indignação e a ira vai tomar conta de mim… Vá lá que resisto
ao impropério e seguro o que me vai na alma, contando até dez e convencendo-me
de que um estúpido com a mania de que está sempre certo será sempre um
estúpido. Numa guerra, não há vencedores, apenas vencidos e vidas perdidas e as
que se perdem são irreparáveis. Não entendo, portanto, quem se regozija com as
mortes quer de um lado quer de outro. Esta semana, foi abatido um avião
ucraniano e lá voltamos ao mesmo… “Emojis” de satisfação. Fazem da guerra um
jogo de tabuleiro como se as pessoas fossem peças plásticas tombadas no chão… Não
me regozijo com a morte dos soldados russos que aquando da tentativa de invasão
a Kiev nem sabiam bem ao que iam… Miúdos inexperientes a quem contaram uma
narrativa falsa, a quem não disseram exatamente do que se tratava. Uma
“putinice” sem escrúpulos à boa maneira das estratégias soviéticas, em que os
fins justificam os meios. Não me consigo rir com a morte extemporânea e
desnecessária e sinto o mais profundo desprezo e vergonha alheia por quem o
faz, independentemente do lado. Também não consigo compreender os que não
condenam veementemente Putin, ao abrigo da argumentação idiota de considerar o
Zelensky o responsável pela escalada da guerra, pelo facto de pedir armas para
defender a autodeterminação do seu país, acusando-o de usar a própria população
como escudo humano. Eu não sei que fontes de informação veem ou leem, mas só
podem ser russas! Pior, convencem-se de que a comunicação social do ocidente é
toda vendida e que fabricam notícias falsas para prejudicar a Rússia. A grande
diferença é que é possível assistir a reportagens “in loco” do que acontece e
mesmo que não o fosse, basta olhar para a devastação da Ucrânia, para o país
destruído pelos mísseis do país vizinho. Pressuponho que, segundo esta gente,
Zelensky deveria ter entregado o país às mãos dos russos, hipotecando a
independência, para satisfazer a megalomania “putinesca”! Haja paciência,
porque os meus olhos e os meus nervos estão demasiado sensíveis à parvoíce! Não
me venham com as vontades dos separatistas, caso contrário, perguntarei por que
razão Putin não permitiu a independência dos separatistas chechenos. Nem se aproximem
tão pouco com a teoria absurda da desnazificação, quando é o Putin quem apoia
candidatos de extrema-direita, pelo mundo fora, quando o movimento de extrema-direita
na Ucrânia é pouco significativo. O que Putin não perdoa é o facto de a Ucrânia
rejeitar a manápula da Rússia sobre si e escolher a sua liberdade, assumindo o
desejo de seguir o caminho da democracia. Pétain capitulou para evitar a guerra
e a França perdeu a sua honra e a sua dignidade. Uma pessoa ou um país sem dignidade
declina a existência. De Gaulle percebeu-o e agiu. Zelensky sabe-o desde o
início. O seu papel na defesa da Ucrânia tem sido extraordinário e o seu nome
fica inscrito nas páginas da História. Facto incontornável que não o torna
santo ou isento de falhas ou de críticas que lhe possam ser apontadas, porém, é
o seu país o invadido e não o invasor. É o seu país o ofendido e que tem todo o
direito de se defender. Zelensky tem, neste momento, toda a nação consigo e
esta gente valente e exemplar diz ao mundo que dá a própria vida em prol da sua
terra e da sua liberdade. Custa-me ainda mais compreender os que defendem tão
calorosamente Putin, apesar das atrocidades que nos entram diariamente olhos
dentro, o insano cobarde que se esconde atrás das armas nucleares e não tem pejo
em ameaçar o mundo com elas.
Putin
é um escroque, um ditador cruel que quer alcançar os seus objetivos sem olhar a
meios e na base da ameaça. Ele conta com o bom senso dos ocidentais (tão criticados
por muitos), que tentam evitar uma terceira guerra mundial. Só por isso o infeliz
ainda canta de galo.
Eu lastimo
a morte de ambos os lados, mas há a perda de uma vida que me soaria a vitória, a
justiça e a paz.
Putin,
que as forças do universo se congreguem e te dê Saturno quebranto. Talvez assim
a paz fosse restabelecida.
Nina
M.
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