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sábado, 23 de abril de 2022

Crónica de Maus Costumes 275

 Redes sociais : o espelho da desumanidade

                 Por estes dias, foi noticiada a destruição de um navio russo. A caixa de comentários da notícia era extensa e polarizada. Havia os que se regozijavam e os que condenavam o ato ou se preferirmos os pró-ucranianos e os pró-russos. O grave é não perceberem que a situação é dramática em demasia para ser levada com essa leviandade.

Eu deveria aprender a não abrir nem ler certos comentários, porque já sei que o meu sangue vai ferver e a indignação e a ira vai tomar conta de mim… Vá lá que resisto ao impropério e seguro o que me vai na alma, contando até dez e convencendo-me de que um estúpido com a mania de que está sempre certo será sempre um estúpido. Numa guerra, não há vencedores, apenas vencidos e vidas perdidas e as que se perdem são irreparáveis. Não entendo, portanto, quem se regozija com as mortes quer de um lado quer de outro. Esta semana, foi abatido um avião ucraniano e lá voltamos ao mesmo… “Emojis” de satisfação. Fazem da guerra um jogo de tabuleiro como se as pessoas fossem peças plásticas tombadas no chão… Não me regozijo com a morte dos soldados russos que aquando da tentativa de invasão a Kiev nem sabiam bem ao que iam… Miúdos inexperientes a quem contaram uma narrativa falsa, a quem não disseram exatamente do que se tratava. Uma “putinice” sem escrúpulos à boa maneira das estratégias soviéticas, em que os fins justificam os meios. Não me consigo rir com a morte extemporânea e desnecessária e sinto o mais profundo desprezo e vergonha alheia por quem o faz, independentemente do lado. Também não consigo compreender os que não condenam veementemente Putin, ao abrigo da argumentação idiota de considerar o Zelensky o responsável pela escalada da guerra, pelo facto de pedir armas para defender a autodeterminação do seu país, acusando-o de usar a própria população como escudo humano. Eu não sei que fontes de informação veem ou leem, mas só podem ser russas! Pior, convencem-se de que a comunicação social do ocidente é toda vendida e que fabricam notícias falsas para prejudicar a Rússia. A grande diferença é que é possível assistir a reportagens “in loco” do que acontece e mesmo que não o fosse, basta olhar para a devastação da Ucrânia, para o país destruído pelos mísseis do país vizinho. Pressuponho que, segundo esta gente, Zelensky deveria ter entregado o país às mãos dos russos, hipotecando a independência, para satisfazer a megalomania “putinesca”! Haja paciência, porque os meus olhos e os meus nervos estão demasiado sensíveis à parvoíce! Não me venham com as vontades dos separatistas, caso contrário, perguntarei por que razão Putin não permitiu a independência dos separatistas chechenos. Nem se aproximem tão pouco com a teoria absurda da desnazificação, quando é o Putin quem apoia candidatos de extrema-direita, pelo mundo fora, quando o movimento de extrema-direita na Ucrânia é pouco significativo. O que Putin não perdoa é o facto de a Ucrânia rejeitar a manápula da Rússia sobre si e escolher a sua liberdade, assumindo o desejo de seguir o caminho da democracia. Pétain capitulou para evitar a guerra e a França perdeu a sua honra e a sua dignidade. Uma pessoa ou um país sem dignidade declina a existência. De Gaulle percebeu-o e agiu. Zelensky sabe-o desde o início. O seu papel na defesa da Ucrânia tem sido extraordinário e o seu nome fica inscrito nas páginas da História. Facto incontornável que não o torna santo ou isento de falhas ou de críticas que lhe possam ser apontadas, porém, é o seu país o invadido e não o invasor. É o seu país o ofendido e que tem todo o direito de se defender. Zelensky tem, neste momento, toda a nação consigo e esta gente valente e exemplar diz ao mundo que dá a própria vida em prol da sua terra e da sua liberdade. Custa-me ainda mais compreender os que defendem tão calorosamente Putin, apesar das atrocidades que nos entram diariamente olhos dentro, o insano cobarde que se esconde atrás das armas nucleares e não tem pejo em ameaçar o mundo com elas.

Putin é um escroque, um ditador cruel que quer alcançar os seus objetivos sem olhar a meios e na base da ameaça. Ele conta com o bom senso dos ocidentais (tão criticados por muitos), que tentam evitar uma terceira guerra mundial. Só por isso o infeliz ainda canta de galo.

Eu lastimo a morte de ambos os lados, mas há a perda de uma vida que me soaria a vitória, a justiça e a paz.

Putin, que as forças do universo se congreguem e te dê Saturno quebranto. Talvez assim a paz fosse restabelecida.

 

Nina M.

 

 

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