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sábado, 5 de março de 2022

Crónica de Maus Costumes 268

 

De coração dilacerado

 

Esta semana não foi fácil. Pesa-nos a guerra. Pesa-nos o sofrimento. Pesa-nos essencialmente o absurdo e a ausência de sentido. Perante isto, a alma enegrece, diminui enrugada pela dor do outro. Poderia ser connosco. Bastaria ter nascido na Ucrânia…

Pensamos no absurdo que nos retira o chão. Nas vidas perdidas, nas que ainda se vão perder. Neste impasse em que um sociopata coloca a Europa. Sinto todos os meus músculos contraírem e um desejo feroz de justiça que reconheço misturado com vingança, que sei não ser um bom sentimento, mas aquela besta desencadeia vontade de lhe causar dor. Ficaria feliz se desaparecesse do mapa.

Putin está descontrolado. Pensaria, talvez, que a invasão e a capitulação do país vizinho fossem ser rápidas. Enganou-se. Os ucranianos têm revelado uma resistência, um sentido patriótico identitário e de defesa da sua liberdade admiráveis, liderados por um comediante que aprendeu a ser um verdadeiro líder, que inspira confiança, dono de um carisma invejável. Assim, de repente, lembrar-me de um líder com tal presença, só me ocorre o Obama, que me deixa saudade… Certo é que o desvario do russo não é bom sinal e o que impede a NATO, os Estados Unidos, a Inglaterra e a França, países que unidos têm uma capacidade nuclear infinitamente superior à da Rússia, de resolverem a questão e de acabarem com o massacre vergonhoso, é o facto de haver um chefe de governo descompensado, cruel o suficiente para levar a cabo a ameaça das armas nucleares. Obviamente, no instante em que o senhor o decidisse fazer, nem ele nem o seu país ficariam intactos. Seriam absolutamente arrasados. No momento em que fosse detetado o lançamento de uma ogiva haveria uma resposta e seria desencadeada uma destruição mútua. Essa é a linha vermelha impensável e que não pode ser ultrapassada! Putin vai brincando e vai pisando alguns limites e o Ocidente mune-se de toda a paciência e vai tentando dissuadi-lo com as sanções económicas que vai agravando. A diferença é que o Ocidente tem o juízo suficiente para saber que há linhas que não podem ser ultrapassadas. Já com Putin, ninguém o garante… Não se coíbe de impor a um país livre e independente a proibição de incorporar a NATO. Putin sabe que se a Ucrânia incorporasse a NATO, nunca teria o atrevimento da invasão, que mais não passa de uma tentativa de anexação, porque não teria poder bélico para aguentar o confronto. De modo que perante a sandice de um louco, os ucranianos vão-se aguentando sozinhos. A ajuda não tem sido suficiente e, no intervalo, o déspota vai arrasando aquele país…

Serve esta crise para que a Europa repense as suas políticas externas, repense a questão da segurança, por não poder ficar refém de gente alucinada. Deve, forçosamente, compreender que a união tem de ser efetiva e não apenas no sentido económico. O impensável aconteceu e apanhou a Europa desprevenida, por acreditar que tudo consegue resolver por via do diálogo. Acontece que com tiranos cruéis não há diálogo possível, porque os valores não são os mesmos. No meio disto, o senhor Putin conseguiu revelar as hesitações, os medos e as respostas tardias da Europa, mas também conseguiu uni-la em relação à invasão que iniciou. Acredito que depois desta crise, a União Europeia não será a mesma e perceberá que terá sido demasiado tolerante em relação aos que desconhecem o significado da Democracia. Não sei se uma intervenção direta na Ucrânia será evitável. Se, efetivamente, Putin conseguir impor a sua força, como reagirá a Europa? Se Putin não respeita e não se orienta pelos valores da Democracia e da Liberdade, pois então que fique a falar sozinho.

Por último, acrescentar que a posição do PCP em relação aos acontecimentos é lamentável e indesculpável. Também não é surpreendente. Como já escrevi algures, é apenas o PCP a ser o PCP! São tão democráticos quanto o senhor Putin, se tivessem oportunidade para isso. Se ficarem votados ao esquecimento, não terei qualquer pena. A mim, nunca me enganaram. Vergonha alheia! O Bloco de esquerda também não escapa, porque os deputados europeus Marisa Matias e José Gusmão, abstiveram-se no que concerne ao empréstimo de 1,2 milhões de euros à Ucrânia! Neste assunto, não se pode ficar em cima do muro, à procura de neutralidade. Interpreto-a como uma não condenação velada ao senhor Putin. Para um partido que gosta de passar a mensagem de liberdade e de humanidade é a maior das hipocrisias! Vergonha alheia também. Assim estão as esquerdas mais radicais deste país. Faço ressalva à sensatez de Rui Tavares do Livre. Pode-se discordar de políticas económicas, sociais e outras, mas sobre este assunto em concreto não pode haver hesitações. Rui Tavares repudiou sem titubear a ação de Putin, tal como deve ser. Seria bom que as esquerdas compreendessem que o país não quer novas ditaduras. Arre diabo!

Presidente Zelensky, que nunca perca a coragem nem a esperança e que os bons ventos da paz voltem rapidamente a soprar favoravelmente sobre as vossas searas e os vossos girassóis.

Slava Ukrayini!

Nina M.

 

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