De
coração dilacerado
Esta
semana não foi fácil. Pesa-nos a guerra. Pesa-nos o sofrimento. Pesa-nos
essencialmente o absurdo e a ausência de sentido. Perante isto, a alma
enegrece, diminui enrugada pela dor do outro. Poderia ser connosco. Bastaria
ter nascido na Ucrânia…
Pensamos
no absurdo que nos retira o chão. Nas vidas perdidas, nas que ainda se vão
perder. Neste impasse em que um sociopata coloca a Europa. Sinto todos os meus
músculos contraírem e um desejo feroz de justiça que reconheço misturado com
vingança, que sei não ser um bom sentimento, mas aquela besta desencadeia
vontade de lhe causar dor. Ficaria feliz se desaparecesse do mapa.
Putin
está descontrolado. Pensaria, talvez, que a invasão e a capitulação do país
vizinho fossem ser rápidas. Enganou-se. Os ucranianos têm revelado uma
resistência, um sentido patriótico identitário e de defesa da sua liberdade
admiráveis, liderados por um comediante que aprendeu a ser um verdadeiro líder,
que inspira confiança, dono de um carisma invejável. Assim, de repente,
lembrar-me de um líder com tal presença, só me ocorre o Obama, que me deixa
saudade… Certo é que o desvario do russo não é bom sinal e o que impede a NATO,
os Estados Unidos, a Inglaterra e a França, países que unidos têm uma
capacidade nuclear infinitamente superior à da Rússia, de resolverem a questão
e de acabarem com o massacre vergonhoso, é o facto de haver um chefe de governo
descompensado, cruel o suficiente para levar a cabo a ameaça das armas
nucleares. Obviamente, no instante em que o senhor o decidisse fazer, nem ele
nem o seu país ficariam intactos. Seriam absolutamente arrasados. No momento em
que fosse detetado o lançamento de uma ogiva haveria uma resposta e seria
desencadeada uma destruição mútua. Essa é a linha vermelha impensável e que não
pode ser ultrapassada! Putin vai brincando e vai pisando alguns limites e o
Ocidente mune-se de toda a paciência e vai tentando dissuadi-lo com as sanções
económicas que vai agravando. A diferença é que o Ocidente tem o juízo
suficiente para saber que há linhas que não podem ser ultrapassadas. Já com
Putin, ninguém o garante… Não se coíbe de impor a um país livre e independente
a proibição de incorporar a NATO. Putin sabe que se a Ucrânia incorporasse a
NATO, nunca teria o atrevimento da invasão, que mais não passa de uma tentativa
de anexação, porque não teria poder bélico para aguentar o confronto. De modo
que perante a sandice de um louco, os ucranianos vão-se aguentando sozinhos. A
ajuda não tem sido suficiente e, no intervalo, o déspota vai arrasando aquele
país…
Serve
esta crise para que a Europa repense as suas políticas externas, repense a
questão da segurança, por não poder ficar refém de gente alucinada. Deve,
forçosamente, compreender que a união tem de ser efetiva e não apenas no
sentido económico. O impensável aconteceu e apanhou a Europa desprevenida, por
acreditar que tudo consegue resolver por via do diálogo. Acontece que com
tiranos cruéis não há diálogo possível, porque os valores não são os mesmos. No
meio disto, o senhor Putin conseguiu revelar as hesitações, os medos e as
respostas tardias da Europa, mas também conseguiu uni-la em relação à invasão
que iniciou. Acredito que depois desta crise, a União Europeia não será a mesma
e perceberá que terá sido demasiado tolerante em relação aos que desconhecem o
significado da Democracia. Não sei se uma intervenção direta na Ucrânia será
evitável. Se, efetivamente, Putin conseguir impor a sua força, como reagirá a
Europa? Se Putin não respeita e não se orienta pelos valores da Democracia e da
Liberdade, pois então que fique a falar sozinho.
Por
último, acrescentar que a posição do PCP em relação aos acontecimentos é
lamentável e indesculpável. Também não é surpreendente. Como já escrevi
algures, é apenas o PCP a ser o PCP! São tão democráticos quanto o senhor
Putin, se tivessem oportunidade para isso. Se ficarem votados ao esquecimento,
não terei qualquer pena. A mim, nunca me enganaram. Vergonha alheia! O Bloco de
esquerda também não escapa, porque os deputados europeus Marisa Matias e José
Gusmão, abstiveram-se no que concerne ao empréstimo de 1,2 milhões de euros à
Ucrânia! Neste assunto, não se pode ficar em cima do muro, à procura de
neutralidade. Interpreto-a como uma não condenação velada ao senhor Putin. Para
um partido que gosta de passar a mensagem de liberdade e de humanidade é a
maior das hipocrisias! Vergonha alheia também. Assim estão as esquerdas mais
radicais deste país. Faço ressalva à sensatez de Rui Tavares do Livre. Pode-se
discordar de políticas económicas, sociais e outras, mas sobre este assunto em
concreto não pode haver hesitações. Rui Tavares repudiou sem titubear a ação de
Putin, tal como deve ser. Seria bom que as esquerdas compreendessem que o país
não quer novas ditaduras. Arre diabo!
Presidente
Zelensky, que nunca perca a coragem nem a esperança e que os bons ventos da paz
voltem rapidamente a soprar favoravelmente sobre as vossas searas e os vossos girassóis.
Slava Ukrayini!
Nina M.
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