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sábado, 11 de dezembro de 2021

Testamento


É para vós que escrevo, filhos,
Carne da minha carne
Sangue do meu sangue
Amor eterno além da morte
Além de qualquer existência
Único amor possível de sentido único,
Tomei a decisão de um dia ser cinza.
Não quero a podridão lassa e vagarosa do tempo
Não quero a sepultura desossada do meu corpo
Se é destruição, tornai-a rápida e indolor
Sem tetos sobre mim
Apenas o esparzir de cinzas como quem
Ingere ambrósia ao sol poente
Na magia de um dia feito
Não gosto de tetos baixos
Nem de espaços exíguos
Claustrofóbicos...
Espalhai-me sobre o mar calmo ou revoltado do entardecer
Sobre o verde de um qualquer bosque mágico
Criai a ilusão de que das cinzas surge a fénix
Devolvei-me à liberdade que a vida retira...
Liberto-vos da obrigação da visita tumular
Da colheita da rosa para pôr sobre o túmulo asfixiante e deprimente
Da pedra estanque e amorfa
Acabaria em tristeza e em nada
Seja eu espírito vivo em vós e por vós na palavra
Sem ritos ou mágoas ...
Apenas palavra sentida
Palavra rendida
Apagada na cinza do meu ser
Livre na vossa liberdade

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