Preocupação pelo alheio…
As redes sociais têm as suas
vantagens. Reconhece-se a rapidez com que se comunica, a facilidade de
encontrar aqueles a quem perdemos o rasto há muito tempo, o acesso à
informação, ainda que seja necessário saber separar o trigo do joio… Enfim,
reconhecidos benefícios, mas também traz consigo o que o ser humano tem de
pior: intolerância, pequenas invejas, má-educação, maledicência e interferência
na esfera privada de outros.
Já me deparei com todas estas
situações. Basta abrir o separador dos comentários para perceber que mais
rapidamente se destila fel e veneno do que bonomia. Entristece-me que assim
seja, porque desacredita o ser humano.
Hoje
fiquei estarrecida. Ao que parece, a Judite de Sousa, a jornalista, terá feito
uma publicação num cenário belíssimo e alvo, coberto pela neve. No centro da
foto, queimava uma pequena vela, a chama do amor. Seria uma forma de continuar
a dialogar com o seu único filho que faleceu há alguns anos. A Judite foi
vilipendiada e outro senhor da televisão que nem aprecio muito, mas com razão,
saiu em sua defesa. Interrogo-me sobre o motivo que espoleta a crueldade vil! A
Judite foi acusada de usar o filho morto para se autopromover! Como se ela não
fosse já uma figura pública suficientemente conhecida. Criticada, porque o
filho não faleceu nas redes sociais, logo não tinha que anunciar ao mundo o seu
desgosto. Ofendida, porque pretende atrair atenções e fazer com que os
portugueses sintam pena de si! Simplesmente petrifiquei! Nem a dor incurável de
uma mãe que perdeu o filho e que lhe sente a ausência diariamente escapa aos
ataques torpes e anónimos! As pessoas estão identificadas, pensarão muitos.
Pois sim. Atrás de um aparelho. Muitos que destilam esse fel não seriam capazes
de o fazer em presença. Trata-se, portanto, de vilania cobarde e maldade pura.
Para
outros, o motivo da crítica era a vela. Não seria necessária. É um mero símbolo
desprezível e a verdadeira espiritualidade dispensa estas atuações e a sua
publicitação nas redes sociais…
Eu,
na minha humilde ignorância, interrogo: E que direito temos de violar a privacidade
de alguém e de expressar juízos de valor sobre uma vida que não nos diz
respeito nem nos causa transtorno?!
O
que sabem esses “voyeurs” da dor desta mãe? O que sabem eles das verdadeiras
razões que a levaram a fazer a publicação? O que lhes interessa se a Judite é
crente ou descrente ou o diabo?! Com que direito querem interferir na esfera
privada desta mulher devido a interpretações pessoais e falaciosas acerca do comportamento
da comunicadora? Estaria ela, porventura, obrigada a seguir os preceitos e as
noções de comportamento que cada cidadão entenda ser adequado?!
Talvez
haja quem pense que ao registar esse momento de intimidade, a jornalista abriu
portas ao comentário, no entanto, ela é livre de fazer o que quiser e como
quiser e não deve satisfações ao mundo. Quando muito poderia dever ao filho e
quanto ela gostaria de lhas poder dar!
Os
juízos rápidos que se fazem sem conhecer as motivações dos outros, sem saber as
circunstâncias e os verdadeiros factos originam, muitas vezes, condenações
sumárias e injustas. O mais curioso é a vontade felina de ataque à pessoa sem
que se tenha rigorosamente nada a ver com a sua vida!
Sabes, Judite, as pequenas almas triviais
nunca compreenderão, mesmo que lho quisesses explicar (mas, por favor, não o
faças, porque não diz respeito a mais ninguém senão a ti), porque já iniciaram
o ataque com vontade explícita de ferir e de serem maledicentes e quando a
vontade está inquinada “a priori”, os
espíritos não se predispõem a ouvir. No entanto, como dita o aforismo, “a palavras
loucas ouvidos moucos”! Os ataques infames e cobardes à pessoa são
desprezíveis. Não criticaram a Judite jornalista por ter sido má profissional,
por ter prejudicado os cidadãos ou colegas ou por qualquer ato criminal. Não.
As palavras vis têm origem na mesquinhez do ser humano e quem sabe alguma
inveja, por isso, Judite, tais comentários sugerem muito mais sobre quem os
pronunciou do que sobre ti.
Continua
a fazer como entenderes. Acende as velas que queiras ao teu filho. Que a chama
do círio te possa trazer algum conforto e paz à tua alma mutilada. Sei que
agora, tal como a Halla, personagem de “Desumanização”, de Valter Hugo Mãe, és
a “menos morta” e o teu coração “um trapo com que se limpa o chão” (metáforas que
nunca irei esquecer). Quem não sabe respeitar isto nunca será gente!
Nina
M.
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