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sábado, 25 de janeiro de 2020

Crónica de Maus Costumes 165


Preocupação pelo alheio…

                As redes sociais têm as suas vantagens. Reconhece-se a rapidez com que se comunica, a facilidade de encontrar aqueles a quem perdemos o rasto há muito tempo, o acesso à informação, ainda que seja necessário saber separar o trigo do joio… Enfim, reconhecidos benefícios, mas também traz consigo o que o ser humano tem de pior: intolerância, pequenas invejas, má-educação, maledicência e interferência na esfera privada de outros.
            Já me deparei com todas estas situações. Basta abrir o separador dos comentários para perceber que mais rapidamente se destila fel e veneno do que bonomia. Entristece-me que assim seja, porque desacredita o ser humano.
Hoje fiquei estarrecida. Ao que parece, a Judite de Sousa, a jornalista, terá feito uma publicação num cenário belíssimo e alvo, coberto pela neve. No centro da foto, queimava uma pequena vela, a chama do amor. Seria uma forma de continuar a dialogar com o seu único filho que faleceu há alguns anos. A Judite foi vilipendiada e outro senhor da televisão que nem aprecio muito, mas com razão, saiu em sua defesa. Interrogo-me sobre o motivo que espoleta a crueldade vil! A Judite foi acusada de usar o filho morto para se autopromover! Como se ela não fosse já uma figura pública suficientemente conhecida. Criticada, porque o filho não faleceu nas redes sociais, logo não tinha que anunciar ao mundo o seu desgosto. Ofendida, porque pretende atrair atenções e fazer com que os portugueses sintam pena de si! Simplesmente petrifiquei! Nem a dor incurável de uma mãe que perdeu o filho e que lhe sente a ausência diariamente escapa aos ataques torpes e anónimos! As pessoas estão identificadas, pensarão muitos. Pois sim. Atrás de um aparelho. Muitos que destilam esse fel não seriam capazes de o fazer em presença. Trata-se, portanto, de vilania cobarde e maldade pura.
Para outros, o motivo da crítica era a vela. Não seria necessária. É um mero símbolo desprezível e a verdadeira espiritualidade dispensa estas atuações e a sua publicitação nas redes sociais…
Eu, na minha humilde ignorância, interrogo: E que direito temos de violar a privacidade de alguém e de expressar juízos de valor sobre uma vida que não nos diz respeito nem nos causa transtorno?!
O que sabem esses “voyeurs” da dor desta mãe? O que sabem eles das verdadeiras razões que a levaram a fazer a publicação? O que lhes interessa se a Judite é crente ou descrente ou o diabo?! Com que direito querem interferir na esfera privada desta mulher devido a interpretações pessoais e falaciosas acerca do comportamento da comunicadora? Estaria ela, porventura, obrigada a seguir os preceitos e as noções de comportamento que cada cidadão entenda ser adequado?!
Talvez haja quem pense que ao registar esse momento de intimidade, a jornalista abriu portas ao comentário, no entanto, ela é livre de fazer o que quiser e como quiser e não deve satisfações ao mundo. Quando muito poderia dever ao filho e quanto ela gostaria de lhas poder dar!
Os juízos rápidos que se fazem sem conhecer as motivações dos outros, sem saber as circunstâncias e os verdadeiros factos originam, muitas vezes, condenações sumárias e injustas. O mais curioso é a vontade felina de ataque à pessoa sem que se tenha rigorosamente nada a ver com a sua vida!
 Sabes, Judite, as pequenas almas triviais nunca compreenderão, mesmo que lho quisesses explicar (mas, por favor, não o faças, porque não diz respeito a mais ninguém senão a ti), porque já iniciaram o ataque com vontade explícita de ferir e de serem maledicentes e quando a vontade está inquinada “a priori”, os espíritos não se predispõem a ouvir. No entanto, como dita o aforismo, “a palavras loucas ouvidos moucos”! Os ataques infames e cobardes à pessoa são desprezíveis. Não criticaram a Judite jornalista por ter sido má profissional, por ter prejudicado os cidadãos ou colegas ou por qualquer ato criminal. Não. As palavras vis têm origem na mesquinhez do ser humano e quem sabe alguma inveja, por isso, Judite, tais comentários sugerem muito mais sobre quem os pronunciou do que sobre ti.
Continua a fazer como entenderes. Acende as velas que queiras ao teu filho. Que a chama do círio te possa trazer algum conforto e paz à tua alma mutilada. Sei que agora, tal como a Halla, personagem de “Desumanização”, de Valter Hugo Mãe, és a “menos morta” e o teu coração “um trapo com que se limpa o chão” (metáforas que nunca irei esquecer). Quem não sabe respeitar isto nunca será gente!
Nina M.






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