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sábado, 2 de novembro de 2019

Definição

Sou poeta
Bebo das palavras e elas são o meu cálice
Cristalinas, opacas e obscuras
Como a alma de quem as pensa e as projeta
Ora se abrem e beijam e abraçam
Ora se fecham e isolam e imolam
O poeta não precisa da compreensão alheia
De olhares suaves e sorrisos complacentes
Apenas do silêncio profundo
Para nele poder ouvir os sons do mundo
E é deles de que enche a alma azedada
Filha do demónio em dia de trovoada
O canto do poeta nem sempre é belo e límpido
Às vezes é o canto triste do cisne
Sabe a veneno letal que traz a morte
Mas não é para Sócrates o canto mais belo?
O do cisne que sabe o seu destino e o aceita placidamente?
Canta, belo cisne, e enfeita a terra
Fecunda os ouvidos do Homem
Prepara-os para uma beleza maior
E depois da tarefa feita
Podes abrir o teu peito à maleita
E sucumbir com prazer e dor
Porque ninguém é tão sonhador

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