A agonia da escolha
A escolha faz parte da vida e nem sempre é fácil
suportar o caminho escolhido, porque o mundo é perigoso, injusto e nem sempre é
bonito. Muitas escolhas são também um ato exemplar de coragem e os exemplos são
muitos. São eles que nos permitem continuar a ter esperança na humanidade.
Nomes como Mahatma Gandhi, Martin Luther King,
Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá são alguns dos que se destacam pela
escolha que fizeram e que exigiu, certamente, uma coragem gigantesca para
ultrapassar barreiras. Nada os impediu e considero-os verdadeiramente
admiráveis. Seres dignos de profundo respeito, porque tiveram a grandeza de se
despirem de si em favor do bem comum. Quando penso neles, a consciência da
minha pequenez e da minha insignificância torna-se nítida. Obviamente, nem
todos têm esta capacidade, mas o facto de serem homens de carne e osso,
atacáveis na sua humanidade, pelo que não estão isentos de mácula, mas donos de
um ideal capaz de romper fronteiras e de fazer verdadeiramente a diferença é
assinalável. Sei que há muitos outros seres anónimos que diariamente dão de si
para tornar a vida de alguém melhor. Essa espécie algo rara, que assume com
coragem essa missão de fazer a diferença, permite que eu não perca a fé na
humanidade, apesar do enorme pessimismo. Nos tempos que correm, acreditar no
Homem é mais um ato de fé do que de inteligência, no entanto, há sempre alguém
que se supera.
O tema horripilante da semana comprova a
desumanidade galopante. Uma mãe abandona o neófito à morte num caixote do lixo.
Um arrepio percorre-me o corpo. Sou mãe! Como não me horrorizar?! Não conheço
os contornos da história, desconheço as dificuldades ou situação da jovem mãe.
Não me atrevo a tecer considerações sobre os motivos que a terão levado a tal
comportamento nem quero tecer uma condenação em praça pública. Será
provavelmente alguém a precisar de ajuda, porém, uma coisa a minha consciência
me diz: não se abandona um ser como se fosse lixo, talvez ainda menos
acondicionado do que as sobras do jantar. Posso compreender a decisão de não
querer o bebé. Criar um filho é um projeto de vida. Independentemente da idade,
ele será sempre fonte de preocupação para os progenitores. Será talvez a grande
desvantagem da maternidade. Como me disse uma colega que na altura já era mãe,
quando eu tinha apenas os meus 25 anos (a maternidade, para mim, era uma ideia
longínqua ainda): “Todos falam nos benefícios da maternidade, mas ninguém
alerta para os prejuízos que também existem.” Na época, terei julgado a crueza
das palavras, porém, verdadeiras. Ser mãe não é fácil e não comporta só aspetos
positivos. É um amor imenso que exige cuidado contínuo e abnegação. Essa é a
verdade. O amor dedicado é incondicional, mas exigente. Muitas vezes suga todas
as nossas energias e obriga-nos a esquecermo-nos de quem somos em benefício dos
filhos. É amor, mas nem sempre é fácil. A sociedade impõe que a mulher se
realize no projeto da maternidade, todavia, nem sempre é assim. Desta forma, a
mulher tem o direito de não querer ser mãe. Consigo entender perfeitamente a opção.
O que me causa náuseas no caso referido nem é o abandono do bebé em si. Se não o
quer, é melhor que não o tenha do que o negligencie. Porém, forma como se descarta
um ser acabado de romper das entranhas, absolutamente desprotegido e se entrega
à morte como se fosse lixo, é demasiado cruel.
Foi uma questão de escolha e esta nem sempre é fácil, no entanto, há opções mais
aceitáveis do que outras. Haveria certamente outros lugares onde deixar a criança:
hospital, igreja, à porta de casa de alguém, etc… Não foi a melhor escolha nem a
mais humana e o problema da decisão é o facto de termos de viver com as consequências
que dela advêm.
Ainda assim, talvez seja preferível viver com as escolhas
que fazemos do que com as que os outros nos possam imputar. Esta mãe terá de viver
o resto da sua vida com a sua.
Nina M.
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