Livros
Soube hoje (o facebook tem os seus
encantos) que Einstein preferia oferecer livros a flores. Estas murcham
rapidamente e há livros que permanecem uma vida! Se dúvidas houvesse no que
concerne a inteligência do homem, com esta tirada, ficariam totalmente
dissipadas.
As flores são bonitas, de facto, mas
eu é que sou como o outro… eu é mais livros! Provavelmente, tenho mais do que aqueles
que conseguirei ler durante a vida e agora, com a idade, há certos vícios que
vamos controlando melhor. Um bibliómano que se preze deve ter o mesmo problema
que eu… dar-se conta de que comprou um livro repetido… Afinal tinha-o, mas
tinha perdido o rasto, porque às vezes não é fácil encontrar títulos, no meio
da profusão. Eu estimo os livros. Na verdade, namoro-os e como namorada ciosa,
gosto de os acariciar e guardá-los para mim. Perdoem-me a franqueza, mas
detesto campanhas de recolha de livros que já não servem! O quê?! A mim
servem-me todos os que tenho e não dispenso nenhum, mesmo que nem o venha a ler…
Reconheço-me, portanto, uma bibliómana poligâmica e ciumenta! Paciência…
De momento, passeio um clássico.
Vladimir Nabokov anda comigo, assim como o seu Humbert Humbert e a pequena
Lolita. Esperava detestar veementemente o pedófilo, enojada com tal compostura,
porém, a literatura, tem a proeza de nos fazer olhar o revés do hediondo e de
nos pôr a tentar compreender. Não significa aceitar ou concordar, apenas a
perceber certas motivações do comportamento humano, por horrível que este seja.
Talvez por saber que é ficção, mas as personagens ficcionadas têm a mania de se
me colarem à alma e não me largarem. Algumas para sempre. Eu queria repudiar o odioso
Humbert Humbert, o pervertido, e dou comigo a sentir compaixão, pelo facto de ele
viver um amor-obsessão que o cega, destrói e o leva a corromper a pequena ninfeta.
Os clássicos são extraordinários na densidade das personagens! Não admira que o
Humbert Humbert seja considerado uma das melhores personagens da história da literatura.
Tão odioso e tão magnificamente pincelado!
Nabokov
fala de sexo e de desejo erótico de forma elevada e elegante, sem recurso ao jargão
e à ordinarice. Sublime. De cada vez que volto a um clássico, fico sempre com a
impressão de que saio a ganhar. Sem modernices de polifonias, que às vezes confundem
e dificultam a leitura, num texto escorreito, límpido, mas denso como o peso da
vida, como convém, ninguém fica indiferente à prosa e tanto nos compadecemos do
malvado pederasta quanto da menina demasiado precoce e atrevida.
Os livros
são, por isso, uma imensidão de mundos que nos são oferecidos. Retratam a mísera
e vil condição humana. Ler é olhar para dentro e enfrentar, muitas vezes, demónios;
é perder-se nos outros para se encontrar, reconhecer-se nos erros e nas valentias,
aprender a viver sem julgar apressadamente; é saber que não estamos imunes nem à
desgraça nem à desonra e tentar não escorregar como as personagens mais torpes.
Enquanto não se perceber esta ideia, a leitura e o livro serão sempre incompreendidos.
Nina
M.
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