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sábado, 4 de maio de 2019

Crónica de Maus Costumes 130


Perda de tempo

            Tentei resistir ao assunto da ordem da semana : recuperação integral do tempo de serviço de professores, o número mais conhecido de Portugal 942! Naturalmente, se efetivamente se verificar, nada mais justo. Ver-se-ia cumprida uma promessa que o governo se apressou a fazer, mas tardou em cumprir.
            Aborrece-me o assunto por ler e ouvir sempre o mesmo teor de comentários e as birrinhas de politiqueiros há muito desprovidos de ideal, que se dizem muito defensores das liberdades de abril, mas que na primeira oportunidade, perante uma democracia que os contraria, ameaçam bater com a porta e acenam com a suposta terrível situação de termos um país à deriva, sem governação!
A sério, senhor primeiro-ministro?! Acha mesmo que os portugueses se preocupam com esse facto, se o país, nos últimos anos, mais parece um manicómio em autogestão?! Por favor, tenha um pingo de decência! É que já teve melhores oportunidades para apresentar demissão por imperativo de consciência, sabe?! Quer que lhe lembre a tragédia de Pedrógão?! Sim, com certeza, foi uma fatalidade terrível, mas também Édipo a sofreu e não deixou de se sentir responsável.
A todos os outros que embarcam na fantasia de que os professores levarão o país à ruína, tenham juízo e indignem-se com o que deve ser fator de indignação: políticos corruptos, promiscuidade entre política e o setor financeiro, injeções de somas incomportáveis numa banca que financia e favorece meia-dúzia, etc., etc… Se os professores poderão abrir precedentes para outras lutas corporativas do setor público? Pois com certeza e com toda a legitimidade! Empenho e perseverança é o que se aconselha a enfermeiros, forças de segurança, entre outros… Não precisam é de usar o pseudoargumento de que os professores estão a ser beneficiados. Não estão! Apenas recuperarão o que é seu por direito. Insistam no vosso propósito sem invejar o alheio…
Quanto ao senhor primeiro-ministro, que tanto quis ocupar o poder, com a legitimidade que a constituição prevê, é um facto, mas com toda a imoralidade de quem não ganhou as eleições, esta fita é com que propósito? Fazer dos professores o bode expiatório usando da falácia para contaminar a opinião pública? Tratar-se-á de um plano ainda mais maquiavélico, no sentido de deteriorar a educação a tal ponto que não se eduque nada, já que uma população ignorante é facilmente manipulável? Não me diga que anda a ler Maquiavel…
Lembro só os recentes casos de eleições ganhas por populistas ignorantes e o crescendo da extrema-direita, na Europa. Estes movimentos radicais nunca surgem por acaso. A classe política tem uma grande responsabilidade no surgimento destes fenómenos, porém, enquanto país de brandos costumes e de politiqueiros profissionais, continua-se a assobiar para o lado… Depois, se no desespero e na desesperança a população vota atabalhoadamente ou nem vota, é o descalabro e o valha-me Deus!
De modo que por mim, se quiser pedir demissão, sinta-se à vontade. De qualquer forma, tenho a certeza de que surgirá novo messias no horizonte com vontade de governar este país ingovernável, com palavras esperançosas e vontade de se tornar uma glória nacional! Vira o disco e toca o mesmo! Nós, por cá, simples mortais trabalhadores, continuaremos a assistir a este estado de coisas impávidos e serenos, porque uma revolução com cravos é coisa difícil de se fazer e muito trabalhosa. Era até necessário que nos incomodássemos seriamente com as grandes questões nacionais e até quem sabe começar a valorizar a ética na política. Vejam só tal disparate!
Nina M.
           

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