Perda de tempo
Tentei resistir ao assunto da ordem
da semana : recuperação integral do tempo de serviço de professores, o
número mais conhecido de Portugal 942! Naturalmente, se efetivamente se
verificar, nada mais justo. Ver-se-ia cumprida uma promessa que o governo se
apressou a fazer, mas tardou em cumprir.
Aborrece-me o assunto por ler e
ouvir sempre o mesmo teor de comentários e as birrinhas de politiqueiros há
muito desprovidos de ideal, que se dizem muito defensores das liberdades de
abril, mas que na primeira oportunidade, perante uma democracia que os contraria,
ameaçam bater com a porta e acenam com a suposta terrível situação de termos um
país à deriva, sem governação!
A
sério, senhor primeiro-ministro?! Acha mesmo que os portugueses se preocupam
com esse facto, se o país, nos últimos anos, mais parece um manicómio em
autogestão?! Por favor, tenha um pingo de decência! É que já teve melhores
oportunidades para apresentar demissão por imperativo de consciência, sabe?!
Quer que lhe lembre a tragédia de Pedrógão?! Sim, com certeza, foi uma
fatalidade terrível, mas também Édipo a sofreu e não deixou de se sentir
responsável.
A
todos os outros que embarcam na fantasia de que os professores levarão o país à
ruína, tenham juízo e indignem-se com o que deve ser fator de indignação:
políticos corruptos, promiscuidade entre política e o setor financeiro,
injeções de somas incomportáveis numa banca que financia e favorece meia-dúzia,
etc., etc… Se os professores poderão abrir precedentes para outras lutas
corporativas do setor público? Pois com certeza e com toda a legitimidade!
Empenho e perseverança é o que se aconselha a enfermeiros, forças de segurança,
entre outros… Não precisam é de usar o pseudoargumento de que os professores
estão a ser beneficiados. Não estão! Apenas recuperarão o que é seu por
direito. Insistam no vosso propósito sem invejar o alheio…
Quanto
ao senhor primeiro-ministro, que tanto quis ocupar o poder, com a legitimidade
que a constituição prevê, é um facto, mas com toda a imoralidade de quem não
ganhou as eleições, esta fita é com que propósito? Fazer dos professores o bode
expiatório usando da falácia para contaminar a opinião pública? Tratar-se-á de
um plano ainda mais maquiavélico, no sentido de deteriorar a educação a tal
ponto que não se eduque nada, já que uma população ignorante é facilmente
manipulável? Não me diga que anda a ler Maquiavel…
Lembro
só os recentes casos de eleições ganhas por populistas ignorantes e o crescendo
da extrema-direita, na Europa. Estes movimentos radicais nunca surgem por
acaso. A classe política tem uma grande responsabilidade no surgimento destes
fenómenos, porém, enquanto país de brandos costumes e de politiqueiros
profissionais, continua-se a assobiar para o lado… Depois, se no desespero e na
desesperança a população vota atabalhoadamente ou nem vota, é o descalabro e o
valha-me Deus!
De
modo que por mim, se quiser pedir demissão, sinta-se à vontade. De qualquer
forma, tenho a certeza de que surgirá novo messias no horizonte com vontade de
governar este país ingovernável, com palavras esperançosas e vontade de se
tornar uma glória nacional! Vira o disco e toca o mesmo! Nós, por cá, simples
mortais trabalhadores, continuaremos a assistir a este estado de coisas
impávidos e serenos, porque uma revolução com cravos é coisa difícil de se fazer
e muito trabalhosa. Era até necessário que nos incomodássemos seriamente com as
grandes questões nacionais e até quem sabe começar a valorizar a ética na política.
Vejam só tal disparate!
Nina
M.
Sem comentários:
Enviar um comentário