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domingo, 27 de janeiro de 2019

Crónica de Maus Costumes 116



O Vendedor de Sonhos
            Gosto bastante de histórias bem contadas sejam elas quais forem. Ontem, fui agradavelmente surpreendida por um filme brasileiro, baseado na trilogia O Vendedor de Sonhos, de Augusto Cury.
            Percebo pouco ou quase nada de cinema, mas pelo que pude perceber, foi um filme muito bem conseguido e, dentro dos orçamentos milionários da empresa cinematográfica, parece-me que este não deve ter saído assim tão caro. Haja esperança! É possível fazer bons trabalhos com poucos recursos.
            O filme de 2016 vale e sobrevive pela excelente interpretação dos atores e pelos diálogos magníficos, fruto do trabalho de Cury, com adaptação cinematográfica do realizador Jayme Monjardim e com um parco elenco, constituído essencialmente por César Troncoso, Leonardo Medeiros, Marcelo Valle e Dan Stulbach.
            Não é um filme fácil, porquanto nos confronta com a consciência do ser. Nada que quem goste de ler e de refletir desconheça, porém, envolvemo-nos com as personagens e identificamo-nos aqui e além com elas, revemo-nos nas perdas e conquistas, na superação e evolução dos protagonistas, tão longínquos, mas simultaneamente tão reais.
            Júlio César, um psicólogo afamado (o cinismo da vida a funcionar em pleno, portador de um nome que sugere grandes feitos) tenta o suicídio e acaba por ser salvo por um sem-abrigo, conhecido por “mestre”. Este apresenta-se como sendo um vendedor de sonhos e oferece-lhe uma “vírgula” para que o psicólogo possa continuar “a escrever a sua história”. Nasce assim uma amizade improvável e o terapeuta é levado a uma autoanálise que lhe permitirá recuperar o filho que tinha perdido, acabando por impedir que ele se suicide, oferecendo uma “vírgula”, um recomeço ao relacionamento de ambos.
            Todo o filme é metafórico, deixando-nos a pensar no que realmente importa, passando mensagens belas e profundas: “um suicida quer matar, antes de tudo, a sua própria dor”; “uma pessoa só morre quando deixa de se sentir importante”; “sucesso é conquistar o que o dinheiro não pode comprar”.
O próprio mestre se definiu a dada altura como “o homem que amou o trivial e dispensou o essencial”, o que lhe valeu um sofrimento atroz e a culpabilização pelo rumo da sua vida, mas não desistiu, apesar das dificuldades, por saber que “não pode voltar no tempo, mas que pode sempre recomeçar”.
            É um filme intenso, que nos deixa pouco espaço para respirar e que vive à custa de um curto elenco, mas que faz toda a diferença. As frases, que descontextualizadas correm o risco de parecerem triviais, retiradas de um qualquer livro de autoajuda, ganham, na boca dos atores, um outro sentido e vida própria. São emoção pura que contagia quem vê e que as guardará, por certo, na memória.
            Mais do que recordar os ensinamentos retirados, importa colocá-los em prática.
            Celebremos os recomeços da vida, nem sempre fáceis, mas seguramente necessários.
 Nina M.

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