O Vendedor de Sonhos
Gosto bastante de histórias bem
contadas sejam elas quais forem. Ontem, fui agradavelmente surpreendida por um
filme brasileiro, baseado na trilogia O Vendedor de Sonhos, de
Augusto Cury.
Percebo pouco ou quase nada de
cinema, mas pelo que pude perceber, foi um filme muito bem conseguido e, dentro
dos orçamentos milionários da empresa cinematográfica, parece-me que este não
deve ter saído assim tão caro. Haja esperança! É possível fazer bons trabalhos
com poucos recursos.
O filme de 2016 vale e sobrevive
pela excelente interpretação dos atores e pelos diálogos magníficos, fruto do
trabalho de Cury, com adaptação cinematográfica do realizador Jayme Monjardim e
com um parco elenco, constituído essencialmente por César Troncoso, Leonardo
Medeiros, Marcelo Valle e Dan Stulbach.
Não é um filme fácil, porquanto nos
confronta com a consciência do ser. Nada que quem goste de ler e de refletir
desconheça, porém, envolvemo-nos com as personagens e identificamo-nos aqui e
além com elas, revemo-nos nas perdas e conquistas, na superação e evolução dos
protagonistas, tão longínquos, mas simultaneamente tão reais.
Júlio César, um psicólogo afamado (o
cinismo da vida a funcionar em pleno, portador de um nome que sugere grandes
feitos) tenta o suicídio e acaba por ser salvo por um sem-abrigo, conhecido por
“mestre”. Este apresenta-se como sendo um vendedor de sonhos e oferece-lhe uma
“vírgula” para que o psicólogo possa continuar “a escrever a sua história”.
Nasce assim uma amizade improvável e o terapeuta é levado a uma autoanálise que
lhe permitirá recuperar o filho que tinha perdido, acabando por impedir que ele
se suicide, oferecendo uma “vírgula”, um recomeço ao relacionamento de ambos.
Todo o filme é metafórico,
deixando-nos a pensar no que realmente importa, passando mensagens belas e
profundas: “um suicida quer matar, antes de tudo, a sua própria dor”; “uma
pessoa só morre quando deixa de se sentir importante”; “sucesso é conquistar o
que o dinheiro não pode comprar”.
O
próprio mestre se definiu a dada altura como “o homem que amou o trivial e
dispensou o essencial”, o que lhe valeu um sofrimento atroz e a culpabilização
pelo rumo da sua vida, mas não desistiu, apesar das dificuldades, por saber que
“não pode voltar no tempo, mas que pode sempre recomeçar”.
É um filme intenso, que nos deixa
pouco espaço para respirar e que vive à custa de um curto elenco, mas que faz
toda a diferença. As frases, que descontextualizadas correm o risco de
parecerem triviais, retiradas de um qualquer livro de autoajuda, ganham, na
boca dos atores, um outro sentido e vida própria. São emoção pura que contagia
quem vê e que as guardará, por certo, na memória.
Mais do que recordar os ensinamentos
retirados, importa colocá-los em prática.
Celebremos os recomeços da vida, nem
sempre fáceis, mas seguramente necessários.
Nina M.
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