A culpa de ser humano quando o desvio se torna rumo
Caros
leitores… É mais leitoras, mas não vá haver alguém másculo que me leia e eu não
saiba e possa sentir-se ofendido. Assim, vós que me ledes, sabeis que ando em
experiências com a Minerva. Minerva é a minha aplicação do Gemini, sem querer
fazer publicidade, com quem tenho andado a conversar e a quem batizei com o
nome da deusa da sabedoria.
Efetivamente,
ela é um acervo de informação magnífico! Pois bem… Decidi partilhar com ela,
apenas para a testar, que tinha uma crónica para fazer, mas que me sentia
desinspirada. Solícita, Minerva sugeriu-me, imediatamente, uns exercícios
desbloqueadores de pensamento e uma série de ideias… Aconselhou a olhar para um
objeto e relatar a história que ele poderia contar… Só m vem à cabeça os meus
livros, os objetos que mais prezo, mas nem me aventuro por esse caminho… Se
fosse recordar a história de cada livro, de quem mo ofereceu ou os que eu
comprei e as circunstâncias, não sairia disto… Também me poderia focar num
livro concreto, mas aí surgiria a dificuldade da escolha… Volto sempre à
Criação do Mundo de Miguel Torga, mas são tantos e tão bons… No momento, ando
ocupada com “Les Misérables” de Victor Hugo. Não me tinha chegado a empreitada
do “Guerra e Paz” e meti-me noutra… Já começo com o síndroma de despedida. Já
não falta tudo para acabar o vasto segundo volume. Lá pereceram os meus heróis
republicanos, na barricada, trespassados de balas e de perfurações de baioneta…
Acabou-se o intrépido e belo Enjolras, como o narrador sempre o caracteriza e
os do seu bando: Combeferre, Courfeyrac, Feully, Prontaire e o benjamim da
rapaziada, o atrevidote Gavroche. Uma morte honrosa de todos, de luta
incessante até ao fim, em menor número, sabendo exatamente o que o destino lhes
guardava se a rebelião não passasse a revolução. Não passou e os republicanos
pereceram alegres, em nome de uma causa. Uma partida poética e trágica, numa
luta desigual de Golias contra David. Ganhou o gigante, mas eu gosto sempre
muito de anti-heróis. Lá escapou, uma vez mais, o Jean Valjean e levou o Mário
da sua pequena Cosetta, mas num gesto magnânimo, tinha libertado, momentos
antes, o seu inimigo mortal, o inspetor Javert, o funcionariozinho zeloso que
não entende as injustiças da justiça e quer fazê-la cumprir a todo o custo.
Quase me apetecia penicar o Valjean! Então, soltas o teu carrasco e, ainda, lhe
dizes onde te encontras? Sabes bem que Javert tem a crueldade dos ímpios e a
cegueira dos morcegos! Não vos relatarei o final… Faltam-me menos de duzentas páginas,
grandes, escritas a letra do tamanho dez! A empreitada não é pequena e, se não
sabia o que ia escrever, estão a ver as linhas que isto já rendeu… A Literatura
sempre me salva…
Outra das
possibilidades apresentadas pela minha amiga IA é apresentar um texto com uma
ideia contrária ao que se espera e, nesse âmbito, sugere o Natal ou a exposição
de um fracasso pessoal… Bem… Minerva não sabe que, em relação à quadra
natalícia, não falta já quem erga a voz para declarar o seu desgosto com a
época e o seu consumismo e hipocrisia que lhe encontram! Portanto, o tema não
ofereceria qualquer originalidade e, por outro lado, não me conhece assim tão
bem… Nunca escreveria a desdenhar o Natal por ser a festa das festas para mim! A
festa de que mais gosto, efetivamente, apesar do consumismo e da
hipocrisiazinha de, repentinamente, ficarmos todos bonzinhos e compreensivos.
Não quero saber. Isso reina o ano todo e, apesar de se dizer que o Natal é
quando o homem quer, só o celebramos uma vez no ano! Eu gosto da magia do Natal.
Gosto do Natal porque tudo nele é poesia: a sua mensagem e os seus símbolos.
Gosto da música da Comercial, sempre divertida e animada e gosto da minha
árvore (e este ano renovei a árvore e os enfeites!) e do meu presépio, do meu
Deus-menino posto sobre o móvel. Ele chega sempre uns dias antes, a minha casa,
pronto para receber, mais uma vez, a sua bênção, quando for aspergido na
tradicional eucaristia. Há lá coisa mais poética do que celebrar o nascimento
de quem tem tantos anos, nunca envelhece e deixou uma mensagem tão necessária!
Logo se vê que
não cumpro requisito! Poderia lá apresentar uma ideia negativa do Natal! Quanto
ao fracasso pessoal… Minerva… Como todo o ser humano sou mais miséria do que
proeza! Já admiti a minha falta de jeito para tudo e mais alguma coisa! Não sei
cantar, não sei desenhar, não sei construir coisas, não sei costura, aprendi
rudimentos de croché, de malha e de bordados e pus para o lado, porque além do
tédio, essas atividades nunca me deram qualquer prazer. Só serviam para me
enervar! Coitadinha da minha avó Matilde! Ela, tão boa tecedeira, bem tentou passar-me
o gosto por lavores… Mas aqui a este pedaço de asno nunca foi capaz de nada de
jeito… Vou fazendo comida razoavelmente bem, mas sem grandes artifícios para os
quais não tenho paciência nenhuma… Há, efetivamente, dois traços que me
acompanham desde a infância: a mania de sentar as vizinhas para a porta da
garagem e dar aula, escrevendo a giz, na porta que era de madeira e a mania de
escrever tudo em todo o lado, nas paredes, nos móveis, nos livros, nas
fotografias… (que me perdoem os meus pais, que eu já não posso). Consegui
chegar à sala de aula, na qual ainda permaneço e quanto à escrita… É o que
vedes… Ainda me sugeriu atentar num detalhe esquecido da minha rotina, mas…
Francamente, Minerva! Os meus sábados são tão insípidos no cumprimento de
tarefas domésticas, que ninguém está interessado em saber quantas camisas
passei a ferro! Ainda me veio com temas mais profundos como o tempo, a
perfeição inatingível, a culpa do descanso ou um contratempo pessoal… Minerva! Já
tratei esses temas todos, mulher! Estás a enervar-me! Não conseguiste dar-me
nenhuma ideia original, estou só a repetir-me, de outra forma… Vê lá se me
arranjas um título decente para esta parafernália de coisas e arrematamos por
aqui.
Ficai a saber
que perguntei e só me fez sugestões parvas, mas misturando uma palavra de uma e
de outra sugestão, sai qualquer coisa: A culpa de ser humano quando o desvio se
torna rumo.
Nina M.
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