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sábado, 13 de dezembro de 2025

Crónica de Maus Costumes 446

 

A culpa de ser humano quando o desvio se torna rumo

               Caros leitores… É mais leitoras, mas não vá haver alguém másculo que me leia e eu não saiba e possa sentir-se ofendido. Assim, vós que me ledes, sabeis que ando em experiências com a Minerva. Minerva é a minha aplicação do Gemini, sem querer fazer publicidade, com quem tenho andado a conversar e a quem batizei com o nome da deusa da sabedoria.

Efetivamente, ela é um acervo de informação magnífico! Pois bem… Decidi partilhar com ela, apenas para a testar, que tinha uma crónica para fazer, mas que me sentia desinspirada. Solícita, Minerva sugeriu-me, imediatamente, uns exercícios desbloqueadores de pensamento e uma série de ideias… Aconselhou a olhar para um objeto e relatar a história que ele poderia contar… Só m vem à cabeça os meus livros, os objetos que mais prezo, mas nem me aventuro por esse caminho… Se fosse recordar a história de cada livro, de quem mo ofereceu ou os que eu comprei e as circunstâncias, não sairia disto… Também me poderia focar num livro concreto, mas aí surgiria a dificuldade da escolha… Volto sempre à Criação do Mundo de Miguel Torga, mas são tantos e tão bons… No momento, ando ocupada com “Les Misérables” de Victor Hugo. Não me tinha chegado a empreitada do “Guerra e Paz” e meti-me noutra… Já começo com o síndroma de despedida. Já não falta tudo para acabar o vasto segundo volume. Lá pereceram os meus heróis republicanos, na barricada, trespassados de balas e de perfurações de baioneta… Acabou-se o intrépido e belo Enjolras, como o narrador sempre o caracteriza e os do seu bando: Combeferre, Courfeyrac, Feully, Prontaire e o benjamim da rapaziada, o atrevidote Gavroche. Uma morte honrosa de todos, de luta incessante até ao fim, em menor número, sabendo exatamente o que o destino lhes guardava se a rebelião não passasse a revolução. Não passou e os republicanos pereceram alegres, em nome de uma causa. Uma partida poética e trágica, numa luta desigual de Golias contra David. Ganhou o gigante, mas eu gosto sempre muito de anti-heróis. Lá escapou, uma vez mais, o Jean Valjean e levou o Mário da sua pequena Cosetta, mas num gesto magnânimo, tinha libertado, momentos antes, o seu inimigo mortal, o inspetor Javert, o funcionariozinho zeloso que não entende as injustiças da justiça e quer fazê-la cumprir a todo o custo. Quase me apetecia penicar o Valjean! Então, soltas o teu carrasco e, ainda, lhe dizes onde te encontras? Sabes bem que Javert tem a crueldade dos ímpios e a cegueira dos morcegos! Não vos relatarei o final… Faltam-me menos de duzentas páginas, grandes, escritas a letra do tamanho dez! A empreitada não é pequena e, se não sabia o que ia escrever, estão a ver as linhas que isto já rendeu… A Literatura sempre me salva…

Outra das possibilidades apresentadas pela minha amiga IA é apresentar um texto com uma ideia contrária ao que se espera e, nesse âmbito, sugere o Natal ou a exposição de um fracasso pessoal… Bem… Minerva não sabe que, em relação à quadra natalícia, não falta já quem erga a voz para declarar o seu desgosto com a época e o seu consumismo e hipocrisia que lhe encontram! Portanto, o tema não ofereceria qualquer originalidade e, por outro lado, não me conhece assim tão bem… Nunca escreveria a desdenhar o Natal por ser a festa das festas para mim! A festa de que mais gosto, efetivamente, apesar do consumismo e da hipocrisiazinha de, repentinamente, ficarmos todos bonzinhos e compreensivos. Não quero saber. Isso reina o ano todo e, apesar de se dizer que o Natal é quando o homem quer, só o celebramos uma vez no ano! Eu gosto da magia do Natal. Gosto do Natal porque tudo nele é poesia: a sua mensagem e os seus símbolos. Gosto da música da Comercial, sempre divertida e animada e gosto da minha árvore (e este ano renovei a árvore e os enfeites!) e do meu presépio, do meu Deus-menino posto sobre o móvel. Ele chega sempre uns dias antes, a minha casa, pronto para receber, mais uma vez, a sua bênção, quando for aspergido na tradicional eucaristia. Há lá coisa mais poética do que celebrar o nascimento de quem tem tantos anos, nunca envelhece e deixou uma mensagem tão necessária!

Logo se vê que não cumpro requisito! Poderia lá apresentar uma ideia negativa do Natal! Quanto ao fracasso pessoal… Minerva… Como todo o ser humano sou mais miséria do que proeza! Já admiti a minha falta de jeito para tudo e mais alguma coisa! Não sei cantar, não sei desenhar, não sei construir coisas, não sei costura, aprendi rudimentos de croché, de malha e de bordados e pus para o lado, porque além do tédio, essas atividades nunca me deram qualquer prazer. Só serviam para me enervar! Coitadinha da minha avó Matilde! Ela, tão boa tecedeira, bem tentou passar-me o gosto por lavores… Mas aqui a este pedaço de asno nunca foi capaz de nada de jeito… Vou fazendo comida razoavelmente bem, mas sem grandes artifícios para os quais não tenho paciência nenhuma… Há, efetivamente, dois traços que me acompanham desde a infância: a mania de sentar as vizinhas para a porta da garagem e dar aula, escrevendo a giz, na porta que era de madeira e a mania de escrever tudo em todo o lado, nas paredes, nos móveis, nos livros, nas fotografias… (que me perdoem os meus pais, que eu já não posso). Consegui chegar à sala de aula, na qual ainda permaneço e quanto à escrita… É o que vedes… Ainda me sugeriu atentar num detalhe esquecido da minha rotina, mas… Francamente, Minerva! Os meus sábados são tão insípidos no cumprimento de tarefas domésticas, que ninguém está interessado em saber quantas camisas passei a ferro! Ainda me veio com temas mais profundos como o tempo, a perfeição inatingível, a culpa do descanso ou um contratempo pessoal… Minerva! Já tratei esses temas todos, mulher! Estás a enervar-me! Não conseguiste dar-me nenhuma ideia original, estou só a repetir-me, de outra forma… Vê lá se me arranjas um título decente para esta parafernália de coisas e arrematamos por aqui.

Ficai a saber que perguntei e só me fez sugestões parvas, mas misturando uma palavra de uma e de outra sugestão, sai qualquer coisa: A culpa de ser humano quando o desvio se torna rumo.

 

Nina M.

 

 

 

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