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sábado, 6 de setembro de 2025

Crónica de Maus Costumes 432

 

Regressar também é partir

            Vi esta inscrição que escolhi para título da crónica numa placa colada na fachada lateral de um prédio, como se do nome de uma rua se tratasse. O meu olhar detém-se facilmente sobre palavras, por delas gostar. Fotografei-as. Memorizei-as e aplico-as, agora.

            Estamos em setembro, o mês dos regressos, mas estes regressos são também partidas. Regressamos, partindo de novo para as nossas vidas, para os nossos trabalhos, para as nossas pessoas. Quem sabe não pode ser uma partida para a descoberta. Apesar de a maioria de nós exercer o mesmo ofício de sempre, haverá nuances. Quem sabe mesmo nós não sejamos já exatamente os mesmos. Quem sabe se houve uma ligeira alteração. Ligeiras alterações podem produzir grandes efeitos, como a teoria do caos comprova. Deste modo, regressar pode ser partir para um certo lugar desconhecido. Sei a escola que me espera, mas nada mais. Ainda não sei os miúdos nem o trabalho exato e nem o modo de abordar, sempre diferente, ainda que o conteúdo possa ser o mesmo de outros anos. Há quem chame a isto reinvenção. Eu chamo de necessidade de novidade e de evitar o marasmo.

Será, sim, um regresso que é partida em direção a um, ainda, desconhecido. Creio que acontece com todos, pelo que só posso desejar-vos o melhor regresso ou partida possíveis! De preferência, sem os fogos que devastaram e desolaram o país, mas, ainda hoje, Seia sofreu… Sem que mais nenhum cabo de um elevador se solte ou sem outra tragédia qualquer… No meio da tragédia, é preciso saber olhar o milagre para não ensandecer. Ver a criança de três anos protegida pelo colo de um polícia; alegrar-se com a notícia de que o pai, afinal, está vivo e que a mãe grávida indicia melhoria. Esboçar o sorriso ao imaginar as lágrimas de alegria dos familiares que terão vindo fazer o reconhecimento de um corpo e descobrem a vida! É preciso olhar para as casas e as vidas que sobreviveram ao fogo e para os bombeiros, esses homens bravos e solidários que se batem o melhor que podem; para os gestos de generosidade da vizinhança que se une no mesmo propósito e na mesma desgraça; para a alegria pesada dos que conseguiram salvar os seus bens e os seus animais do inferno. Estes pequenos milagres no meio da tragédia que permitem que a esperança não se desvaneça e que setembro possa ser uma partida. O Homem precisa de esperança. De uma pequenina luz que nos abrigue e ilumine. Sem ela é um cadáver ambulante à espera do féretro.

Desejo que setembro seja próspero em esperança e proporcione recomeços suaves que mais não são do que partidas necessárias. Em especial, lembro-me dos jovens caloiros, por termos um cá em casa, em que o recomeço se fará em busca de um novo projeto.

Bom setembro e bom ano! Quem vive no ensino sabe que o ano começa aqui.

 

Nina M.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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