Regressar também é partir
Vi esta inscrição
que escolhi para título da crónica numa placa colada na fachada lateral de um
prédio, como se do nome de uma rua se tratasse. O meu olhar detém-se facilmente
sobre palavras, por delas gostar. Fotografei-as. Memorizei-as e aplico-as,
agora.
Estamos em
setembro, o mês dos regressos, mas estes regressos são também partidas.
Regressamos, partindo de novo para as nossas vidas, para os nossos trabalhos,
para as nossas pessoas. Quem sabe não pode ser uma partida para a descoberta.
Apesar de a maioria de nós exercer o mesmo ofício de sempre, haverá nuances.
Quem sabe mesmo nós não sejamos já exatamente os mesmos. Quem sabe se houve uma
ligeira alteração. Ligeiras alterações podem produzir grandes efeitos, como a
teoria do caos comprova. Deste modo, regressar pode ser partir para um certo
lugar desconhecido. Sei a escola que me espera, mas nada mais. Ainda não sei os
miúdos nem o trabalho exato e nem o modo de abordar, sempre diferente, ainda
que o conteúdo possa ser o mesmo de outros anos. Há quem chame a isto
reinvenção. Eu chamo de necessidade de novidade e de evitar o marasmo.
Será, sim, um regresso que é partida
em direção a um, ainda, desconhecido. Creio que acontece com todos, pelo que só
posso desejar-vos o melhor regresso ou partida possíveis! De preferência, sem
os fogos que devastaram e desolaram o país, mas, ainda hoje, Seia sofreu… Sem
que mais nenhum cabo de um elevador se solte ou sem outra tragédia qualquer… No
meio da tragédia, é preciso saber olhar o milagre para não ensandecer. Ver a
criança de três anos protegida pelo colo de um polícia; alegrar-se com a notícia
de que o pai, afinal, está vivo e que a mãe grávida indicia melhoria. Esboçar o
sorriso ao imaginar as lágrimas de alegria dos familiares que terão vindo fazer
o reconhecimento de um corpo e descobrem a vida! É preciso olhar para as casas
e as vidas que sobreviveram ao fogo e para os bombeiros, esses homens bravos e
solidários que se batem o melhor que podem; para os gestos de generosidade da
vizinhança que se une no mesmo propósito e na mesma desgraça; para a alegria pesada
dos que conseguiram salvar os seus bens e os seus animais do inferno. Estes
pequenos milagres no meio da tragédia que permitem que a esperança não se
desvaneça e que setembro possa ser uma partida. O Homem precisa de esperança. De
uma pequenina luz que nos abrigue e ilumine. Sem ela é um cadáver ambulante à
espera do féretro.
Desejo que setembro seja próspero em
esperança e proporcione recomeços suaves que mais não são do que partidas
necessárias. Em especial, lembro-me dos jovens caloiros, por termos um cá em
casa, em que o recomeço se fará em busca de um novo projeto.
Bom setembro e bom ano! Quem vive no ensino
sabe que o ano começa aqui.
Nina M.
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