Para ti, Isabel Ferreira…
A crónica deste fim de semana é tua,
Isabel. Contudo, preferia que fosse outra, que não tivesse de escrever sobre a
tua partida, sobre o teu silêncio nem sobre a tua ausência.
Passaste
pela vida como um cometa, cheia de luz, de brilho e de festa. Como um cometa,
foste rápida… Mal nos acordámos, deixámos de te ver… Como um cometa, deixas um
rasto incandescente.
A doença
levou-te em oito meses. Tempo em que te refugiaste no silêncio. Não quiseste
que soubéssemos da tua luta e quando a notícia chegou, tirou-nos o chão a
todos. Parecia irreal, uma partida de mau gosto na qual não queríamos
acreditar. Tudo demasiado rápido, demasiado cedo… Não era suposto!
Sabes,
Isabel, algures no teu silêncio, lembro de me ter passado pela cabeça a tua
ausência na rede social e de pensar que já não interagíamos por messenger
há algum tempo, como fazíamos com alguma frequência, e sei que pensei: “tenho
de enviar uma mensagem à doutora…” Não enviei. Não o fiz, porque estaria,
certamente, ocupada com alguma coisa e deveria ter largado o que quer que fosse
para te falar, naquele momento. Não poderia imaginar o que estava a acontecer,
obviamente… O momento passou, a vida enreda-nos e acabamos por adiar o que não
deve ser adiado. Deveria ter ouvido o meu coração. Fica-me esse peso. Tal como
o arrependimento de não ter organizado o segundo encontro. Foi tão bom o
primeiro! Rimos tanto. De repente, era como se tivéssemos todos rejuvenescido e
nos continuássemos a encontrar, diariamente, à mesa do café de sempre.
Querias tanto o segundo encontro!…
Falámos disso e era para ser feito, mas depois… Vamos deixar para o tempo mais
quente… De seguida, há sempre uma infinidade de coisas e de contratempos… Os
filhos e as suas atividades que condicionam os fins de semana dos pais; outras
vezes, estão já ocupados com coisas pragmáticas e aborrecidas, outra vez é por
qualquer outro motivo que não deveria existir. Simples assim…
A dor maior é a de sabermos que não devemos
adiar o inadiável, mas passamos a vida a fazê-lo. Onde couber a amizade, a
ternura e o amor, caberá, também, o tempo que não espera. Agora, não o podemos
recuperar, porque a vida não permite ensaios nem rascunhos. É a sério, a doer e
a perder… Cinicamente, a vida fez com que nos encontrássemos todos para nos
despedirmos de ti… Ninguém queria que tivesse sido assim. Guardamos-te com a
tua alegria e a tua jovialidade, com a tua saudade da vida académica e da “Bila”,
com o teu sorriso e a tua gargalhada cheia.
Ficas a saber, doutora, que será
impossível passar pela Bila sem te lembrar e, havendo oportunidade, ir buscar
os pitos à Lapão e os covilhetes à Gomes, como gostavas de fazer. Tu, que
gostavas tanto dos versos de Sophia, em que ela diz que quando morrer, voltará
para vir buscar os instantes que não viveu junto do mar, eu acredito que
voltarás, em cada um de nós, para vires buscar os instantes que não viveste na
tua amada “bila”.
Fica bem, doutora, onde quer que
estejas. Espero que te reencontres com o senhor teu pai, aquele te passou o bom
gosto da tua cor clubística, o FCP, como sempre anunciavas. Quanto a mim, a tua
eterna caloira, como sempre me chamavas, por enquanto, continuarei por cá, a escrever
umas coisas para que as possas ler, se te apetecer.
Até sempre, minha doutora preferida.
Beijo enorme da caloira.
Nina M.
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