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sábado, 25 de maio de 2024

Crónica de Maus Costumes 375

 Passeios e piqueniques

    Fizeram-me lembrar, esta semana, dos passeios de família em que os pais enchiam a mala do carro até não caber mais nada. Eram pequenas mesas de montar, cadeiras que se fechavam, tantas, quanto o número de elementos da família, pratos, talheres, copos, toalha, guardanapos e, claro, comida e bebida.
    Os passeios familiares e a praia eram feitos assim, com direito a piquenique, mas com comida de faca e garfo. Muitas vezes, no verão, ao domingo, a minha mãe fazia o almoço, embrulhava muito bem o tacho do arroz em jornais e panos, tal como a carne estufada ou a feijoada, metia toda a parafernália na mala do carro para irmos almoçar ao Sameiro, em Penafiel, passando depois a tarde nos jardins ou a Amarante (aqui era mais entusiasmante, porque havia direito a passeio de barco). O Tâmega tinha sempre uns senhores nas suas margens que ganhavam uns trocos extra a levar pessoas a dar uma volta no barquito a remos… Não havia coletes, nem boias, nada! Naquela altura era assim… Se caísse alguém ao rio seria um sarilho… No Marco de Canaveses, ainda se transportavam as malotas e mantas, no barco a remos, para passar a tarde na ilha… No final do dia, à hora combinada, o barqueiro vinha buscar quem lá tinha deixado…
     Escusado será dizer que nós, catraios, adorávamos, mas questiono o que levaria a minha mãe predispor-se a levantar cedo, de madrugada, para preparar uma refeição completa, acomodá-la, para ir comer a outras paragens! Deus me livre! E não era coisa que se comesse com as mãos! Aquilo era armar a mesa fora de casa! Os homens não se contentavam com umas sandochas nem uns rissóis… A noção de piquenique era diferente… Eu não sou amante de andar com tanta trouxa atrás e, se me falam em fazer piquenique, prefiro a praticidade de meter umas sandes e umas peças de fruta e a coisa resolve-se.
   Quando penso na minha tia, que se levantava de madrugada para acender o forno a lenha, deixá-lo aquecer muito bem, até fazer barrisco, e assar o cordeiro pascal, toda satisfeita e, quando lhe falavam do trabalho que tinha tido, jurava não lhe custar nada, não posso deixar de sorrir. Apesar do trabalho, sentia prazer no que fazia, para contentar os outros. A minha tia era uma mulher extraordinária! Nunca dizia não a quem lhe pedisse alguma coisa e, mesmo que estivesse cansada, jurava sempre a pés juntos que não lhe custava nada. Estava sempre bem e podia sempre tudo, mesmo que não fosse verdade. Tinha a fortaleza das mulheres que enviúvam cedo e têm filhos para criar…
    Pensando nestas coisas, vemos como as mulheres eram criadas: para agradar ao marido, aos filhos e à família, nem que isso lhes custasse o cansaço de uma vida! Será, até certa medida, normal que se queira proporcionar bons momentos de partilha à família, mas o esforço desmedido sobrecarregava sobretudo as mulheres e falavam sobre o trabalho de grande responsabilidade de conduzir a viatura, pelo que os homens deveriam ser tratados a pão de ló, em virtude da tarefa que cumpriam… Os homens pouco valorizavam as delas, desempenhadas durante a madrugada, e ainda era a eles que o sono mordia depois de almoço! Creio que deveriam achar que a recompensa do passeio era suficiente para as contentar! Sem esquecer que, depois, no regresso, à noite, jantava-se o que sobrava e, de seguida, a loiça para lavar já era a dobrar! Tudo ao domingo, véspera de segunda-feira! Deus me livre! Só de imaginar tal trabalheira, já me arrepio! Valeria mais ficar no sossego do lar…
    Um domingo de sonho: levantar pela aurora, cozinhar, armar a tenda e desarmar ao final do dia… O português tem cada ideia!

Nina M.

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