O país anedótico que temos
Temos um Presidente de República que
se esquece que é o máximo representante da nação e, portanto, é capaz do melhor
e do pior, no mesmo dia. Tanto é capaz de dar uma lição de História. Fica para
os anais uma certa conversa com o narcisista do Trump como, no momento
seguinte, aparece a perguntar a uma menina se não tem frio e para ter cuidado… não
vá constipar-se, por estar muito decotada! Recentemente, chamou lento ao
António Costa, o que justificou com a sua origem goesa e rural ao Montenegro! Afirma
que este dá muito trabalho, porque é imprevisível e tem comportamentos rurais. Não
o explicou, mas prende-se com as origens do líder do Governo atual, que é natural
de espinho. Tal afirmação já fez com que Pacheco Pereira viesse afirmar que conhece
Espinho e que não é assim tão rural, pois tem muita indústria, uma das maiores
feiras do país (bem, para mim, a feira é um pouco rural e raramente me apanham
a feirar)! Não gosto das multidões que se acotovelam e andam a passo de caracol
enquanto remexem tudo no que está exposto, tudo amontoado, numa desordem que
dificulta encontrar seja o que for e, depois, ter de ouvir os pregões: “Ó minha
flor, venha cá, diga lá o que precisa! Olhe que o preço é bom, freguesa!”.
Definitivamente, não é para mim e estou consciente que deixo cair mais uma
pérola para que me chamem de elitista. Não o sou. Posso conversar genuinamente com
quem quer que seja, mas não gosto mesmo nada de ajuntamentos, arraiais, povoléu
amontoado e barulho. E faz-me confusão ver as coisas todas ao molho, sem ordem
nenhuma… Não sou a pessoa mais organizada do mundo, pelo contrário, mas
caramba, nem tanto ao mar nem tanto à terra!
Há que regressar ao texto! Outra
coisa de que me acusam com veemência, é de me lembrar de encaixar episódios
dentro de episódios e dificultar a vida a quem segue a narrativa… Tende
paciência, já lá vamos… Dizia eu que o Professor Marcelo anda com vontade de rotular
os parlamentares. Veremos quem se seguirá, mas parece-me que deveria olhar um
bocadinho para si e lembrar-se de que já não está há muito no papel de comentador!
O professor parece um saltimbanco, aquele aluno elétrico, incapaz de estar
quieto e calado, a quem dá vontade de dar um forte puxão de orelhas! Para além
destes chistes que, apesar de despropositados são inócuos, o senhor presidente,
às vezes, gosta de complicar a vida aos comparsas da política. Já não bastava
isto, vem falar logo de seguida de uma necessária recompensa às ex-colónias,
sem esclarecer concretamente o que quereria dizer com isso. Depois foi
interpelado e lá foi dizendo que já se vai fazendo, que a recompensa existe
quando se perdoa uma parte da dívida, quando se estabelecem protocolos especiais
para que as pessoas originárias desse país possam vir para cá mais facilmente,
etc, etc. Ó senhor presidente, antes de se falar na praça pública, essas
matérias deveriam ser discutidas internamente! Pode-se pensar e discutir o
assunto, nomeadamente, no que à devolução de obras de arte diz respeito, mas
não se arremessa assim o assunto, sem uma contextualização, para polarizar uma
sociedade já de si polarizada. É necessário maturar as ideias, antes de mais e depois
lançar o diálogo para se chegar a uma conclusão!
Já não nos basta as trapalhadas do presidente,
ainda temos de levar com as trapalhadas da assembleia! Por mim, eu gostaria de
perceber com clareza se há ou não excedente orçamental e como se passa de um
excedente para uma dívida substancial, num curto prazo de tempo. Ou o excedente
nunca existiu ou se existiu é preciso uma explicação cabal para compreender a
sua aplicação. Depois, se o parlamento continua a brincar à governação e se as
duas forças políticas que, supostamente, não se suportam (PS e CHEGA) continuam
a juntar-se para serem uma descarada força de bloqueio à governação, só vejo
duas situações que podem ocorrer: ou a AD se farta, atira a toalha ao chão e
vamos novamente para eleições ou o Montenegro é obrigado a chegar a um acordo
com quem não quer e nunca quis, cedendo à chantagem, para poder governar. Até
ao momento, claramente, o Governo não governa e, portanto, estamos num absurdo
kafkiano sem fim à vista. Repugnam-me extraordinariamente, visceralmente e revoltadamente
estas jogadas de bastidores, esta hipocrisia fétida e este jogo do faz de conta
de que Eça já se lamentava. As palavras que me ocorrem são as da minha avó
Matilde: “À bardamerda, todos”!
Lastimo a violência e o crime de
racismo e de xenofobia perpetrado no Porto contra um grupo de imigrantes. É
preciso ter cuidado com os discursos, a começar com os agentes políticos e a terminar
na sociedade, que incendeiam os mais incautos e se tornam geradores de ódio.
Esclareça-se de uma vez por todas que o homem é igual em toda a parte: mais feito
de misérias do que de proezas. Nascermos portugueses é uma fatalidade; não nos
confere qualquer superioridade moral nem nos torna melhores ou piores do que os
outros, não nos concede o direito de agredir violentamente o estrangeiro que
para cá veio! Nós somos um país de emigrantes! Não deve haver uma família
portuguesa que não tenha casos de emigração! Não podemos aceitar nem permitir,
enquanto sociedade, esta clivagem entre um “nós” que se julga melhor que “o
outro”. É com satisfação que assisto à manifestação imediata de repúdio a estes
atos vândalos. Só assim a sociedade pode mostrar que ainda é possível preservar
a humanidade.
A última nota de pesar vai para a mãe
que foi apanhada de surpresa com o comportamento do filho de dezassete anos,
alegadamente, autor moral do crime de assassinato de uma jovem, no Brasil. Fica
o alerta para os pais, que não sabem o que os filhos veem, leem e conversam na
Internet e fica o alerta para os jovens: a vida real não é um jogo e cada um de
nós vive diariamente, mas depois que a morte chega, já não se volta a pisar
terra firme. Mais do que uma vida, só nos jogos de computador, mesmo!
Não à discriminação! Não ao ódio! Não
à segregação! Todo o homem sangra.
Nina M.
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