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sábado, 27 de abril de 2024

Crónica de Maus Costumes 371

 

Tributo a Pinto da Costa

               Fui acompanhando, ao longo do dia, as eleições do Futebol Clube do Porto (FCP). O tempo do senhor presidente Jorge Nuno Pinto da Costa à frente dos destinos do clube acabou.

               Não sou sócia. Não votei. Entendo que o clube precisa de uma nova organização. Mesmo que o Pinto da Costa continuasse por mais quatro anos, seria necessário começar a acautelar o futuro do clube sem a sua presença. Algum dia teria de ser, senhor presidente. Não foi como gostaria que tivesse sido, mas talvez olhando para o trajeto pessoal de Pinto da Costa, talvez não pudesse ser de outra maneira… Nas suas autobiografias, afirma que não faria campanha por um suposto sucessor, no sentido de lhe preparar caminho, porque o Futebol Clube do porto não era nenhuma monarquia. Cumpriu. Não só não apoiou como não se retirou e lutou até ao fim. Pode ser acusado de muita coisa, mas nunca de cobardia. Pinto da Costa entende ser como as árvores e morre de pé.

               Eu só me lembro do meu clube com Pinto da Costa no comando. Chegou à presidência em 1982, tinha eu sete anos. Tenho imagens de um presidente ainda novo. Não tenho qualquer imagem do seu antecessor. Assim, apesar de acreditar que a vitória de André Villas-Boas é o melhor para o futuro do clube, não deixo de me sentir triste. Acredito que muitos portistas sintam esta cisão. Há um vínculo emocional forte entre os adeptos e aquele que foi presidente do clube durante quarenta e dois anos. O presidente Jorge Nuno Pinto da Costa merecia sair em apoteose, mas teimou em trilhar este caminho. Sabe, senhor presidente, faz-me lembrar o Santiago de “O Velho e o Mar” de Hemingway. A luta travada aos oitenta e seis anos, por não poder ser de outra maneira, que o fez chegar à meta sem a vitória, tal como o velho pescador chegou à costa, mas só com o espinhaço do espadarte, depois de tanta luta. Estas personagens épicas comovem-me. São os meus anti-heróis tão mais perfeitos que qualquer deus da antiguidade. Normalmente, no final, terminam de mãos vazias, mas de alma cheia. Talvez seja assim que o ainda atual presidente se sinta, com a consciência de ter dedicado toda a sua vida ao clube.

               Os portistas só podem mostrar gratidão pelo que fez pelo FCP, pelas inúmeras vitórias e troféus, pela inscrição do clube nos pergaminhos europeus. Será sempre o presidente dos presidentes. Será sempre o presidente honorário de todos os portistas.

               Amanhã, será dia de jogo grande, o último clássico de Pinto da Costa, enquanto presidente do clube. Espero que os adeptos saibam honrar o enorme legado de quarenta e dois anos que nos deixa. É o fim de um ciclo. Todos os finais são difíceis e todos eles implicam um recomeço. Que o dia de amanhã possa ser de união para todos os portistas. Esperemos que, a partir de amanhã, só haja um Porto! Um Porto que saiba honrar o passado e preparar o futuro.

O nome de Jorge Nuno Pinto da Costa estará sempre ligado ao Futebol Clube do Porto e ficará, para sempre, na História do Clube, que sempre lhe fará justiça. Certamente, a nação portista continuará a vê-lo no estádio a apoiar o clube a que dedicou a vida, numa passagem de testemunho tranquila.

Eternamente obrigada, presidente!

 

Nina M.

 

 

 

 

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