Violência e terror
Só ao final da tarde me apercebi do
ocorrido em Israel, pelas redes sociais, que me davam contam da notícia. Li
sofregamente como quem não acredita e imediatamente a televisão foi ligada em
busca de mais informação.
Uma das
primeiras imagens que vejo é um prédio a ruir. Inevitável não nos lembrarmos do
onze de setembro, principalmente, depois de ouvirmos os detalhes sobre como o
ataque foi perpetrado.
Israel não é
inocente na conjetura global. Há muito deveria ter resolvido a questão da Faixa
de Gaza e deveria abdicar dos colonatos, situação que contraria a lei
internacional. Os israelitas deveriam compreender melhor do que ninguém o que é
sentir-se um povo sem pátria, pelo facto de eles o terem sentido na pele e de
terem sido alvo de perseguições inadmissíveis ao longo da História. Não deveriam
passar de agredidos a agressores. A comunidade internacional deveria, sim,
pressionar Israel, no sentido de libertar o espaço que ocupam da Faixa de Gaza,
desde 1967. Os cidadãos israelitas e palestinianos inteligentes e moderados
compreendem que o povo (de ambos os lados) não tem responsabilidade no
conflito. Há palestinianos a trabalhar em Israel ou nos colonatos israelitas.
Estabelecem contactos e até laços. Ainda não estive em Jerusalém, mas pelo que
já li vive-se cosmopolitismo e convivência religiosa entre judeus, cristãos e
muçulmanos.
Já no tempo de Cristo, pela Páscoa, o
ambiente em Jerusalém fervilhava. Os Judeus, que mantinham a sua autoridade religiosa,
expressa no sumo sacerdote Caifás, deviam obediência às leis do Império Romano,
representado por Pilatos, responsável pela manutenção da ordem na cidade. Jesus
foi um agitador das águas. Por um lado, sendo ele judeu, questionava a lei
judaica, deixando Caifás numa posição vulnerável e receoso de perder a sua
influência e poder. Pilatos só queria que naqueles dias, em que Jerusalém se
enchia de peregrinos, a ordem e a lei romana fossem respeitadas. Era essa a sua
função e pretendia cumpri-la. Não queria que chegasse até Tibério César rumores
sobre a sua incapacidade para conter rebeliões. Ora os discursos de Jesus,
através dos quais veiculava a Boa Nova e o episódio dos vendilhões do templo tê-lo-ão,
de certa forma, marcado como um possível promotor de contendas. Quando os
príncipes dos sacerdotes decidem entregá-lo a Pilatos, eliminando a
concorrência, Pilatos julgá-lo-á como alguém que desafia a ordem e não por
questões religiosas, até porque estas competiam a Herodes. Pôncio Pilatos
tratava apenas dos impostos e das rebeliões contra Roma. Na verdade, a condenação
de Jesus foi meramente política. Pilatos fez a vontade a Caifás, mantendo as
boas relações com a autoridade religiosa judaica, serenando os ânimos e
mantendo a ordem. Enfim, cumprindo com o papel para o qual foi designado.
Jerusalém sempre foi um caldo em
ebulição, uma panela de pressão. Parece que os ventos da História chegam aos
dias de hoje e tem faltado vontade política para a resolução de contendas.
Árabes e Judeus, todos querem a bela Jerusalém. No entanto, o ataque de hoje,
levado a cabo pelo grupo terrorista Hamas, contra civis, e fazendo deles alvo e
reféns, além de inqualificável contribui para o agravamento de uma situação já
por si complicada. O país, sentindo-se ferido de morte, vai querer ripostar e
sentir-se-á legitimado para o fazer. Gostaria de estar enganada, mas prevejo
dias muito sangrentos. Entenda-se que o ataque não é lançado por uma nação, mas
por um grupo terrorista, com o apoio do Irão, financiador de armamento e que
gosta de lançar o terror dentro e fora da própria nação. Sabendo-se que o Hamas
se escuda nos civis e sedia-se nos seus prédios para montar o terreno de
operações, adivinha-se uma carnificina. A Intifada (uso a expressão, porque as
ações terroristas já foram justificadas com o nome de Deus) não ficará sem
resposta e ao longo da História, a cada guerra, Israel foi tomando território,
num crescendo de ódio e de intolerância entre povos. Foi o que aconteceu na
designada Guerra dos Seis Dias, que terá sido uma ofensiva israelita preventiva,
com o objetivo de impedir uma invasão concertada entre vários países árabes,
que pretendiam acabar com o Estado de Israel, criado em 1948. Creio que Netanyahu
não negociará com terroristas, não se sentará com representantes do Hamas, pelo
contrário, tentará eliminá-los. O golpe festejado por estes e pelo Irão tornaram
as ambições de paz mais longínquas. Creio que o facto de Gaza se encontrar dominada
por terroristas torna ainda mais difícil a resolução do problema. Todos os
esforços que se tinham vindo a desenvolver e os encontros entre as autoridades
palestinianas e israelitas, que permitiram pequeníssimos passos para se
encontrar a paz, se esboroaram. Resta saber como as nações vizinhas se
comportarão mediante o eterno conflito. É preciso contenção para que não sejam
sobretudo os palestinianos civis e que nada têm a ver com o Hamas, que já vivem
em condições tão difíceis, a pagar a fatura.
Não obstante, com grupos terroristas
que se autoproclamam Estados, que atacam civis sem qualquer ética, sem se
importarem com o próprio povo, no qual se respaldam e para quem as suas vidas
são apenas danos colaterais, também entendo que não se negoceia. Caberá à
Autoridade Palestiniana um papel importantíssimo, não legitimando ações
terroristas, lançando o diálogo diplomático em prol da paz entre as nações.
Nina M.
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