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sábado, 1 de julho de 2023

Crónica de Maus Costumes 332

 

Celebrar a amizade

Hoje, foi dia de celebrar a amizade. Cinco mulheres que se conheceram numa escola e continuam a reunir-se, uma vez por ano, mesmo estando cada uma em sua escola.

A escola também é isto, dizia uma delas. Na verdade, Lurdes Martins, és a grande timoneira que permite que este espírito se mantenha. Não que nós não sintamos a mesma vontade, mas talvez pelas tuas características, em particular, a tua capacidade de dares prejuízo à empresa de telecomunicações com quem contratualizaste serviço, o viço se mantenha. Anualmente, cá estamos nós (as cinco), porque eu e tu vamos falando, vamo-nos encontrando e até arranjando projetos comuns, com maior regularidade. Deve-se à nossa proximidade geográfica, obviamente, mas também às afinidades que nos unem: o gosto pela cultura, pelo livro e pelas viagens. Quanto às passeatas, és infinitamente pior do que eu! Uma roda no ar, como é vulgo dizer-se. Se há característica de que gosto em ti é o facto de gostares de viajar, mas de lhe juntares o gosto pela cultura, pela arte, pela História… És uma boa parceira de viagens, porque fazes o trabalho de casa e gostas genuinamente de descobrir a história por detrás dos lugares. Até poderíamos ter escolhido uma espécie de spa caseiro, num dia de calor como o de hoje. Porém, se é passeio, é passeio. Dizes tu. E fazemos-te a vontade com gosto.

Trocámos Aveiro pela “Bila”, dadas as circunstâncias; o litoral pelo interior. A serranias também têm o seu encanto… Que o diga o Torga que cantou a montanha nua, despida até ao osso e as valas feitas a enxadão e a suor humano, nos socalcos do Douro. Mostrei-vos os recantos da pequena, mas agradável cidade onde estudei. Há muito não me perdia pela rua Direita que é torta e pelas suas vielas adjacentes, que tanto nos levam à Carvalho Araújo e à Gomes como à 1º de maio, virada ao Corgo, onde morei parte boa da minha vida. Talvez fruto do S. Pedro, ainda apanhámos a Capela Nova aberta, local onde era feita tradicionalmente a Monumental serenata, que sempre iniciava a queima… Regressar à Bila desta forma, poder perder-me nas suas vielas e traços de casas antigas é sinónimo de retroceder no tempo com saudade… Não podia faltar Camilo pelo meio, nem o Torga e a paisagem de Galafura. O S. Leonardo, que à proa de um navio de mosto, vai sulcando as ondas da eternidade, com desgosto de deixar para trás os vinhedos, o verdadeiro paraíso perdido…

Se tivéssemos ido a Aveiro, a guia não teria sido tão emotiva nem tão competente. Não teria falhado a casa dos avós de Eça. O avô que terá inspirado a criação da figura de Afonso da Maia, mas guia teria sido mais relapsa e não saberia mostrar tão bem os cantos à casa.

Na verdade, o favor foi vosso, meninas. Permitiram-me percorrer os trilhos da memória. Os trilhos do Corgo terão de ficar para uma próxima oportunidade, mas vim com um pedaço de passado agarrado à pele. Trouxe comigo não a “bila” de hoje, mas a de outrora.

 

P.S. Isabel Ferreira, estas meninas ainda provaram o covilhete da Gomes, mas as cristas de galo ou os pitos nem os cheiraram, apesar de termos passado na Lapão. Quem sabe a desculpa perfeita para lá voltarem. Lembrei-me de ti, doutora!

 

Nina M.

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