Maternidade: Prós e contras
Fiquei
parada a olhar para aquelas linhas, a pensar… Pelos vistos, antes de mais, há a
tese de que o altruísmo, afinal é egoísta, porque a ação de fazer o bem e de alegrar
o outro, ao que parece, traz mais benefícios ao agente do que ao beneficiado. Parece
que são libertadas umas certas hormonas como a dopamina, a serotonina, a
oxitocina, responsáveis pela sensação do bem-estar. Portanto, alegrar alguém
com um gesto, com uma palavra de apreço, com um presente parece trazer
benefícios ao próprio. Portanto, só temos a ganhar com as atitudes positivas.
Compreendo a ideia que sustenta tal
afirmação, mas não me convence. Afirmar que trazer um filho ao mundo pode ser
um ato egoísta e não gerar vida pode ser um gesto altruísta, porque iríamos
poupar o novo ser ao desgosto de crescer e de se desenvolver num mundo
alucinado e pouco razoável, não me parece argumento de monta. O mundo nunca foi
recomendável! Sempre houve fome, guerra, ódio, misérias e opressões. Se todos
pensássemos dessa forma, o ser humano estaria extinto. A crueldade existente
nunca demoveu a humanidade de procriar. Parece-me mais lógico cada um trabalhar
individualmente em prol de um mundo higiénico, porque se formos pensar na linha
do tempo, desde os primórdios, a vida humana é feita de convulsões e nunca
houve tantas condições. Naturalmente, também aqui há cisões abruptas e fossos
absurdos e nem todos os homens têm o mesmo conforto, mas julgo que é inegável a
evolução positiva, numa visão mais ampla da história da humanidade. Obviamente,
a humanidade está muito longe de ser perfeita e há um longo trabalho a ser
feito, mas deverá, precisamente, o ser ocidental questionar a maternidade ou
paternidade como um gesto de altruísmo se nunca teve tantas condições
favoráveis? Não serão estas até as responsáveis por uma certa doença da
pós-modernidade, em que o tanto já é tão em demasia que sobra apenas um vazio
imenso? Um tédio inexplicável e uma anedonia injustificável, num mundo em que
quase se tem tudo e nada se abarca nem satisfaz. Parece que o facto de o homem
não precisar de lutar pela sua sobrevivência o deixou à deriva, sem um sentido
e um propósito que justifique a sua existência. Perante este cenário, surgirá o
pensamento de que não valerá a pena trazer crianças ao mundo… É verdade que se a população existente no
planeta fosse estrategicamente redistribuída, sem olhar a fronteiras e nações (afinal
o planeta é a casa de todos) a Europa não seria tão envelhecida. Paradoxalmente,
temos um planeta sobrepovoado, em que os países ricos esgotam rapidamente os
recursos naturais. Há quem defenda o decréscimo do ritmo de crescimento
populacional nos países em vias de desenvolvimento como parte da resolução do
problema, acompanhado de outras medidas, naturalmente, como o recurso mais
regrado da energia, uma melhor gestão das zonas urbanas, a proteção da água, um
crescente controlo da exploração florestal e a preservação das terras
cultiváveis.
Não me parece, no entanto, que a
decisão de ter um filho passe por esta postura de não querer sobrepovoar o
planeta. A mulher tem o direito de não querer ter filhos e uma análise
racional, tecnicista e fria aconselha-o vivamente. Desde logo, cada filho até atingir
a maioridade representa uma despesa de cerca de duzentos mil euros aos pais (se
eu colocar o numerário em viagens e livros, ainda me arrependo de ter tido os
meus…), depois, a responsabilidade, a preocupação, o centro e o foco da vida passam
a ser eles, inevitavelmente. Há perda de liberdade, na medida em que os pais
assumem a tarefa de criar e de educar um novo ser que não pediu para nascer e
tudo o que possamos fazer pode direta ou indiretamente prejudicá-los. Para não
falar das situações aborrecidas como as noites mal dormidas, as doenças que
sempre surgem, as birras, a exigência de atenção que não se compadece de cansaços
e um dar de si a todo o instante, sempre mais e sempre de forma inesgotável,
até ao fim dos nossos dias.
Na verdade, é muito fácil conseguir elencar
um enorme número de razões para não se ser mãe nem pai e o altruísmo é a última
que me ocorre.
A favor, apenas duas e, por sinal,
egoístas: o privilégio de saber o que é o amor incondicional. Saber com todo o
coração que daríamos, sem pestanejar, a vida por aquele ser que acolhemos no
ventre e a possibilidade de prolongarmos os nossos genes na vida terrena, o que
nos confere uma certa imortalidade. Estas duas razões ofuscam todos as outras contrariedades.
Confirma-se a teoria de que quem dá amor, faz o bem, cuida, muitas vezes, sem
vontade e com sacrifício, apenas porque ama, é o beneficiado. Por isso, os pais,
mesmo exauridos, quando olham as suas crias, sobra apenas o amor, o
retemperador de forças que os induz cuidado, sempre renovado, sem contas nem
reclamações.
A minha pequena Matilde, na sua ânsia
de compreender o mundo, pergunta-me muitas vezes se preferiria que morresse ela
ou eu. E a minha resposta é invariavelmente a mesma: claro que preferiria
morrer eu. Nem gosto que me fales assim. E ela insiste em querer saber os
motivos. Tento explicar-lhe que a morte dela ou do irmão seria a morte em vida
da mãe. Não há nada que me assuste mais. Invariavelmente, ela arregala os olhos
e diz-me: mas, ó mãe, morrerias. Trocarias a tua vida pela minha? Sem
pestanejar, respondo. Ela cala-se e eu sei o que lhe vai na alma. O que ela não
me diz e daí vem o seu espanto é que ela não seria capaz de o fazer por mim.
Tenho de acrescentar, para serenar o seu coração, que o amor de uma mãe por um
filho é sempre maior do que o inverso e está bem assim, por isso, nenhum filho
precisa de dar a vida pela mãe ou pelo pai, porque nenhum deles aceitaria.
Nina M.
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