E a luta
continua…
Luís Sottomaior Braga, professor de
História e subdiretor de um Agrupamento de Escolas da Abelheira, em Viana do
Castelo, encontra-se em greve de fome desde as 24h00 de segunda-feira.
Já lhe agradeci o gesto, através das
redes sociais, assim como a sua determinação, força e coragem na defesa da
escola pública e de todos os professores. O Luís faz o que eu não conseguiria
fazer. Como diz alguém: “Viva a fartura que a fome, ninguém atura!” Eu aturo
mal a fome. Se a sinto, tenho de a saciar naquele momento e pode ser até com
pão seco! Não importa se a refeição que vai ser servida prestes é um manjar…
Quero é consolar o estômago que se lamenta da falta de alimento e, depois, se
não apetecer comer tanto, come-se menos ou nada. Com a fome, chega a
impaciência e a irritabilidade; também é verdade que depois de uma certa
altura, se não alimentarmos o corpo, a sensação de fome parece desaparecer. De
qualquer forma, sei que não seria fácil colocar-me nessa situação. Para além
deste incómodo, há todos os riscos que uma greve de fome implica. Certo é que
esta decisão foi tomada por um conjunto de pessoas. O Luís dá o corpo às balas,
mas há um grupo de retaguarda que lhe presta todo o apoio e que merece também o
nosso agradecimento.
O colega em questão não é
consensual. Pelo que percebo e vou lendo, há os que dele gostam e os que o
detestam. Há quem o acuse de uma certa hipocrisia, pois defende com afinco a
sua classe, o que é inegável, mas no exercício das suas funções, acusam-no de
autoritarismo e alguém que cria mau ambiente na escola. Não teço juízos de
valor sobre quem não conheço e eu não conheço o colega. Certo é que o Luís foi
um dos professores representantes da Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC),
tendo sido o porta-voz na audição da Comissão da Educação e da Ciência (CEC),
em 2019, tendo defendido sem medo e sem papas na língua a recuperação do tempo
de serviço, perante a arrogância insuportável e bacoca dos deputados que
estavam presentes. Estes senhores esquecem-se
que ocupam os lugares com os votos dos cidadãos (muitas vezes uma minoria de
cidadãos votantes) e que foram eleitos para os servirem e não para se servirem
deles. Depreendo, pelo que vou lendo, na maioria, textos escritos pelo punho do
próprio Luís, que se trata de um colega com uma cultura muito acima da média e
com um conhecimento bastante sólido de legislação, quer pela natureza do cargo
que ocupa, quer pela formação em administração escolar quer pelo curso de
Direito que também chegou a frequentar, mas que não concluiu. Não que o seu
currículo possa interessar para o efeito, mas também não se pode esquecer que é
um elemento de uma direção a desencadear ativamente várias formas de luta. O
Sottomaior Braga tem contribuído com ideias e tem espoletado várias formas de
luta e não é de agora. Quem acompanha o movimento dos professores e as razões
do seu descontentamento há muito lê ou ouve o colega. Foi um dos
intervenientes, juntamente com o Paulo Guinote, num debate televisivo sobre a
escola pública e que teve como convidada a Maria de Lurdes Rodrigues, que teve
a desfaçatez de dizer que não sabia como se tinha chegado até aqui, no que
concerne a falta de professores. Há muito que se pode acompanhar o Sottomaior
Braga através do facebook. Certo é
que nunca o vi desistir da luta começada ou deixar de lutar. Essa determinação
e essa coerência têm de lhes ser concedidas. A partir deste momento, creio que
o colega pode ficar de consciência tranquila quanto à sua participação no
movimento pela dignificação da carreira docente.
Ao longo da semana, o Luís foi sendo
noticiado. Obteve alguma visibilidade, mas a luta da classe começa a
desinteressar à Comunicação Social. O objetivo, dito pelo próprio, não é tanto
a visibilidade nos media, mas
espoletar uma ação política do senhor Presidente da República, apelando ao veto
do diploma dos concursos, que não obteve qualquer acordo com nenhuma das
organizações sindicais. Este gesto seria significativo, mas até ao momento, o
senhor Presidente da República não teve tempo de dirigir umas palavras ao
professor em greve de fome. Ele, que comenta tudo sobre todos, que está sempre
disposto a tirar umas fotos com o populacho, porém, neste caso concreto, faz-se
de cego, de surdo e de mudo, porque na falta de argumentos para justificar o
que o Governo faz aos seus professores, vale mais o silêncio. Alguém tem de ser
sacrificado em nome da estabilidade. Portanto, ficamos com a sensação de que
esta maioria incompetente pode fazer o que bem entender, que não há escândalo
capaz de fazer com que o senhor Presidente dissolva a Assembleia. Podemos
desperdiçar milhões em indemnizações, podemos fechar os olhos a nomeações de
familiares, às mentiras, perdão, à falta de memória de um governante que não se
lembrava de ter sido informado sobre o que quer que fosse relativamente à
senhora Reis, enfim, podemos relevar quase tudo, exceto a possibilidade de
eleições antecipadas. Este Governo está a merecer há muito um enorme puxão de
orelhas e de ser travado em relação a algumas opções políticas. Compete ao
Presidente da República esse papel. Se entende não o dever fazer, entendo eu
tal comportamento como cumplicidade e acordo com a ação governativa.
Os
professores pedem o veto do diploma, senhor Presidente. Estão de olhos postos
em si. O professor em greve de fome fê-la com esse propósito: sensibilizar para
o problema e desencadear uma ação política, mas palavras não chegam, professor
Marcelo. Precisamos de ações concretas. Mostre com ações que a razão está do
lado dos professores, como já declarou. Sem tergiversar, sem meias-verdades e
com toda a consciência. Uma palavra dirigida ao colega corajoso também não lhe
ficaria mal.
Nina M.
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