Greves e manifestações
Esta semana, a luta dos professores
prosseguiu entre greves distritais, greves ao primeiro tempo, plenários
sindicais e reuniões entre as várias organizações sindicais e o Governo.
A minha escola promoveu um plenário
sindical para pessoal docente e não docente de todo o concelho de Lousada. A adesão
foi forte e o evento teve cobertura mediática. Fui uma das entrevistadas, pelo
que a primeira coisa que os meus filhos me disseram quando entrei em casa, foi:
“ó mãe, tu apareceste na televisão!” Como se fosse um feito de outro mundo ou
fosse revestido de uma importância extraordinária… Pensei com os meus botões
que esta juventude vive para o mediatismo. Respondi: “A sério? Eu falei com uns
jornalistas, efetivamente…”
O
mais velho lá resmungou que na escola dele ninguém fazia nada… Até parece que
os professores não querem defender os seus direitos. Eu bem sei o que ele
queria, mas finjo acreditar no seu ativismo e espírito crítico e aproveito para
dar uma aula de cidadania e do dever que cada um tem de mostrar a sua
indignação, sempre de forma democrática e ordeira, de cada vez que se sente
injustiçado. Foram estas as reações mais importantes do dia. Bem desejei que
fossem outras, mas o senhor ministro não ajuda.
Creio
que respondi por três vezes à mesma questão: se estava disposta a continuar a
luta. Respondi afirmativamente, mas esclareci também que os professores querem
ser parte da solução e não do problema. Para isso, é necessário que o senhor
João Costa saia da surdez e da cegueira em que se enclausurou e passe a ouvir
os professores. Porém, depois da reunião, percebeu-se por que razão não houve
acordo. Efetivamente, o Ministério não ofereceu nada!
Quero
chegar ao máximo de pessoas que conseguir, jornalistas, inclusivamente, para
lhes dizer claramente que o senhor ministro, de forma cínica e com uma retórica
falaciosa, atribuiu ao seu discurso uma nova roupagem para oferecer o que já
tínhamos! A novidade que nos apresenta não só não nos resolve qualquer
problema, como ainda nos é prejudicial. Isto que fique bem claro para a opinião
pública. Analisemos os presentes envenenados do Ministério: em primeiro lugar,
os inúmeros lugares que promete aos contratados, é só para os que este ano
letivo conseguiram um horário completo, o que representa, uma vez mais uma
medida atabalhoada e capaz de gerar injustiças. Pode haver professores com mais
tempo de serviço que tiveram o azar de este ano não terem conseguido um horário
completo, pelo que não entram em quadro. Depois, essas vagas serão
maioritariamente em Lisboa e no Algarve e os professores que para aí forem
quase terão de pagar para trabalhar, porque o preço da habitação é um absurdo
incomportável. Ninguém falou de um apoio pecuniário para quem estiver nessas
condições… Quanto aos professores de Quadro de Zona Pedagógica (QZP), acontece
que estes foram reduzidos, mas os professores são obrigados a concorrer a seis
deles, o que, contas feitas, a área abrangida é similar à que temos de momento.
Cada QZP dista entre extremidades cinquenta quilómetros, mas ninguém garante
que se fique naquele que é do seu interesse, para além de ser obrigado a
circular por mais de um agrupamento, em caso de ter horário incompleto. Agora,
nem os professores de Quadro de Escola ou de Agrupamento (lugar a exterminar,
para que o conceito de mobilidade seja pleno) podem sossegar, porque ter dez
horas letivas ou menos, implica também lecionar noutra escola desse quadro,
consoante a vontade e necessidade das escolas e dos senhores diretores…
Portanto, nada melhorou. Para os que consideram que os professores que têm
horário incompleto têm mesmo de acumular ou estariam a ganhar o mesmo
trabalhando menos, lembro que há uma série de serviços úteis e necessários que
esses professores podem fazer na sua escola, a começar pelas aulas de apoio e a
terminar na coordenação de projetos, por exemplo. Os responsáveis sugerem isto,
sem subsídio de gasóleo ou deslocação, como se os docentes fossem obrigados a
ter veículo próprio ou a conduzir. Se estas intenções não forem travadas, aviso
desde já que chamo um “uber”, para ser mais barato, e apresento a conta na
secretaria. Veríamos se o Ministério sairia a ganhar, se todos o fizéssemos. O
meu veículo não tem que ser posto à disposição da tutela. Quanto à recuperação
de tempo de serviço, mesmo que de forma faseada, nem uma palavra! E as quotas,
as percentagens faladas correspondem ao que já existia… Os outros problemas…
Esses nem foram abordados: a falta de condições, a indisciplina, a burocracia,
a avaliação dos docentes e diretores, a aniquilação de programas, entre outros…
O senhor ministro teve o desplante de ir para uma reunião sindical e apresentar
uma mão cheia de nada, como um jogador de póquer que faz bluff. Acontece que o discurso pode iludir a opinião pública, mas
não os professores!
Deixo
ainda algumas notas para os senhores comentadores que ou partilham do ideário
do governo ou não fazem os trabalhos de casa… Nenhum professor ganha mais de
dois mil euros. Nem mesmo o raro que está no décimo escalão! Esses dois mil e
tal euros que se podem ver nos recibos de vencimentos são ilíquidos. Significa
que quando se aplicam os impostos (e aplicam-se sem misericórdia nem fugas), na
maioria dos casos ficam entre os mil e trezentos e os mil e quinhentos euros,
dependendo do índice em que o professor se encontre. Há quem chegue aos mil e
setecentos, porventura. Lembremos que estamos a falar de pessoas com cursos
superiores, mão de obra qualificada, muitos deles com pós-graduações, mestrados
e até doutoramentos. Aos que dizem que os professores não precisam de ganhar
mais, mas antes que o Governo baixe impostos, respondo que os professores não
andam a pedir aumento de salários, apenas que deixem progredir sem os tampões
das quotas aqueles que passam por uma avaliação interna feita pelo seu
coordenador e por um avaliador externo, seu par, mas vindo de outra escola e
que assiste a quatro aulas e analisa toda a planificação e a competência
pedagógica e científica do avaliado. Há professores que têm excelente, mas não
podem progredir por falta de quota. A nota faz bem ao ego, mas não paga contas!
É esta injustiça a que os professores estão sujeitos! Quanto ao argumento de
que as quotas existem em todas as carreiras, digo o seguinte: todas as
carreiras viram o seu tempo de serviço reposto, exceto os professores
continentais, porque os dos Açores e da Madeira não sabem o que é este suplício
e esta agrura (e bem); a carreira docente tem a sua especificidade e não pode
ser comparável a nenhuma outra. Um médico chefe de serviço tem outras
responsabilidades e funções e é remunerado por isso. Os professores fazem todos
o mesmo, desde o contratado ao que tem mais tempo de serviço. Se, por norma, os
mais velhos são Coordenadores de Departamento, quase todos os outros são
diretores de turma (cargo muito trabalhoso e que a maioria não deseja). A
benesse são as horas de redução (ou duas ou quatro, passadas na escola, a trabalhar
para o cargo atribuído) e que, dependendo da altura, não chegam para o trabalho
que se faz. A propósito de dislates que são proferidos e chego a pensar que por
má-fé, um professor não ganha e nunca ganhou mais que um médico. Já agora, um
médico colocado em Bragança, tem direito a subsídio devido à interioridade (e
bem), um deputado em Lisboa e um magistrado têm direito a ajudas de custo, o
professor formou-os a todos, mas é o parente pobre obrigado a ir, a pagar o seu
alojamento, a sua deslocação, com menor salário e sem qualquer ajuda pecuniária!
Essa
ignorância, para além de atrevida é insidiosa, porque se já não há jovens que
queiram abraçar a profissão, com esta desvalorização e falta de respeito,
dentro de pouco tempo, não haverá professores devidamente qualificados e
lançaremos mãos ao que houver disponível, depauperando a educação, o ensino
público e hipotecando o futuro do país, já que o seu desenvolvimento depende da
educação dos seus cidadãos.
Por
fim, que fique esclarecido que esta cegueira em que o Governo se encontra não se
deve à falta de dinheiro. Há muito que poderiam e deveriam ter resolvido este problema,
porque quem desbarata milhões em negócios ruinosos e que lesam a economia do país,
tem dinheiro para resolver o problema dos professores em particular e da função
pública, em geral, que é pessimamente paga. Trata-se, portanto, de uma opção política
que não deverá ser esquecida pelos professores. Uma palavra para os assistentes
operacionais, que trabalham uma vida inteira a troco de um salário mínimo, quase
sem progressões, independentemente da sua competência, igualmente sujeitos a quotas.
Sem eles, também não há escola.
Maltratar
os professores é maltratar o país. Só a gente sem visão estratégica e com falta
de inteligência não o consegue compreender. Eis os motivos pelos quais os
professores não se podem calar! Eis os motivos pelos quais a luta tem de
continuar!
Os
professores a lutar também estão a ensinar! Veja se aprende a lição, senhor
ministro, ou teremos de repeti-la tantas vezes quantas as necessárias,
diversificando as estratégias. Assim nos ensinou a pedagogia! Para alguma coisa
há de ter servido…
Nina
M.
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