Bibota, o gigante!
Cinco campeonatos, três taças, uma
taça de campeão europeu, uma supertaça europeia, uma taça intercontinental. São
estes os triunfos coletivos com a camisola do Futebol Clube do Porto envergada
e o eterno número nove estampado. Seis vezes o melhor marcador do campeonato,
duas botas de ouro, 451 jogos e 355 golos. É este o palmarés desportivo do
gigante que, hoje, deixou a família portista destroçada.
A crónica de hoje não poderia ser
outra. Teria de ser dedicada ao meu único ídolo dos tempos de criança: Fernando
Gomes. Já anteriormente, eu escrevi sobre o bibota e não quero repetir-me. Nunca
conheci o capitão, número nove. Nunca tive oportunidade de lhe dirigir a
palavra e, no entanto, a sua partida significa deixar um lugar vazio no coração
que só ele poderia ocupar. Escrever sobre o bibota é recuar no tempo e recordar
a idade da inocência e a pureza. É lembrar dos penáltis marcados no sofá que
servia de baliza e dos gritos de golo, como se estivessem a ser relatados, com
o nome Fernando Gomes no final. É lembrar que não admitia que alguém se
atrevesse a criticar o meu ídolo e que nem mesmo quando surgiram outros com
fogo nos pés e que fizeram história no clube, como Rabah Madjer e Paulo Futre conseguiram
destroná-lo no meu apreço. Escrever sobre o Gomes é recuar a 1987 e à final de
Viena, na qual não pôde jogar por lesão e à qual assistiu pela televisão com
Lima Pereira, também lesionado. A sua equipa ganhou-a por ele, com a assinatura
do calcanhar de Madjer e de Juary, a arma secreta. É lembrar do despertador
para as quatro da manhã para ver o jogo da taça intercontinental. Essa, o Gomes
não falhou e marcou um dos golos; o outro foi do Madjer. Escrever sobre o Gomes
é voltar à magia pueril onde os heróis são perfeitos. De maneira que depois do
Gomes não voltei a ter qualquer ídolo. Nem mesmo na adolescência, em que os
atores, jogadores ou cantores da moda faziam as delícias das meninas. Nada.
Houve outros jogadores do FCP que me granjearam e granjeiam a admiração, mas
nenhum deles foi capaz de ocupar o lugar do capitão, número nove.
Lembro-me de contar isto a um colega
portista. Lecionava em Chaves e ele, a certa altura, lá deixou escapar que era
vizinho ou conhecia o bibota, já não me lembro bem… Sei que nunca mais esqueci
a sua frase quando, em tom muito sério, deixa cair que o futebol é irracional,
porque se fosse racional, só haveria portistas… Ri-me muito com a tirada. Olhei-o
e disse-lhe que o Gomes era o meu ídolo de infância. Eu gostava tanto dele! E
lá levou com a história dos penáltis e de eu encarnar o Gomes e os meus irmãos
que nem tentassem ficar com o nome do capitão! Já se riam e já sabiam que o
nove era meu! Garantiu que quando se cruzasse com ele lhe contaria, porque ele
ficava feliz com estas histórias. Não cheguei a saber se o fez, mas, neste
momento, e apesar de não mudar nada, espero que tenha tido a oportunidade de
lho dizer.
Não
sou de ídolos, mesmo agora. Não idolatro ninguém, porque com a queda do anjo em
nós percebemos os pés de barro dos humanos. Há gente que admiro muito e com
reverência, mas a paixão esgotou-se com o capitão. Mesmo quando saiu para o
Sporting, onde jogou as suas duas últimas épocas, e me deixou de coração
partido, gostava que o Gomes brilhasse, apesar de querer as vitórias do FCP. O
lugar ídolo é seu por direito. Sempre foi.
Hoje,
quando me deparei com a triste notícia, os meus olhos embaciaram, rasos de
água. O nosso capitão não venceu a luta final contra a doença que o consumia.
Parte a matéria, fica a memória e o legado. Para sempre eternizado no museu do
clube e no coração dos portistas, em especial daqueles que com ele cresceram.
Gostaria que o número nove não voltasse a ser usado no FCP, após o término da época,
em sinal de respeito pela memória do maior goleador da história do clube.
Para
mim, será sempre o meu único ídolo. Agradeço-lhe todas as alegrias, todos os
golos de dragão ao peito, toda a dedicação ao seu clube.
Descansa
em paz, eterno bibota. Um senhor! Dentro e fora de campo.
Nina
M.
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