Notas soltas
Hoje, a rubrica completa mais uma
volta ao número cem. Trezentas crónicas semanais escritas ao longo do tempo nem
é pouco nem é muito, é alguma coisita. A deste fim de semana será uma coisa um
pouco descosida e uma mixórdia de assuntos que suscitam o meu interesse.
A primeira nota e a mais preocupante
vai para o cenário político português. Semana em que o Carlos Costa,
ex-governador do Banco de Portugal, decide abrir a boca e deixar a descoberto
as influências de outro Costa em assuntos que não são da sua competência.
Refiro-me, naturalmente, ao irascível telefonema feito em defesa preocupada da
Isabel dos Santos, uma das herdeiras do José Eduardo dos Santos, ex-presidente
de Angola e que entretanto se refugiou num dos países das Arábias para
aproveitar bem o sol que, apesar da injustiça, invariavelmente, brilha mais
para uns do que para outros. A isto, o senhor Costa, o primeiro-ministro,
responde que não passam de jogos da oposição, que não perdoa a maioria absoluta
atribuída ao seu partido. Quem não perdoa a maioria absoluta sou eu e não sei
como os portugueses ainda não aprenderam a não entregar de bandeja o ato
governativo exclusivamente a um partido, seja ele qual for! Após a tomada de
posse é esperar um bocadinho e observar os tiques autoritários que começam a
surgir. A par deste enredo vergonhoso, que terminará na palavra de Costa contra
Costa, a lembrar o Kramer contra Kramer, temos o episódio de outro douto! O
senhor Miguel Alves, ex-presidente da Câmara de Caminha e ex-secretário de
Estado adjunto, talvez merecesse o epíteto de o Mago, uma vez que revelou a
capacidade de fazer desaparecer a avultada quantia de 300 mil euros, que terá
distribuído benevolamente a um duvidoso promotor imobiliário. Evidentemente, a
oposição que não perdoa a maioria também não perdoou este episódio… E assim vamos,
nesta mansa e pacata República, à beira-mar plantada, eternamente à espera de
ver os que nos governam a zelar pelo bem comum ao invés de forrar os próprios
bolsos, aumentando a sua pança, indiferentes à diabetes e ao colesterol.
A segunda nota, ainda na senda
política, vai para o nosso Presidente da República que nos aconselha a esquecer
a violação do Direitos Humanos enquanto durar o Mundial. Enquanto a bola rolar,
quem quererá saber dos trabalhadores-escravos mortos (em número avassalador) ou
das mulheres massacradas e privadas da sua liberdade ou dos imigrantes mortos
do Qatar… Nada disso importa! A comprová-lo estão as palavras de Gianni
Infantino, que mostra sentir-se confuso. Decidiu fazer como Pessoa e,
subitamente, faz um exercício de despersonalização e sente-se qatari, imigrante
naquele país, africano e até mulher! De seguida, acusa a Europa de hipocrisia.
Tem razão, esta não falta ao velho continente e ele parece ter aprendido bem a
lição.
O
Mundial não deveria ser realizado naquele país. Nada mais há a acrescentar.
Tudo o resto é tapar o sol com a peneira, a favor de uma decisão inqualificável,
mas para quê perder o nosso tempo com alguns milhares de vidas perdidas e
outras subjugadas? O que interessa é a redondinha. Sempre há gente muito inconveniente!
Estes ativistas da paz e da justiça não têm nem sentido de oportunidade nem o
que fazer! Sempre dispostos a arranjarem polémicas. Não se aguenta!
A terceira
nota e a mais otimista, para fechar a terceira volta ao número cem como deve
ser, vai para o programa “Viagem a Portugal”, inspirado no livro do nosso Nobel
e que o brasileiro Fábio Porchat apresenta, na RTP1. Agrada-me viajar por Portugal
na companhia de tão venerável companhia e ver o engraçado Porchat a refazer os passos
do ilustre escritor, acompanhando-os com pequenos excertos da obra. De caminho, ainda
fiquei a saber do Geraldes, um jogador da bola que rompe estereótipos, porque não
só lê bastante como ainda escreve poesia. Dei comigo a pensar que com esse sempre
seria possível uma conversa fora dos lugares-comuns do mundo futebolístico, pelo
que nem tudo está perdido…
Nina
M.
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