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sábado, 19 de novembro de 2022

Crónica de Maus Costumes 300

 

Notas soltas

                Hoje, a rubrica completa mais uma volta ao número cem. Trezentas crónicas semanais escritas ao longo do tempo nem é pouco nem é muito, é alguma coisita. A deste fim de semana será uma coisa um pouco descosida e uma mixórdia de assuntos que suscitam o meu interesse.

            A primeira nota e a mais preocupante vai para o cenário político português. Semana em que o Carlos Costa, ex-governador do Banco de Portugal, decide abrir a boca e deixar a descoberto as influências de outro Costa em assuntos que não são da sua competência. Refiro-me, naturalmente, ao irascível telefonema feito em defesa preocupada da Isabel dos Santos, uma das herdeiras do José Eduardo dos Santos, ex-presidente de Angola e que entretanto se refugiou num dos países das Arábias para aproveitar bem o sol que, apesar da injustiça, invariavelmente, brilha mais para uns do que para outros. A isto, o senhor Costa, o primeiro-ministro, responde que não passam de jogos da oposição, que não perdoa a maioria absoluta atribuída ao seu partido. Quem não perdoa a maioria absoluta sou eu e não sei como os portugueses ainda não aprenderam a não entregar de bandeja o ato governativo exclusivamente a um partido, seja ele qual for! Após a tomada de posse é esperar um bocadinho e observar os tiques autoritários que começam a surgir. A par deste enredo vergonhoso, que terminará na palavra de Costa contra Costa, a lembrar o Kramer contra Kramer, temos o episódio de outro douto! O senhor Miguel Alves, ex-presidente da Câmara de Caminha e ex-secretário de Estado adjunto, talvez merecesse o epíteto de o Mago, uma vez que revelou a capacidade de fazer desaparecer a avultada quantia de 300 mil euros, que terá distribuído benevolamente a um duvidoso promotor imobiliário. Evidentemente, a oposição que não perdoa a maioria também não perdoou este episódio… E assim vamos, nesta mansa e pacata República, à beira-mar plantada, eternamente à espera de ver os que nos governam a zelar pelo bem comum ao invés de forrar os próprios bolsos, aumentando a sua pança, indiferentes à diabetes e ao colesterol.

            A segunda nota, ainda na senda política, vai para o nosso Presidente da República que nos aconselha a esquecer a violação do Direitos Humanos enquanto durar o Mundial. Enquanto a bola rolar, quem quererá saber dos trabalhadores-escravos mortos (em número avassalador) ou das mulheres massacradas e privadas da sua liberdade ou dos imigrantes mortos do Qatar… Nada disso importa! A comprová-lo estão as palavras de Gianni Infantino, que mostra sentir-se confuso. Decidiu fazer como Pessoa e, subitamente, faz um exercício de despersonalização e sente-se qatari, imigrante naquele país, africano e até mulher! De seguida, acusa a Europa de hipocrisia. Tem razão, esta não falta ao velho continente e ele parece ter aprendido bem a lição.

O Mundial não deveria ser realizado naquele país. Nada mais há a acrescentar. Tudo o resto é tapar o sol com a peneira, a favor de uma decisão inqualificável, mas para quê perder o nosso tempo com alguns milhares de vidas perdidas e outras subjugadas? O que interessa é a redondinha. Sempre há gente muito inconveniente! Estes ativistas da paz e da justiça não têm nem sentido de oportunidade nem o que fazer! Sempre dispostos a arranjarem polémicas. Não se aguenta!

A terceira nota e a mais otimista, para fechar a terceira volta ao número cem como deve ser, vai para o programa “Viagem a Portugal”, inspirado no livro do nosso Nobel e que o brasileiro Fábio Porchat apresenta, na RTP1. Agrada-me viajar por Portugal na companhia de tão venerável companhia e ver o engraçado Porchat a refazer os passos do ilustre escritor, acompanhando-os com pequenos excertos da obra. De caminho, ainda fiquei a saber do Geraldes, um jogador da bola que rompe estereótipos, porque não só lê bastante como ainda escreve poesia. Dei comigo a pensar que com esse sempre seria possível uma conversa fora dos lugares-comuns do mundo futebolístico, pelo que nem tudo está perdido…

 

Nina M.

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