Panorama Político
Atualmente, olhar para o painel dos políticos que se gladiam na arena
televisiva para tentarem conquistar o nosso voto é um desconsolo. Mil vezes a “Quadratura
do Círculo” ou “Circulatura do Quadrado”, como se designa agora, por imperativo
de mudança de canal. O programa conta com a presença assídua do Pacheco
Pereira, do Lobo Xavier e perdeu com a morte repentina do Jorge Coelho. A bem
da paridade, o seu lugar foi ocupado pela Ana Catarina Mendes, mas devo
confessar que não gosto tanto desta última.
Parecem-me
mais carismáticos estes senhores, que já tiveram responsabilidades políticas
noutros tempos, do que qualquer outro candidato atual. São comentadores
políticos, mas prestam melhor serviço por discutirem ideias com civismo e educação,
sem ruído, do que muitos do que estão sentados na Assembleia. Na minha opinião,
a senhora Ana Catarina Mendes ainda evidencia uma ligação umbilical forte ao
partido, que inviabiliza maior arrojo na discordância, se for caso disso.
Evidentemente, cada um deles tem a sua preferência partidária (todos as
conhecemos), mas têm também a liberdade para do partido discordar, sem seguir
uma cartilha. Depois, são homens absolutamente cultos. Oradores exímios e seres
pensantes. Gosto particularmente de Pacheco Pereira, que foi uma espécie de
“enfant terrible” dentro do seu partido, por não se deixar coartar na sua
liberdade. São homens que conhecem a História e a Literatura e que, nessa justa
medida, me cativam. Não se veem mais homens ou mulheres carismáticos: um
Adriano Moreira, um Freitas do Amaral, um Mário Soares ou um Álvaro Cunhal ou
Manuel Tiago (se preferirem o pseudónimo literário, que ainda não li), de cuja
ideologia me afasto, mas a quem reconheço a coerência e que não deixa de causar
admiração… Faz-nos falta um General Ramalho Eanes de ar sisudo, mas convincente
e é doloroso ter-se perdido uma Natália Correia, uma mulher enorme, uma
açoriana cheia de cor, de exuberância e de poesia, num Portugal cinzento e
triste. Alegrava a capital e promovia a cultura no seu “Botequim da Liberdade”…
Ó escândalo! Houve depois uma Sophia, sempre discreta, uma senhora clássica, o
oposto de Natália (dizem as más línguas que não se estimavam… Coisas entre duas
musas da poesia…) mas nitidamente deslocada no hemiciclo, longe do lugar que
lhe era mais natural: a sua poesia.
O último D. sebastião terá sido Francisco de Sá-Carneiro, a
quem a morte, supostamente acidental, elevou a mito. O homem sobre quem
depositaram todas as esperanças, num Portugal recém-democrático. Eu tinha cinco
anos aquando a morte de Sá-Carneiro e lembro-me perfeitamente da consternação
dos meus pais ao ouvirem a notícia da sua morte, na pequena televisão a preto e
branco. Eu estava no cimo das escadas, dependurada na grade, junto à marquise
(que, pelos vistos terá sido mandada fazer para sossego da avó, que se via
aflita com a menina da casa, que corria desenfreada e poderia cair da varanda
abaixo) e perguntava se tinha morrido o senhor Carneiro, aquele a quem eu já
dera um beijo, no aperto opressivo de uma multidão, ao colo de uma das minhas
primas, já moça casadoira. Os políticos, naquele tempo, moviam multidões…
Lembro-me, mais tarde, das eleições para as presidenciais entre o Freitas do
Amaral e o Mário Soares. Houve segunda volta e Mário Soares venceu. Tinha,
nessa altura onze anos. O país inteiro estava mobilizado e até nós, miúdos, sem
nada perceber e sem argumentação sólida e de qualidade, discutíamos política.
Porém, o país tinha saído de uma ditadura e a liberdade era valorizada. Não sei
por que motivo tenho estas memórias tão presentes, apesar da tenra idade… Tenho
a certeza de que não serei a única. Ainda no outro dia lia uma entrevista ao
deputado europeu socialista, Sérgio Sousa Pinto, por quem nutro simpatia, que
dizia o mesmo… Cresceu a ouvir falar de política. No caso dele, cresceu no
epicentro político. Como não apreciar alguém que escolhe como heróis Churchill,
Orwell, Mário Soares e Vasco Pulido Valente?! O último nome causa-me um sorriso,
pela distância ideológica que os separa! A simpatia não era a melhor qualidade do
filósofo que se doutorou em História.
Para além disso, há duas ou três perguntas fundamentais que
ficaram por fazer aos candidatos nas entrevistas televisivas: O que andam a ler
no momento? Que livros e autores destacariam como essenciais? Quem são os seus
heróis?
A resposta a estas perguntas ajudar-me-iam a tomar uma
decisão. Temo que o Diabo as pudesse tecer e ouvir como resposta que a leitura do
momento seria o programa político do partido ou um livro de autoajuda, do género:
“Saiba como tornar-se um líder carismático”! Valha-me Deus… Ou o Diabo!
Nina M.
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