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domingo, 18 de novembro de 2018

Crónica de maus Costumes 107


O amor acabou. E depois?

O que fica depois do que já foi um grande amor? Bem, provavelmente, nunca chegou a ser um grande amor, embora o parecesse, caso contrário, não acabaria. Há amores de anos e de uma vida que, na realidade, nunca foram grandes. Foram resilientes e acomodados, grandes talvez nem por isso.
O amor absoluto e que cumpre é uma pérola muito difícil de encontrar, de preservar e de fazer crescer. A dialética amor-paixão/corpo-espírito tem de funcionar de forma oleada e perfeita, sem taxa de esforço. É um amor que cumpre, porquanto os pares crescem e evoluem juntos. O amor não estagna e procura o devir. Há uma identidade comum, uma partilha de ser igualitário que se procura e se quer. É um amor construído, refletido, pensado e racionalizado, mas que tem, em simultâneo, a força da paixão. Sem estas fundações bem sólidas, o sentimento construído sobre areias movediças pode desmoronar. Pena que muitas vezes não se saiba interpretar os sinais atempadamente para evitar a dor. 
Sempre que o amor acaba, mesmo que seja um amor assim-assim, com o fim vem a dor, porém, se nos descentrarmos dela, seremos capazes de vislumbrar uma nova oportunidade, já que se acabou é porque não era para ser.
Quanto mais se resiste e se recusa aceitar a ideia de que, por vezes, sem grandes motivos, o amor vai-se desvanecendo, porque a nossa identidade não é perfeita para o outro, mais se adia a cura de um amor perdido ou não correspondido. Não significa que se é pior do que alguém, apenas que o nosso ser se desencontrou com o ser do outro, almejando um trajeto diferenciado. Mesmo contra a nossa vontade. Como diz o ditado: “Quando um não quer dois não brigam!”
Fundamentalmente, o amor não é posse. Não se possui pessoas. Amar é saber viver sem o outro, mas escolher tê-lo na sua vida. É saber respeitar a decisão alheia, por muito que nos desagrade. É a democracia e a liberdade plena. De que adianta ter alguém presente se há muito a sua alma se foi? Significa que se tem apenas uma parte, o amor possível dos que cederam ao sarcasmo da vida…
É possível sobreviver à perda. Todos os dias alguém passa pelo processo. Não é fácil, mas o que não nos mata fortalece-nos. A resiliência aprende-se com a dor e as dificuldades. O tempo faz os seus milagres, desde que o queiramos ajudar. Por vezes, o que se julga dor da perda é na realidade orgulho ferido, autoestima destruída por se achar não se foi suficientemente bom para alguém, ou seja, o sabor acre do fracasso e do insucesso que não se consegue controlar. É uma sensação horrível, mas passa. Tudo passa.
Saibamos preservar a autoestima e a altivez que quer um ser elevado, acima da mesquinhez da autocomiseração. Todos temos direito a ela, por breves instantes, para reunir força. Depois, resta-nos levantar, sacudir a poeira e seguir em frente. A escolha, com algumas limitações, é sempre nossa.
Nina M.


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