O amor acabou. E depois?
O
que fica depois do que já foi um grande amor? Bem, provavelmente, nunca chegou
a ser um grande amor, embora o parecesse, caso contrário, não acabaria. Há
amores de anos e de uma vida que, na realidade, nunca foram grandes. Foram resilientes
e acomodados, grandes talvez nem por isso.
O
amor absoluto e que cumpre é uma pérola muito difícil de encontrar, de
preservar e de fazer crescer. A dialética amor-paixão/corpo-espírito tem de
funcionar de forma oleada e perfeita, sem taxa de esforço. É um amor que
cumpre, porquanto os pares crescem e evoluem juntos. O amor não estagna e
procura o devir. Há uma identidade comum, uma partilha de ser igualitário que
se procura e se quer. É um amor construído, refletido, pensado e racionalizado,
mas que tem, em simultâneo, a força da paixão. Sem estas fundações bem sólidas,
o sentimento construído sobre areias movediças pode desmoronar. Pena que muitas
vezes não se saiba interpretar os sinais atempadamente para evitar a dor.
Sempre
que o amor acaba, mesmo que seja um amor assim-assim, com o fim vem a dor,
porém, se nos descentrarmos dela, seremos capazes de vislumbrar uma nova
oportunidade, já que se acabou é porque não era para ser.
Quanto
mais se resiste e se recusa aceitar a ideia de que, por vezes, sem grandes
motivos, o amor vai-se desvanecendo, porque a nossa identidade não é perfeita
para o outro, mais se adia a cura de um amor perdido ou não correspondido. Não
significa que se é pior do que alguém, apenas que o nosso ser se desencontrou
com o ser do outro, almejando um trajeto diferenciado. Mesmo contra a nossa
vontade. Como diz o ditado: “Quando um não quer dois não brigam!”
Fundamentalmente,
o amor não é posse. Não se possui pessoas. Amar é saber viver sem o outro, mas
escolher tê-lo na sua vida. É saber respeitar a decisão alheia, por muito que
nos desagrade. É a democracia e a liberdade plena. De que adianta ter alguém
presente se há muito a sua alma se foi? Significa que se tem apenas uma parte,
o amor possível dos que cederam ao sarcasmo da vida…
É
possível sobreviver à perda. Todos os dias alguém passa pelo processo. Não é
fácil, mas o que não nos mata fortalece-nos. A resiliência aprende-se com a dor
e as dificuldades. O tempo faz os seus milagres, desde que o queiramos ajudar.
Por vezes, o que se julga dor da perda é na realidade orgulho ferido,
autoestima destruída por se achar não se foi suficientemente bom para alguém,
ou seja, o sabor acre do fracasso e do insucesso que não se consegue controlar.
É uma sensação horrível, mas passa. Tudo passa.
Saibamos
preservar a autoestima e a altivez que quer um ser elevado, acima da mesquinhez
da autocomiseração. Todos temos direito a ela, por breves instantes, para
reunir força. Depois, resta-nos levantar, sacudir a poeira e seguir em frente.
A escolha, com algumas limitações, é sempre nossa.
Nina
M.
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