Resiliência
Pedem-me
coisas e hoje deixarei alguém satisfeito (assim espero). Questionada sobre o
tema da crónica desta semana e sobre o qual não tinha ainda pensado,
sugeriram-me resiliência e amor… Outra vez! “Gosto quando falas de amor!”
Veremos se embrulho os dois e se vislumbro
algo que valha a pena.
No
dicionário, para além da definição aborrecidíssima de material resistente ao
choque, conceito interessante para um físico, químico ou alguém da área da mecânica,
não para mim, portanto, prefiro a metáfora que esse conceito encerra e que
aparece como sentido figurado: “capacidade de defesa e de recuperação de uma
pessoa perante fatores adversos. “
Conceito
indispensável para nos conduzirmos por dentro da vida com sabedoria. Não
implica que se excluam as dificuldades, mas implica saber contorná-las e
ultrapassá-las. Bem diferente do conceito de resistência, que consiste no “ato
ou efeito de resistir; recusa de submissão, oposição, ou a definição física,
força com que um corpo reage contra a ação de outro”.
Significa
que ao longo da vida deveremos ser mais resilientes do que resistentes. A
resiliência está para a inteligência quanto a resistência para a força e as
mais duras batalhas são sempre vencidas mais pela sapiência do que pela
bruteza. A resiliência é maleável, ajustável e adaptável, enquanto a resistência
é dura e rígida. São posturas opostas na resolução de um problema. No primeiro
caso, se não removo o obstáculo, serei capaz de o contornar, no segundo, embato
contra ele. Não o movo e nem o ultrapasso. É necessário exercício interior para
trabalhar a resiliência. A resistência é impetuosa e espontânea, mas a resiliência
é pensada e treinada. Nem tudo se resolve em absoluto, mas talvez tudo se possa
contornar ou mitigar.
A
resiliência também é necessária ao amor, porquanto é tolerante e paciente, mas
mesmo que este acabe, ela continua necessária para que a vida prossiga com menor dor. Às vezes, é preciso saber largar,
passar ao lado, contornar o que já foi, mas já não é, mais do que resistir e
aplicar a justa medida da força contra outra, é mais avisado abrir mão do que já
se perdeu e a má-fé ou nossa fraqueza moral não quer admitir. Nada se ganha,
mas tudo se desgasta. E se a ideia da dor é insuportável e difícil de gerir,
porque nos esventra e nos esvai a alma de um sorvo, repetidas vezes, dia após
dia, de cada vez que esse sorvedouro nos suga, leva consigo mais um pouco da mágoa
e neste rodopiar de um tempo que parece efémero e um sopro na felicidade, mas
um fardo pesado, cruel e lento na adversidade, a dor vai-se diluindo,
impercetivelmente, até que já não a sentimos nem a vemos. Batemos com o punho
no peito e este já não dói nem se oprime, a garganta já não se estreita e é fácil
e natural respirar… O obstáculo contra o qual se bateu diminuiu de tamanho e já
se consegue passar por cima, porque, subitamente, as nossas pernas cresceram. Desconfio
que foi só alma, porque uma alma engrandecida, ultrapassa muitas dificuldades.
Treinar
e almejar a resiliência, o mesmo será dizer, querer com alma a resiliência é o
segredo no amor e fora dele. Será o segredo do bem viver. Não é fácil, mas é
possível.
Nina
M.
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