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sábado, 10 de novembro de 2018

Crónica de Maus Costumes 106


Resiliência 

Pedem-me coisas e hoje deixarei alguém satisfeito (assim espero). Questionada sobre o tema da crónica desta semana e sobre o qual não tinha ainda pensado, sugeriram-me resiliência e amor… Outra vez! “Gosto quando falas de amor!”
 Veremos se embrulho os dois e se vislumbro algo que valha a pena.
No dicionário, para além da definição aborrecidíssima de material resistente ao choque, conceito interessante para um físico, químico ou alguém da área da mecânica, não para mim, portanto, prefiro a metáfora que esse conceito encerra e que aparece como sentido figurado: “capacidade de defesa e de recuperação de uma pessoa perante fatores adversos. “  
Conceito indispensável para nos conduzirmos por dentro da vida com sabedoria. Não implica que se excluam as dificuldades, mas implica saber contorná-las e ultrapassá-las. Bem diferente do conceito de resistência, que consiste no “ato ou efeito de resistir; recusa de submissão, oposição, ou a definição física, força com que um corpo reage contra a ação de outro”.
Significa que ao longo da vida deveremos ser mais resilientes do que resistentes. A resiliência está para a inteligência quanto a resistência para a força e as mais duras batalhas são sempre vencidas mais pela sapiência do que pela bruteza. A resiliência é maleável, ajustável e adaptável, enquanto a resistência é dura e rígida. São posturas opostas na resolução de um problema. No primeiro caso, se não removo o obstáculo, serei capaz de o contornar, no segundo, embato contra ele. Não o movo e nem o ultrapasso. É necessário exercício interior para trabalhar a resiliência. A resistência é impetuosa e espontânea, mas a resiliência é pensada e treinada. Nem tudo se resolve em absoluto, mas talvez tudo se possa contornar ou mitigar.
A resiliência também é necessária ao amor, porquanto é tolerante e paciente, mas mesmo que este acabe, ela continua necessária para que a vida prossiga com  menor dor. Às vezes, é preciso saber largar, passar ao lado, contornar o que já foi, mas já não é, mais do que resistir e aplicar a justa medida da força contra outra, é mais avisado abrir mão do que já se perdeu e a má-fé ou nossa fraqueza moral não quer admitir. Nada se ganha, mas tudo se desgasta. E se a ideia da dor é insuportável e difícil de gerir, porque nos esventra e nos esvai a alma de um sorvo, repetidas vezes, dia após dia, de cada vez que esse sorvedouro nos suga, leva consigo mais um pouco da mágoa e neste rodopiar de um tempo que parece efémero e um sopro na felicidade, mas um fardo pesado, cruel e lento na adversidade, a dor vai-se diluindo, impercetivelmente, até que já não a sentimos nem a vemos. Batemos com o punho no peito e este já não dói nem se oprime, a garganta já não se estreita e é fácil e natural respirar… O obstáculo contra o qual se bateu diminuiu de tamanho e já se consegue passar por cima, porque, subitamente, as nossas pernas cresceram. Desconfio que foi só alma, porque uma alma engrandecida, ultrapassa muitas dificuldades.
Treinar e almejar a resiliência, o mesmo será dizer, querer com alma a resiliência é o segredo no amor e fora dele. Será o segredo do bem viver. Não é fácil, mas é possível.
Nina M.

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