A dignidade não vestes fatos
O meu filho,
hoje, acusou-me de má-disposição e acusou Trump de ser o responsável pela reação
mais epidérmica da mãe, que vociferou vários impropérios perante a
inqualificável postura do norte-americano, no malfadado encontro que ficará nos
anais da História.
Tem razão. Aquele “trinaranjus”
tira-me do sério. Representa tudo o que mais desprezo. Doravante, não sei se
mais algum chefe de estado aceitará conversar com o presidente americano de
ânimo leve e sem fixar regras bem claras. Creio que não. Destacou-se do
encontro, o extremo narcisismo, má-educação e pulhice de Trump e de JD Vance.
Trump quis humilhar Zelensky, vê-lo de joelhos e forçá-lo a aceitar o acordo que
a ele lhe interessaria… Vê-lo a lamber-lhe as botas e a agradecer-lhe
humildemente, como sugeriu Vance a ajuda que os EUA lhe prestaram. O presidente
ucraniano já o fez, em inúmeras ocasiões, mas não é ao Trump a quem ele tem de
agradecer. Deve-o ao povo americano e ao seu antecessor, Joe Biden. Com a
encenação que montou, sobretudo para consumo interno, Trump, talvez, quisesse
mostrar ao seu eleitorado que Zelensky é um mal-agradecido e, como tal, pouco
digno do auxílio que o país lhe tem vindo a prestar. O amricano deseja entregar
a Ucrânia numa bandeja a Putin e, juntamente com este, esventrá-la,
despojando-a dos seus recursos naturais, do quais se querem ambos apropriar. Zelensky
não perdeu a compostura nem a dignidade, ao contrário de Donald, o pato…
Enquanto esta figura se amesquinhava e mirrava tal o asco que consegue gerar,
Zelensky, na sua dignidade, agigantava-se, porque a dignidade não veste fato
nem usa um boné vermelho quase tão ridículo quanto o seu portador. Se dúvidas
houvesse, neste encontro, ficaram dissipadas. O “trinaranjus” conhece apenas a
cor do dinheiro e faz política como quem faz um negócio, sem atender a qualquer
ética.
Chegou há pouco e já fartou o mundo
com as suas vilanias. Espero que a Europa tenha entendido que durante, pelo
menos, os próximos quatro anos, os EUA não são aliados de ninguém (exceto do
Putin, enquanto lhes der jeito). Quando muito, poderão ser parceiros
económicos, caso tenham interesse e que compete aos europeus traçar um caminho
de união, um caminho próprio, sem demasiadas dependências aos mais variados
níveis, incluindo a força bélica. Está na hora de a Europa olhar para si e para
os seus interesses e de arranjar novas parcerias que lhe permitam defender os
seus valores democráticos e a liberdade. Os EUA deixaram de ser esse baluarte e
de ter essa bandeira. Há que aproveitar o conhecimento europeu. Por que razão
não faz a UE a mineração na Ucrânia, ainda que seja necessário lançar a mão a
outras parcerias? Trump quer combater o poder económico da China, que se assume
como a verdadeira potência a seus olhos (a Rússia não lhe faz enjoo), mas estes
comportamentos obrigam a Europa a olhar para outros possíveis aliados e a China
não será de descartar, em termos de relações comerciais, para gerar os
rendimentos necessários à produção própria em muitos setores que a Europa deixou
adormecer.
Trump pretende e pensa taxar os produtos
europeus com uma tarifa de 25%, numa atitude protecionista da sua economia. Ora…
Resta à Europa responder na mesma moeda. Tudo quanto seja marca americana
exportada diretamente para cá, deverá ser igualmente taxada. O consumidor
perde, mas é a única linguagem que o sujeito conhece. Por mim, não tenho nada
da apple, não compro outro Ford nem escolho a Tesla, se tiver de mudar de carro,
e em vez de Nike posso bem passar a usar Adidas. Comportamentos destes
replicados pelos 449,2 milhões de pessoas que habitam na União Europeia, é
capaz de fazer mossa.
Obrigatoriamente, a Europa terá de
encontrar um novo caminho. Trump veio alterar a ordem mundial: não respeita tratados
nem acordos, faz da NATO, da ONU e de outros organismos o seu quintal privado,
com tiques de pedantismo. Alguns americanos elegeram um escarro presidente, que
sonha com o Nobel da Paz para inflar o seu ego (tão gigante quanto as antigas Torres
Gémeas) nem que o preço a pagar seja a capitulação de um povo barbaramente
invadido. Acusa Zelensky de enviar os seus soldados à morte e de causar a
destruição do seu país, mas não acusa o Putin do mesmo nem de usar carne norte-coreana
para canhão, já depois de se ter apropriado indevidamente da Crimeia. Esta
guerra tem um rosto deplorável: o de Putin. Trump junta-se a ele e incorre o
risco de ficar na História como o pior Presidente dos EUA, de sempre! Deus
proteja os norte-americanos e o mundo do presidente que elegeram.
Aos europeus, “Valete, Fratres”!
Slava Ukraine!
Nina M.