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sábado, 1 de março de 2025

Crónica de Maus Costumes 410

 

A dignidade não vestes fatos

            O meu filho, hoje, acusou-me de má-disposição e acusou Trump de ser o responsável pela reação mais epidérmica da mãe, que vociferou vários impropérios perante a inqualificável postura do norte-americano, no malfadado encontro que ficará nos anais da História.

Tem razão. Aquele “trinaranjus” tira-me do sério. Representa tudo o que mais desprezo. Doravante, não sei se mais algum chefe de estado aceitará conversar com o presidente americano de ânimo leve e sem fixar regras bem claras. Creio que não. Destacou-se do encontro, o extremo narcisismo, má-educação e pulhice de Trump e de JD Vance. Trump quis humilhar Zelensky, vê-lo de joelhos e forçá-lo a aceitar o acordo que a ele lhe interessaria… Vê-lo a lamber-lhe as botas e a agradecer-lhe humildemente, como sugeriu Vance a ajuda que os EUA lhe prestaram. O presidente ucraniano já o fez, em inúmeras ocasiões, mas não é ao Trump a quem ele tem de agradecer. Deve-o ao povo americano e ao seu antecessor, Joe Biden. Com a encenação que montou, sobretudo para consumo interno, Trump, talvez, quisesse mostrar ao seu eleitorado que Zelensky é um mal-agradecido e, como tal, pouco digno do auxílio que o país lhe tem vindo a prestar. O amricano deseja entregar a Ucrânia numa bandeja a Putin e, juntamente com este, esventrá-la, despojando-a dos seus recursos naturais, do quais se querem ambos apropriar. Zelensky não perdeu a compostura nem a dignidade, ao contrário de Donald, o pato… Enquanto esta figura se amesquinhava e mirrava tal o asco que consegue gerar, Zelensky, na sua dignidade, agigantava-se, porque a dignidade não veste fato nem usa um boné vermelho quase tão ridículo quanto o seu portador. Se dúvidas houvesse, neste encontro, ficaram dissipadas. O “trinaranjus” conhece apenas a cor do dinheiro e faz política como quem faz um negócio, sem atender a qualquer ética.

Chegou há pouco e já fartou o mundo com as suas vilanias. Espero que a Europa tenha entendido que durante, pelo menos, os próximos quatro anos, os EUA não são aliados de ninguém (exceto do Putin, enquanto lhes der jeito). Quando muito, poderão ser parceiros económicos, caso tenham interesse e que compete aos europeus traçar um caminho de união, um caminho próprio, sem demasiadas dependências aos mais variados níveis, incluindo a força bélica. Está na hora de a Europa olhar para si e para os seus interesses e de arranjar novas parcerias que lhe permitam defender os seus valores democráticos e a liberdade. Os EUA deixaram de ser esse baluarte e de ter essa bandeira. Há que aproveitar o conhecimento europeu. Por que razão não faz a UE a mineração na Ucrânia, ainda que seja necessário lançar a mão a outras parcerias? Trump quer combater o poder económico da China, que se assume como a verdadeira potência a seus olhos (a Rússia não lhe faz enjoo), mas estes comportamentos obrigam a Europa a olhar para outros possíveis aliados e a China não será de descartar, em termos de relações comerciais, para gerar os rendimentos necessários à produção própria em muitos setores que a Europa deixou adormecer.

 Trump pretende e pensa taxar os produtos europeus com uma tarifa de 25%, numa atitude protecionista da sua economia. Ora… Resta à Europa responder na mesma moeda. Tudo quanto seja marca americana exportada diretamente para cá, deverá ser igualmente taxada. O consumidor perde, mas é a única linguagem que o sujeito conhece. Por mim, não tenho nada da apple, não compro outro Ford nem escolho a Tesla, se tiver de mudar de carro, e em vez de Nike posso bem passar a usar Adidas. Comportamentos destes replicados pelos 449,2 milhões de pessoas que habitam na União Europeia, é capaz de fazer mossa.

Obrigatoriamente, a Europa terá de encontrar um novo caminho. Trump veio alterar a ordem mundial: não respeita tratados nem acordos, faz da NATO, da ONU e de outros organismos o seu quintal privado, com tiques de pedantismo. Alguns americanos elegeram um escarro presidente, que sonha com o Nobel da Paz para inflar o seu ego (tão gigante quanto as antigas Torres Gémeas) nem que o preço a pagar seja a capitulação de um povo barbaramente invadido. Acusa Zelensky de enviar os seus soldados à morte e de causar a destruição do seu país, mas não acusa o Putin do mesmo nem de usar carne norte-coreana para canhão, já depois de se ter apropriado indevidamente da Crimeia. Esta guerra tem um rosto deplorável: o de Putin. Trump junta-se a ele e incorre o risco de ficar na História como o pior Presidente dos EUA, de sempre! Deus proteja os norte-americanos e o mundo do presidente que elegeram.

Aos europeus, “Valete, Fratres”!

Slava Ukraine!

 

Nina M.