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sábado, 26 de outubro de 2024

Crónica de Maus Costumes 392

 

Memórias musicais

 

               Esta semana, não trago à cena nenhuma mulher que se tenha destacado na sociedade nem falarei dos incidentes da Cova da Moura, dos problemas sociais que afetam o bairro desde sempre, da criminalidade a ele associada, da morte infeliz do habitante, do homicídio perpetrado pelo agente, que acredito ter sido fruto de uma reação precipitada, no meio de acontecimentos que elevam terrivelmente os níveis de ansiedade. Há horas do Diabo e aquela foi uma delas…

Lamento pesarosamente os ferimentos do motorista do autocarro, que apenas fazia o seu trabalho, e ficará com marcas para a vida. Lamento a situação em que se encontra o agente, porque há erros que saem caros, mesmo que possam existir circunstâncias atenuantes… O inquérito apurará os factos. Com ou sem negligência, a sua carreira termina aqui. Lamento a morte de um ser humano, lamento a destruição e os danos causados a terceiros que ficam sem as suas viaturas e com prejuízos tremendos… Sabe Deus da vida de cada um, lamento pelos habitantes do bairro, por aquelas pessoas honestas e trabalhadoras que se veem a braços com esta violência e apenas querem paz. Indigno-me com o aproveitamento político que alguns abutres tentam retirar de toda esta infelicidade, sem pudor e com uma desfaçatez torpe… Mas não quero falar sobre isto…

Morreu Marco Paulo, um ícone da música ligeira portuguesa. Confesso nunca ter sido propriamente uma fã, mas também confesso que sei muitas das suas letras. O cantor era idolatrado por muitos portugueses e sabia ser grato por todo o carinho com que o tratavam. Lutou variadas vezes contra o cancro. Saiu vencedor nas anteriores, mas desta vez, o mal foi mais forte. Ao que parece, terá partido em paz, ao lado dos que amava.

O artista traz-me memórias de infância que explicam o motivo de saber de cor muitos trechos das suas letras, associadas a recordações felizes. Ouvir Marco Paulo significava passeata em família. Havia o carro onde a canalha se misturava. Neste caso, eu passava para o carro da minha madrinha e fazia a viagem com os meus primos… Eis que o pai deles, já era da praxe, sacava da cassete do marco Paulo e aquilo era música até enjoar… era a “Anita”, o “Ninguém, ninguém”, “os dois amores…” Quando acabava o lado B, era ejetar e pimba: lado A novamente!

E a viagem lá se ia fazendo com o pai dos rapazes a gabar a voz do Marco, a dizer que era o melhor cantor português e nós a desdenhar um pouco daquilo e a achar que era música para velhos… O problema era que no carro do meu pai não era melhor… Ou levávamos com o Fado do Frei Hermano da Câmara ou com a banda musical do Marco de Canaveses, onde o meu pai tinha sido músico… Certo é que não me lembro das letras do frei Hermano da Câmara… Ao contar isto aos meus filhos, a propósito da notícia do cantor, o Rodrigo sai-se com esta: “e olha que a banda não é assim tão má, porque eu também ouvi essa cassete toda… O avô punha-nos no carro a ouvir a banda, quando éramos pequenos!”

O meu filho com três anitos sabia as músicas do Padre Borga, porque a tia punha-lhe também a cassete e ele cantava aquilo tudo! Certa altura, na rua de Santa Catarina, ele cantava como se não houvesse amanhã! Sorte a dele que é afinado… Se saísse à mãe estaria desgraçado… Não me lembrei, na altura, de lhe colocar um chapeuzinho, porque os transeuntes riam-se à brava com ele!

Certo é que o Marco Paulo fará parte das memórias de muitos. Li um texto de Rui Couceiro, o editor da Lello e também escritor, autor do “Morro da Pena Ventosa”. Narrava a experiência de ter ido a um concerto do artista no Coliseu e o quanto se divertiu. Bem, eu nunca fui a um concerto do Marco, mas dizem os que foram que energia não lhe faltava e nem entrega ao seu público.

Goste-se ou não do estilo, certo é que Marco Paulo inscreveu o seu nome no panorama musical português e, na verdade, tinha uma voz inconfundível.

Descanse em Paz!

 

Nina M.

 

           

sábado, 19 de outubro de 2024

Crónica de Maus Costumes 391

 Mulher para lá do tempo

               Tenho vindo a falar, nas últimas crónicas, de mulheres que deixaram a sua marca. Hoje, Natália Correia andou a bailar na minha mente. Uma figura feminina incontornável da cultura e também da política portuguesa.

               Natália era açoriana, nasceu em Ponta Delgada, mas mudar-se-ia para Lisboa. Era uma intelectual que vivia para tudo o que toca o espírito: a beleza, o amor, a arte, de forma livre e torrencial. Uma mulher de paixões que não suportava a mediocridade e a mesquinhez, para quem a liberdade era o “valor mais estimável da vida”, por ser indispensável à criação e esta, o “corolário de uma existência”, palavras suas. Era absolutamente corajosa. Opunha-se, abertamente, ao regime bafiento de Salazar e viu a sua Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica censurada, por ofensa aos bons costumes. Provocadora, afirmava que o volume continha “a poesia maldita dos nossos poetas”. Os exemplares da primeira edição, com ilustrações de Cruzeiro Seixas, foram apreendidos ao cabo de três dias e a escritora, o editor e alguns dos poetas representados foram processados e condenados num julgamento que se arrastou ao longo de mais de seis anos e que terminou, de forma simbólica, com alguns exemplares a serem queimados. Os canalhas opressores sempre queimam os livros e não suportam a poesia, porquanto esta seja a expressão mais elevada da liberdade e da criação. Enquanto decorria o julgamento, as leituras clandestinas da antologia continuavam, já que o editor portuense, Ribeiro de Mello, tinha planeado uma reedição pirata, desde sempre, por prever, precisamente, a apreensão dos livros.

               Natália tinha a coragem de não deixar nada por dizer. Dona de uma verve e de uma presença encantatória, intimidava homens feitos com os seus remoques, fustigando-os com palavras caso lhe desagradassem. As pequenas e maldosas coisas e pessoas deixavam-na perdida, enquanto as grandiosas coisas e pessoas a galvanizavam. Era exuberante, audaz, um vulcão em erupção, como a própria diz “sou da ilha das línguas de fogo” e, portanto, é uma dessas existências raras desinteressada do mediatismo e das convenções sociais, destinada a tornar a vida mais bela e mais livre, para quem o bem é o belo e o mal, o feio.

               Um ser como Natália não passa modestamente pela vida… Despertava facilmente paixões e, segundo Maria de Santa Cruz, professora de Literatura, viu alguns jovens debaixo das mesas a beijarem-lhe os pés, apaixonados, no seu Botequim, criado em 1971. Este espaço tornou-se a sala de visitas da poetisa, onde ela declamava, cantava, acompanhada ao piano, e onde se conspirava e aspirava a um Portugal novo. Quem quisesse saber o que se passava em Portugal, teria de passar pelo Botequim, que acolhia enormes figuras da cultura e da política portuguesas, mas também estrangeira.

               Paradoxalmente, esta mulher extraordinária, rebelde, portadora de uma lucidez implacável, mas também caprichosa, que gostava de ocupar a cena e de ser ouvida, era a mesma mulher frágil que não conseguia dormir sozinha em casa, inconsequente, no que ao pragmatismo da vida diz respeito. Vivia numa bolha própria, presa às coisas do alto, sem se importar com as minudências da vida. Natália não cozinhava, não fazia contas, não sabia gerir uma vida… Após a morte de Alfredo Machado, com quem foi casada trinta anos, o terceiro dos seus maridos, de certa forma, uma figura paterna que “tomava conta dela”, acabou por ter de vender o Botequim. A indisciplinada e mordaz Natália foi também deputada da Assembleia da República, tantas vezes, em part-time, por não acordar a tempo das sessões da manhã. Facilmente se incorre na injustiça de fazer uma caricatura de Natália como a mulher de oratória fácil e inflamada, rebelde, sarcástica, exuberante, de figura voluptuosa e sempre de boquilha, pronta a largar um chiste, mas ela foi mais do que isso: uma intelectual corajosa, uma mulher inteligentíssima e frontal, sem medo de dizer o que pensava numa época cinzenta, moralista, assaz hipócrita, em que a liberdade, incluindo a de expressão, não era permitida - não teve pejo em erguer a voz contra o regime e, mais tarde, dizer que as expetativas do povo tinham sido goradas, o que desagradou a extrema-esquerda, nos tempos quentes do PREC. Ora, foi precisamente essa bandeira que Natália empunhou bem alto, antes e após 25 de abril, quer na sua poesia, que não se integra numa escola literária, quer nas suas posições políticas, porque nunca subjugou o seu pensamento ao partidarismo, quer na própria vida, por nunca ter vivido presa a convenções sociais e sempre ter feito o que a sua consciência e moral lhe ditavam. Como a própria explicou, a sua moral tem o seu fundamento na estética, desprezando a piedade pelo miserável arrependido. Não há bem nem mal, antes o nobre e o vil. O nobre faz o bem e este é belo, tal como o mal é feio. Acredito que, naquela época, a tivessem visto como uma libertina, porque a sua insubmissão, exuberância e liberdade seria uma ofensa para os que se deixam domesticar.

               Impossível não admirar Natália! Seguramente, uma mulher à frente do seu tempo.

 

Nina M.

              

 

           

 

 

 

           

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Poética

A poesia não se faz abstrata
Difusa, amorfa
Prolixa nos sentidos
A poesia é exata

A saudade é uma caixa vazia
Esquecida a um canto

A melancolia é um cão de olhos tristes
Após o ralhete do dono

A ira, a folha amarrotada
Por via do poema que não saiu

O amor... Ah o amor...
Limonada gelada em dia quente

A tristeza, lágrimas aflitas
A salgar o rosto

A angústia, nó no estômago
Por desatar

A alegria, sol e mar
Sobre a pele

O luto... O deserto
O nó, as lágrimas, o cão triste

A felicidade... A chuva
necessária que não caiu...



sábado, 12 de outubro de 2024

Crónica de Maus Costumes 390

 

Mulheres

            Han Kang, escritora sul-coreana, ganhou o Prémio Nobel da Literatura 2024. Caso para dizer que filha de peixe sabe nadar. O seu pai é também um reputado escritor. Nunca li nada de Han Kang nem me lembro de ter cruzado com os seus livros, apesar de haver traduções, em Portugal, de alguns deles. Elogiam-lhe a prosa poética e a capacidade de expor a fragilidade humana.

Dois anos depois de Annie Ernaux, o mais prestigiado galardão literário é entregue novamente a uma mulher. Motivo para celebrar. Olho para estes sinais, no mundo ocidental, e penso que possa ainda haver esperança, isto é, que possa servir de exemplo e de estímulo a outros locais onde a mulher ainda é tratada como um ser inferior, uma mercadoria que se compra e vende, que serve de moeda de troca, cujo corpo é usado e abusado conforme os apetites da boçalidade.

Ainda que na sociedade ocidental, ao longo dos tempos, principalmente desde o século XX, o papel da mulher se venha tornando preponderante, a verdadeira igualdade de género permanece por cumprir, para além de não convencer outras realidades e outras culturas a ter um olhar justo e um tratamento digno em relação às suas mulheres. De modo que, de cada vez que uma mulher se destaca, seja em que área for, é motivo de alegria e de apreço. Há quem olhe para a discriminação positiva como uma desigualdade, mas não passa de uma ideia falaciosa. Uma sociedade evoluída e justa entende que é importante trazer a mulher que revela competências para o centro de decisões. Tal como o general Eanes disse, não só é desejável, como também é necessário. Dever-se-á, por isso, atraí-las para certos setores da sociedade, como por exemplo, a política. Se tiver de se criar quotas específicas para a mulher, pois seja feito, até que se normalize a sua presença e ela possa ombrear com o homem nos cargos políticos. É necessário começar a mudança … Estes pequenos passos são sinais de uma eventual transformação. Espero que Kamala Harris possa vir a ser a presidente dos Estados Unidos da América (EUA). Uma mulher, ainda por cima, filha de pai jamaicano e mãe indiana, liderar uma potência mundial, seria um sinal e um exemplo para o mundo. Já houve uma Tatcher uma Merkel, mas estar à frente dos desígnios da Inglaterra ou da Alemanha, apesar da enorme importância, não tem a mesma carga simbólica que liderar os EUA.

O mundo precisa destes sinais. Portugal precisa destes exemplos. Em cinco décadas de democracia, Portugal apenas teve uma primeira-ministra: Maria de Lourdes Pintassilgo, em 1979. Depois disso, os números não enganam: em 41 anos (até 2015), 25 governos e 15 primeiros-ministros diferentes, foram nomeados para funções governativas 1609 homens e apenas 127 mulheres, 92,7% contra os parcos 7,3%. Depois de Lourdes Pintassilgo, Portugal só voltaria a ter uma mulher ministra, em 1985, quando Cavaco Silva nomeou Leonor Beleza para a pasta da saúde. Após abril de 74, foram feitas apenas 31 nomeações de mulheres para o cargo de ministra (as que frequentam a Assembleia são, na maioria, secretárias ou subsecretárias de estado), o que abre caminho a homens menos qualificados, permitindo que se instalem nos corredores do poder. Segundo o professor de Ciência Política, Michael Baum, há mais mulheres licenciadas e muitas têm doutoramento, logo, são altamente qualificadas, mas a sociedade portuguesa ainda é muito tradicional no que respeita aos papéis familiares.

Atualmente, em 2024, o governo apresenta 24 mulheres, em 59 membros, dez ministros e sete ministras, o terceiro Governo com mais mulheres na história da democracia. Mesmo assim, ficamos aquém do panorama mundial.

É uma questão cultural, como o professor Baum destacou, mas que é preciso combater e contrariar. Prende-se também, naturalmente, com os interesses da própria mulher, mas que me parece essencial uma mudança de paradigma, não tenho a menor dúvida. Plantemos a semente para que a vocação possa surgir.

Mães e pais, eduquem os vossos filhos na igualdade de género. Capacitem as vossas filhas de que tanto podem ser educadoras, médicas ou professoras quanto primeiras-ministras, astronautas ou presidentes da república. Os rapazes já sabem por natureza que podem aspirar ao que quiserem, pois, está na hora de as meninas pensarem da mesma forma. Fala quem se interessa por política, mas nunca sentiu o apelo por esses meandros. Olhai para o que eu digo e não para o que eu faço...

 

Nina M.

 

 

           

 

 

 

           

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Vida

Vida...
Fio de arame tenso
Quedas ao relento
Lâmina fina fria
Ensejo de voo
Piruetas na chuva
Sol posto de agosto
Nortadas...
Faísca faúlha centelha
Neblina
Cair, erguer, voltar a cair
Perecer esmagado, reerguer
Reconstruir
Dor e alegria
Amor e desamor
Sempre, enquanto dure...

Desistir, prosseguir
Busca infinita
Trapézio sem rede
Equilíbrio no arame
Até ao salto final
Enquanto a morte não vem...

sábado, 5 de outubro de 2024

Crónica de Maus Costumes 389

 Autor e obra

 

               Alice Ann Munro foi uma contista canadiana que venceu o Nobel da Literatura, no ano 2013. A escritora faleceu este ano, em maio, com 92 anos de idade e vinha a padecer de demência há dez anos.

            Munro foi distinguida pela qualidade das suas narrativas, destacando-se a capacidade de criar grandes histórias com o quotidiano. As suas personagens não são heróis ou heroínas invulgares, mas seres humanos com a suas vulnerabilidades, as suas lutas e os seus segredos. As suas narrativas surpreendem pela falta de linearidade temporal, com analepses e prolepses (recuos e avanços temporais). Era, muitas vezes comparada ao escritor russo Anton Tchekhov. Pessoalmente, não gosto destas comparações… Ninguém é o outro além de si mesmo. Munro deve ser conhecida por si, pelo seu trabalho e não porque o seus estilo lembra, de acordo com algumas opiniões, este ou aquele escritor. Qualquer escritor será, certamente, uma amálgama de influência da escrita alheia, as suas experiências e circunstâncias, o seu pensamento e a sua originalidade criativa.

A vida é sempre trágica e nem sempre bela. Sobre a fama de Munro, abateu-se a tragédia, quando a sua filha denunciou que tinha sido vítima de abuso sexual, quando tinha apenas 9 anos e ao longo do tempo, por parte do padastro, Gerald Fremlin, com quem a mãe se casara em segundas núpcias. Andrea, a filha de Munro, decidiu revelar a verdade ao mundo, alegando que este facto não podia ser omitido na biografia da mãe, apresentando queixa do ocorrido, em 2004. Andrea terá contado ao pai biológico, mas este nada revelou a Munro. Foi a própria filha, que 16 anos mais tarde, escreveu uma carta à mãe, em que lhe contava ter sido vítima de abuso desde a infância até à sua adolescência. Quando Munro confrontou o marido, este admitiu o sucedido, responsabilizando Andrea. A escritora ter-se-á separado do marido, durante uns tempos, mas voltou para ele, alegando o amor que lhe tinha. O caso acabou por ser julgado em tribunal e o pederasta declarou-se culpado e foi condenado, aos oitenta anos, a dois anos, em liberdade condicional.

A filha não terá perdoado a mãe pelo facto de esta ter protegido o seu malfeitor, por se ter comportado, nas palavras dela, como uma mulher traída, concentrando-se na própria dor, em vez de se centrar na proteção da própria filha, cortando os laços entre ambas. Apesar da gravidade do caso, não houve grande repercussão e o próprio biógrafo de Munro decidiu ocultar esta informação.

Evidentemente, a reação de Munro ao sucedido causa estranheza e alguma incompreensão. Seria Munro, emocionalmente, tão dependente que não conseguisse afastar-se do malfeitor que acabou com a inocência da filha? Pelos vistos, ter-lhe-á servido de inspiração para a narrativa “Vandals”. A opinião pública centra-se no comportamento de Munro, que escolheu ficar com o perpetrador, mas eu também questiono o papel do pai biológico, que sabendo o que se passava, até mais cedo do que a mãe, não agiu em conformidade…

Obviamente, a história é arrepiante. É impossível ficar indiferente ao sofrimento Andrea e não condenar a inação dos seus pais, no entanto, o comportamento reprovável não altera a qualidade dos escritos de Alice Munro.

Assim, é importante saber separar o autor da obra. O autor é e, certamente, Alice foi, tal como as suas personagens, um ser humano vulnerável, com as suas loucuras e os seus segredos, com uma vida vulgar como tantas outras, com a tragédia a que condição humana sempre está exposta.

Poderá ser difícil compreender como a escritora conseguiu perdoar o marido (para mim é), porque uma vez pederasta, para sempre pederasta, como foi que ela não sucumbiu ao nojo moral em relação à figura de Fremlin, mas não me compete julgar e, muito menos, boicotar a leitura da sua obra pela sua fraqueza e loucura.

Eu também terei as minhas. Cada um com as suas. Um dia destes, pego em Munro.

 

Nina M.