O futebol e
a vergonha
Não estava à espera de tratar este
tema na crónica semanal, mas mediante o sucedido, não posso deixar de o fazer.
Ontem, no estádio do Dragão, casa do clube pelo qual sou apaixonada, aconteceu
o impensável.
Começo por afirmar a minha total
repugnância pelos acontecimentos que marcaram o clássico de ontem. Também
espero que sejam tomadas todas as diligências e se apurem todos os factos, para
que o futebol português não perca a sua dignidade. Haja decência e ponha-se
cobro à vergonha. Custe o que custar e seja contra quem for. As imagens estão
gravadas, os “coletes azuis e laranjas” que agrediram os jogadores da equipa
adversária têm, naturalmente, de ser punidos. Não são bons profissionais, não
cumprem bem com as suas funções e deixam em causa o clube organizador do
evento. Esses funcionários não estão vinculados ao Futebol Clube do Porto.
Trabalham para uma empresa que presta serviço ao clube e este deve pedir,
naturalmente, um inquérito e o apuramento de todas as responsabilidades, para
poder atuar em conformidade. Dizer ainda que não me revejo na forma de
comunicação veiculada pelos órgãos de comunicação do Futebol Clube Porto, ao
tratar o adversário por “Sporting de Lisboa” e ao usar a expressão “dor de
corno”. Pode-se sempre defender o clube com educação e com elevação e ambas
falharam. Desconheço também o que se passou a seguir à conferência de imprensa
de Frederico Varandas. Não quero acreditar que o que o presidente do Sporting
afirma seja a verdade absoluta. Nenhum dos dirigentes do Porto necessitaria,
certamente, do seu telemóvel ou carteira. Espero que também aqui sejam apuradas
todas as responsabilidades. Se, eventualmente, se vier a provar que esses
factos são verdadeiros, creio que farão corar de vergonha uma grande parte dos
portistas. A reação a provocações não poderá justificar comportamentos inqualificáveis.
Dito isto, passemos a outros comportamentos e reações, porque no futebol
português, há mais pecadores do que santos.
A
confusão no final do jogo surge também por frustração da equipa leonina perante
o resultado final. Depois de estar a ganhar por dois golos e, sentindo-se
prejudicados pela expulsão do Coates, o que condicionou naturalmente toda a
estratégia de jogo, a emoção fica à flor da pele, tal como os jogadores do
Porto, que queriam alcançar a vitória. A segunda parte ficou marcada pelas
paragens e pelas inúmeras tentativas de enganar o árbitro, por parte de ambas
as equipas. Essas quezílias, joguinhos paralelos e manha de jogadores que
querem retirar vantagem seja de que modo for, só estragam o espetáculo. O
triste final do jogo é a explosão da pressão anterior e durante o jogo. Os
“stewards” não podiam nem deviam ter interferido no que se passava no retângulo
do jogo. Apurem-se as responsabilidades. A sua função é olhar para os adeptos,
não para os jogadores. Eles não precisam de defensores nem de guarda-costas.
Por último, lamento e condeno
veementemente o Frederico Varandas pelas palavras que teve no final do jogo.
Demonstrou falta de clarividência e já depois do que se tinha passado,
naturalmente, falou para colocar mais lenha na fogueira. Não é a primeira vez
que o senhor é absolutamente deselegante com o presidente Jorge Nuno Pinto da
Costa. Perante as declarações infelizes, o presidente do Futebol Clube do Porto
deveria mover-lhe um processo judicial. Afirmar que o jogo de ontem representam
quarenta anos do legado de Pinto da Costa, é insinuar que os “stewards” agiram com
autorização ou ordens do presidente. É inadmissível, é insultuoso e quem
profere tais barbaridades deve ter que o provar em tribunal, por atentar contra
o bom nome da instituição Futebol Clube do Porto, que será sempre maior que
qualquer Varandas ou Pinto da Costa. Os homens passam, mas a obra fica. Um
discurso inaceitável, cheio de ódio e promotor da violência, na casa do
adversário. A suposta coragem que o senhor acha que tem, não passa de uma falta
de respeito pela instituição onde foi jogar. Termina a declaração com quase um
“venham eles que não tememos ninguém” e “vimos cá em abril”, ou seja, em guerra
aberta com o clube, com o seu presidente e a sua massa associativa. Depois
destas palavras, certamente, não deve estar à espera de ser recebido com
elogios e abraços, no próximo encontro! É este tipo de gente que vem falar da
dignificação do futebol! A hipocrisia é tal que usa a metodologia de que acusa
o seu adversário, ainda que o presidente visado nem sequer se tenha ainda
manifestado! O doutor Varandas tem uma clara má vontade com o presidente do
Futebol Clube do Porto, mas terá que ter paciência, porque quando ele chegou, o
Pinto da Costa já por cá andava há muito. Espero que ele tenha a consciência de
que também ele contribuiu para o que o futebol tem de pior, espero que tenha a
consciência de que no seu clube não há impolutos, a começar por ele mesmo e
espero, francamente, que aprenda a respeitar os seus adversários.
De
qualquer modo, independentemente da sua atuação, o Futebol Clube do Porto será
sempre uma equipa combativa e que luta até ao último segundo, dentro do terreno
de jogo. Este é o ADN do clube. Nunca foi e nunca será fácil ganhar no palco que
é a sua casa. Acontece, às vezes, mas nunca por falta de empenho ou de vontade dos
nossos. Desejo que os ânimos possam serenar e que as batalhas se travem dentro das
quatro linhas, com lisura. Aprendam todos a ser mais honestos no jogo para facilitar
a vida ao árbitro. Por fim, quem está no banco, mantenha-se por lá.
Ontem,
apeteceu-me resolver a contenda à moda da minha mãe, quando via os seus três pintos
engalfinhados. Não havia cá razões nem meias razões, aquilo era dois bofetões a
cada um e serenavam-se os ânimos rapidamente. Amuavam os três cada um para o seu
canto e terminava o barulho. Também me senti injustiçada algumas vezes, mas ainda
cá ando e só se terão perdido as que caíram ao chão. Homessa!
Saudações portistas.
Nina M.
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