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sábado, 27 de novembro de 2021

Crónica de Maus Costumes 256

 

Leon Trotsky

            Acabou esta terça-feira a excelente série da RTP2, que me acompanhou ao longo de sete semanas e que retratou a vida do revolucionário judeu Liev Davidovich Bronstein, mais conhecido por Leon Trotsky, nome adotado do seu carcereiro.

            Como um bom livro, o final da série deixa um misto de satisfação e de lamento. O fim da série seria tão inevitável quanto o fim do homem, mas a excelente performance dos atores, a sua excelente caracterização e os diálogos improváveis e brilhantes fazem com que sinta pena pelo término. Espantou-me sobremaneira a semelhança física com os atores da vida real, conferindo verosimilhança à ficção.

            Conheci um Trotsky inteligentíssimo, manipulador, narcisista e absolutamente cruel e tirano. Um Lenine estratega, polido, igualmente inteligente, mas que cedeu à violência e a adotou em nome da vaidade, da vitória pessoal e de um partido. Um Estaline paciente, tirano, matreiro e assassino, capaz de aprender a crueldade e de a praticar avulso em nome do poder. Vi um politburo hipócrita, manipulador, apenas interessado no poder a qualquer preço e três homens capazes de se atraiçoarem mutuamente em nome da vaidade pessoal (todos sem exceção), do poder e, no caso de Trotsky, em nome do que ele consideraria um mundo ideal. Vi uns bastidores políticos sujos e sem moral, onde todos os meios usados são aceitáveis para se alcançar o que se pretende: a mentira, o domínio da imprensa e a imposição pelo terror. A crueldade absoluta e a indiferença pelo sangue dos compatriotas e dos próprios familiares, considerados meros danos colaterais em busca de um ideal maior. Porém, esse ideal revelou-se bem pequeno, porquanto impôs a violência inaceitável, a miséria e a fome em nome de uma igualdade que nunca existiu. Como dizia o professor universitário e filósofo, Illyin, a revolução bolchevique revelou-se a catástrofe mais terrível da história da Rússia, o colapso de todo o estado. E se o mundo anterior não era de todo perfeito, o novo mundo, criação trotskyana, impôs-se pelo medo e pelo terror, à custa de uma sangria desenfreada da população, votando o povo à miséria, onde sempre esteve mergulhado. Se o mundo velho não era perfeito, o novo mundo era bem pior e mais cruel. Como afirmava Gorki, o monstro estava criado e alimentava-se do sangue dos russos. A batalha estava ganha, mas a besta continuava a necessitar de sangue. São presos poetas, escritores e filósofos e, mais tarde deportados. Foi-lhes poupada a vida, apesar da revolução cortar muito facilmente gargantas. Senhores que dispunham da vida dos compatriotas como o jogador de xadrez dos seus peões. Sem clemência e sem humanidade, porque acreditava o mentor sanguinário da revolução, Leon Trotsky, que a nova ordem só poderia ser imposta pela força e que a grande vantagem em relação ao adversário seria a ausência completa de complacência e a crueldade total, de forma a subjugar toda a oposição, através do pânico. Estaline foi um bom aprendiz e continuou a obra de Leon, ainda que o mentor considerasse que ele era um monstro, porque não lhe interessava o ideal, mas apenas o seu poder, julgando-se diferente de Estaline. A verdade é que fosse em nome de um ideal ou de uma vaidade pessoal, o resultado foi semelhante: carnificina e miséria. O revoltado judeu, que queria transformar o mundo, conseguiu-o: mudou-o para pior. Quem com ferros mata com ferros morre. Depois da morte de Lenine (a quem puxou o tapete por diversas vezes), Leon Trotsky perde o apoio do politburo. São usados contra ele os seus métodos e, depois de uma campanha insidiosa e difamatória, hoje, vugo fake news, é julgado por traição à pátria e condenado ao exílio. Termina os seus dias no México, mas sabia que Estaline preparava o seu desaparecimento, como fez com tantos outros. É assassinado à picareta, em 1940, pelo espanhol Ramon Mercader, provavelmente contratado por Estaline. O espanhol nunca o confirmou, mas após cumprir a pena de 20 anos de prisão, foi recebido na Rússia com honras de estado.

            Revolveu-se o meu estômago várias vezes. Tremeram as entranhas perante a monstruosidade e a ideia de se querer uma nova ordem imposta pelo terror. Um novo mundo criado à medida de um lunático narcisista que se comportava como se fosse o deus Júpiter, senhor do destino dos seus súbditos. Se a História da Rússia, no tempo do czar é de pobreza, de injustiça e de desigualdade, a Rússia da revolução é um país chacinado, mortificado, miserável, absolutamente tirano e cruel. Não vi qualquer melhoria. Esta é a história da esquerda radical, do socialismo marxista, vulgo comunismo, que se queria impor ao mundo, quer este quisesse ou não esse ideal. Vende a ideia de que pretende a justiça e a igualdade e é gerador de morte, de tortura e de miséria.

Não reconhecer a génese destas ditaduras (algumas ainda vigoram como bem sabemos) é branquear a História e comprometer os regimes democráticos. São regimes tão perniciosos quanto os regimes fascistas de Hitler, Mussolini, Franco e Salazar.

Ouçamos Aristóteles, já que é na temperança que reside a virtude e o bem e, sobretudo, fujamos de falsos profetas. Ninguém tem o direito de julgar saber o que cabe melhor a todos os outros e de querer moldar o mundo à nossa imagem, principalmente, se ela for desprezível. De boas intenções anda o inferno cheio.

 

Nina M.

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