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sábado, 13 de novembro de 2021

Crónica de Maus Costumes 254

 

O marialva

Em jeito de brincadeira, por estes dias, usei o adjetivo marialva, bem português, aliás, com o sentido pejorativo que lhe é associado. Dito assim, é referente ao homem sedutor, aquele que gosta de namoriscar com mais do que uma mulher (não vou ser politicamente correta nem inclusiva. Essa novilíngua deixa-me louca!) O epíteto marialva refere-se ao homem (ser que exibe protuberância genital externa) que gosta de mulheres e que por ter um coração gigantesco, gosta de várias em simultâneo.

Ora, eis que me pus a cismar na palavra, que é usada em múltiplos contextos. Desde logo, Marialva é uma das aldeias históricas de Portugal, localizada, no concelho de Mêda. Foi habitada por romanos e árabes. Há quem diga que o seu nome remonta à época da Reconquista Cristã, em que Fernando Magno a toma aos Mouros e, em honra a Nossa senhora, (Maria Alba), batiza-a assim. Mais tarde, D. Afonso Henriques incentivará o seu repovoamento, concedendo-lhe Carta de Foral, D. Sancho I reabilita-lhe o castelo e D. Afonso II confirma-lhe o Foral. Ao longo dos séculos, do alto do seu castelo altaneiro, Marialva contempla os diversos tempos difíceis. Toma partido do Mestre de Avis, na crise de 1383-85, mas é na Guerra da Restauração, após a Batalha da Linha de Elvas, que o nome da povoação passa a ser carregado por D. António Luís de Meneses, conde de Cantanhede, agraciado mais tarde, como Marquês da Vila de Marialva, pelos préstimos nesta batalha. O Marquês tinha tido também participação ativa no movimento dos quarenta conjurados, que conduziria à Restauração da Independência Portuguesa. Mais tarde, venceria a Batalha de Montes Claros. Desta forma, o título passa a ser associado ao nobre cavaleiro, figura da mais ilustre nobreza portuguesa, com um papel decisivo na arte equestre, em Portugal, apelidada de arte de Marialva.

Hoje, no dicionário Priberam, encontramos a definição de marialva como: relativo às regras de cavalgar à gineta; feito segundo o modo de trajar do marquês de Marialva; Sedutor; conquistador de mulheres; aquele que, sendo de boa família, só convivia com fadistas e outra gente considerada desprezível.

            Não sei se os Marqueses de Marialva faziam jus à fama de sedutores, mas que deixaram o epíteto aos vindouros, isso é inegável. O que não falta por aí são marialvas de pé de chinelo, sem aristocracia nem ginete, mas que gostam de pendurar o cântaro em tudo quanto é galho a ver se alguém os recolhe. Não os censuro, se a dona do cântaro o decidir recolher é porque assim quis, mas talvez valesse a pena clarificar se o cântaro é apenas um empréstimo ou uma dádiva… Poupar-se-iam alguns desgostos e aborrecimentos. No mínimo, ó marialvas contemporâneos, se não sois absolutamente esclarecedores nas vossas reais intenções, sob pena do cântaro se partir, fazei uma coisa: antes de vos acomodardes em leito alheio, como viestes ao mundo, não vos esqueçais da meiazita… Um marialva de meia… Huuuumm… É algo que me custa a imaginar… Brancas e puxadas até ao meio da perna, conforme se veem nos jovens, muito menos!

Que os deuses poupem as mulheres sedentas de água dessa visão!

Nina M.

 

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