Absurdos...
Nada me parece tão absurdo quanto as cerimoniosas instruções fornecidas pelos assistentes de bordo.
Penso sempre o mesmo, quando entro num avião. Não sinto medo de voar, mas há cada vez mais um ligeiro incómodo... Certo é que os funcionários, sempre atenciosos e simpáticos, desfazem-se em gestos a indicar as portas de emergência, duas à frente e duas atrás... Se houvesse problemas, no ar, elas não dariam jeito nenhum... É vê-los a apertar cintos e puxar das máscaras de oxigénio e a informar que em caso de despressurização, primeiro colocam os adultos as máscaras e só depois as crianças. Tem lógica, obviamente... Com as máscaras posso eu bem, mas quando chega o colete, não evito um sorriso sardónico e só me lembro da pergunta do Rodrigo, em certo voo:
- ó mãe, então, não era melhor haver um paraquedas do que um colete? O colete só dá para o caso do avião cair no mar... Respondo-lhe que não se preocupe, que vai tudo correr bem. Ele olha-me sério.
- E se não correr? - pergunta.
Não minto e calmamente respondo que provavelmente morreríamos todos, mas que não pense nisso...
E cismo que, de facto, todas aquelas instruções serviriam de pouco e que gosto da ideia do paraquedas, ainda que não soubesse utilizá-lo. Enfio os olhos e a mente no Saramago, que me desvenda segredos do Luís Vaz, o nosso Camões, e também eu o vejo a acrescentar a dedicatória aos Lusíadas, a escrever na sua casa de Lisboa, enquanto aguarda o reconhecimento e o beneplácito régio. Tudo política e equilíbrio de forças, como lhe explica Damião de Góis, para granjear a simpatia de el-rei e o assentimento da Inquisição. Um país que apodrece no desgoverno e que não reconhece a genialidade do poeta. O Saramago sentiria o mesmo, séculos mais tarde, e sem Inquisição.
Serve a viagem a leitura e o conhecimento. Decorre tranquilamente, tal como é necessário. Volta-se à terra e de pés bem assentes no chão, inicia-se a descoberta.
Nina M.
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